Correio da Cidadania

Ilha Comprida, a execução de Marielle e as conexões com os conflitos e interesses fundiários

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Ato contra a verticalização de Ilha Comprida | Quilombo Invisível
Após 2.202 dias de espera, o desfecho da execução brutal de Marielle Franco e Anderson Gomes trouxe um alívio, porém, o desdobramento do caso revela conexões profundas com interesses imobiliários e a disputa pelo domínio territorial. O parlamentar apontado como mandante do crime não era apenas um político corrupto, mas também um conhecido grileiro de terras, cujos empreendimentos ilegais dependiam da manipulação de leis municipais para prosperar. A presença de Marielle Franco, uma voz incansável contra essas práticas nefastas, representava uma ameaça aos planos do criminoso.

Paralelos com a situação em Ilha Comprida

A situação em Ilha Comprida ecoa os mesmos padrões, com indícios de corrupção e abuso de poder, o que precisa ser averiguado pelo Ministério Público. A alteração repetida da legislação de obras da cidade, feita em benefício de empreendimentos ligados aos círculos do prefeito, tendo uma das partes mais de 160 processos no período em que estava no governo de Foz do Iguaçu, revela uma prática arraigada ao longo de várias gestões municipais.

O prefeito atual se destaca pela audácia de colocar seus interesses pessoais acima do bem-estar da comunidade, arriscando-se a consequências severas. Essa relação de um ente público no exercício de sua atividade é no mínimo suspeita e moralmente refutável, principalmente por falta de transparência sobre o que obteve de benefícios pessoais, pois já sabemos que o município nada tem a ganhar. Tudo isso são indícios de uma trama mais ampla, onde o lucro privado prevalece sobre o interesse público.

Impactos da verticalização

A verticalização proposta em Ilha Comprida não é apenas uma questão urbanística, mas também uma ameaça ao meio ambiente e à qualidade de vida da população local. Os impactos ambientais são inegáveis, com evidências de danos diretos à fauna e flora da região, incluindo espécies ameaçadas de extinção.

Além disso, a economia local enfrentará desafios significativos, com a saturação do mercado imobiliário e um aumento populacional não acompanhado pela infraestrutura necessária, como serviços de saúde e educação. A falta de planejamento e a priorização de interesses privados sobre o bem comum só intensificam a vulnerabilidade da população e a degradação do ambiente.

A semelhança vai um pouco mais além

Um grupo grande de moradores resolveu realizar uma manifestação na frente do Fórum em Iguape. A manifestação pacífica ocorreu de forma totalmente ordeira, mas um fato tirou o sossego de alguns manifestantes.

No RJ, vimos a participação de agentes da segurança pública e milicianos envolvidos no assassinato de Marielle. Prova de que ali, política e crime organizado seguem de mãos dadas.

Aqui, a manifestação fora acompanhada de perto por um sedan preto, vidros filmados, impossibilitando identificar quem estava no interior do veículo. Fora esse veículo misterioso, havia a presença de um contingente policial atípico para região.

Tais fatos colaboraram para que zerasse o número de manifestações públicas e silenciar quem é contra o empreendimento.

Perspectivas futuras e necessidade de mudança

À medida que o Brasil e o mundo absorvem as repercussões do desfecho do caso Marielle Franco, é essencial que essas tragédias não sejam esquecidas ou aceitas como inevitáveis. A luta contra a corrupção, o crime organizado e a destruição ambiental deve ser contínua e incansável. É necessário um chamado à ação cívica e institucional para promover uma governança transparente e responsável, que coloque o interesse público acima de interesses particulares.

É alarmante observar que, em Ilha Comprida, ao longo dos oito governos municipais, várias contas foram indicadas para desaprovação pelo Tribunal de Contas. Essa realidade lança luz sobre a gravidade da situação e a falta de prestação de contas efetiva à população. Apesar disso, os "nobres" vereadores aprovaram todas, com exceção de uma, cujas irregularidades eram tão evidentes que a aprovação seria impossível sem comprometer a própria integridade. Essa exceção acabou tornando inelegível um dos ex-prefeitos, evidenciando a gravidade dos desmandos e a necessidade urgente de uma mudança estrutural na gestão pública local.

A continuidade desse ciclo de impunidade e corrupção apenas reforça a importância de uma mobilização popular e uma renovação profunda na esfera política de Ilha Comprida. Somente com uma mudança sistêmica e um compromisso renovado com a justiça social e ambiental, podemos honrar a memória de Marielle Franco e construir um futuro mais justo e sustentável para todos em Ilha Comprida.

Marcus Pontes Caduti é pescador artesanal em Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo.

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