Correio da Cidadania

Guatemala recorda 70 anos da intervenção ianque e se solidariza com a resistência palestina


Raul Najera, da organização Filhos e Filhas pela Identidade e a Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio, comanda a mobilização na capital guatemalteca (HIJOS)

Após uma semana de concertos e exposições, o povo guatemalteco encerrou com festiva marcha nas ruas da capital mais um período de homenagens ao presidente Jacobo Árbenz, deposto em 27 de junho de 1954 por um golpe da CIA para defender os interesses da United Fruit Corporation (UFCO), a Frutera.

Recordando a covardia dos mercenários que tomaram de assalto o governo, os manifestantes denunciaram no último domingo (30) a abertura de um ciclo de terrorismo de Estado que custou ao país centro-americano mais de 250 mil mortos e desaparecidos, e traçaram um paralelo com o genocídio praticado por Israel na Palestina.

“Precisamos lembrar que foi o Estado de Israel quem assessorou o exército da Guatemala para militarizar, praticar os grandes massacres e erguer campos de concentração nas comunidades maias”, afirmou Raul Najera, da organização Filhos e Filhas pela Identidade e a Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio (HIJOS).

Raul Najera frisou que a Comissão para o Esclarecimento Histórico, apoiada pelas Nações Unidas, ressaltou que entre 1981 e 1983 o Estado da Guatemala cometeu atos de genocídio contra cinco comunidades maias, entre elas o povo Ixil. Após quatro décadas de silêncio, frisou, esta comunidade está sendo ouvida pela Justiça: 256 pessoas testemunham, das quais 174 são mulheres sobreviventes de violência sexual.

Entre as entidades de apoio encontra-se o Escritório de Direitos Humanos do Arcebispado (Odhag), que continuou o trabalho de “esclarecimento da verdade” iniciado pelo bispo Juan José Gerardi, brutalmente assassinado na noite de 26 de abril de 1998, dois dias após ter apresentado o informe “Guatemala Nunca Mais”. O crânio de Gerardi foi destroçado e seu rosto ficou completamente irreconhecível, sendo identificado somente por meio do anel episcopal? Seu crime? Ter contribuído para a investigação e a comprovação de parte das centenas de milhares de crimes durante o período ditatorial.

“Intervenção mercenária impediu o fortalecimento da democracia e iniciou o período de retrocesso”

Numa quinta-feira, 27 de junho, entrevistamos na Casa da Memória o jornalista, escritor e defensor dos direitos humanos Factor Méndez, onde assinalou que “foi a intervenção mercenária quem impediu o fortalecimento da democracia e iniciou o período de retrocesso no país”.