Correio da Cidadania

A democracia venezuelana ficou gravemente ferida e teatrinho eleitoral prossegue

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Nicolas Maduro e Elvis Amoro | Federico Parra, AFP

A democracia venezuelana ficou gravemente ferida depois que o crime organizado na cúpula do PSUV a ameaçou de morte no último domingo, 28 de junho, quando o sicário eleitoral madurista Elvis Amoroso lhe desferiu uma punhalada mortal, deixando-a gravemente ferida, agonizante, e a enviou para a unidade de cuidados intensivos com poucas chances de sobreviver à atual crise política. Nessa crise, Nicolás Maduro e seu governo neoliberal constituem o epicentro de um movimento sísmico que abala as frágeis bases da democracia venezuelana. Uma vez cumprida a fase eleitoral do plano teatral para a "reeleição" de Nicolás Maduro, iniciou-se a segunda fase do plano madurista, com a judicialização das inconsistências eleitorais do CNE e a criminalização do protesto política, plenamente justificada nas ruas.

Materializou-se completamente, com todos os detalhes, o "teatrinho eleitoral", com o resultado anunciado da fraude eleitoral do governo contra a vontade popular. Havíamos denunciado isso publicamente em ocasiões anteriores, com argumentos políticos sólidos, por aqueles que em Carabobo mantivemos inalterada até o fim a posição política da Abstenção, com o propósito tático de isolar e enfraquecer Nicolás Maduro, obrigando-o a convocar eleições livres, com garantias democráticas e pluralidade participativa de todos os fatores políticos e independentes do país.

Isso não foi possível compreender para os aspirantes a candidatos naquele momento e, mesmo sabendo o que potencialmente aconteceria, aceitaram as condições impostas pelo madurismo, cientes da fraude montada pelo governo. Recebemos como resposta de alguns porta-vozes da ingenuidade variada que, segundo eles, "votando em massa, Maduro não teria possibilidade de fraudar", mas a realidade política demonstrou o contrário, pois mesmo assim fraudaram, e a avalanche de votos não os deteve porque a armadilha estava montada.

Com esse fato insólito de selvageria política contra a democracia e a vontade popular, Maduro e o madurismo se transformam em uma tirania ou ditadura, levando em conta que ainda restam cinco meses do atual período presidencial. No entanto, se persistirem na ideia de continuar no poder pela força, em meio à profunda crise política, sem apoio popular e com o sol às suas costas, negando a perspectiva de negociar a paz e uma saída política honrosa ou, em seu defeito, convocar novas eleições livres e democráticas, com um novo CNE, transparente e confiável, a partir de 10 de janeiro de 2025 passarão a ser uma ditadura por estarem deslegitimados e serem produto da fraude eleitoral de 28 de junho.

A fraude já estava anunciada pelo governo, todos os candidatos participantes sabiam disso e mentiram ao seu eleitorado, dizendo-lhes que removeriam Nicolás Maduro com votos, mas a verdade verdadeira é que não foi assim, foram enganados e agora não sabem qual desfecho nos aguarda. Enquanto isso, o povo continua colocando o sacrifício político e a pele para os canhões dos corpos repressivos da tirania e dos bandos armados mal chamados de "coletivos", mas as elites, como sempre, disputam o poder para si e depois terminam aplicando a receita neoliberal contra o mesmo povo que utilizaram em sua boa fé. No fim, não haverá diferenças entre os interesses de classe da oligarquia; em outras palavras, a burguesia exploradora coloca os candidatos e o programa neoliberal, e o povo coloca os votos, o sacrifício e a pele para defender as cúpulas que, ao final, são as que cobram, enquanto o povo trabalhador seguirá esperando. Esse é o esquema político com o qual precisamos romper de uma vez por todas nesta oportunidade, com o povo organizado e unido por um único objetivo: o poder.

Nicolás Maduro e seu entorno do PSUV escolheram o pior dos caminhos, sua ambição de poder não tem limites, porque, além disso, estão comprometidos até o pescoço. Por isso, preferiram pagar o mais alto preço perante a história, e esses tipos decidiram apostar tudo para não entregar o poder, sabendo dos riscos e desafios que enfrentarão antes de serem lançados ao lixo da história. O certo é que ficou muito claro que os candidatos opositores e seus comandos políticos de campanha, assim como outros intelectuais do círculo acadêmico de opinólogos clássicos, decepcionaram Sun Tzu. Ao que parece, pouco conheciam Maduro e companhia, do que são capazes para manter o poder. Foi um erro político pensar que no Palácio de Miraflores estavam entretidos brincando de carrinhos as eleições presidenciais seriam um processo normal, sem maiores dificuldades eleitorais, quando já eram conhecidas várias irregularidades observadas por violação dos direitos políticos dos cidadãos, da liberdade, da participação democrática e do respeito à vontade popular do soberano. Isso somado às ameaças do candidato-presidente de ganhar na marra e derramar sangue se necessário. Agora, ali estão os resultados "matemáticos" de Amoroso, complementados com a judicialização eleitoral do TSJ contra a democracia e a vontade popular.

Sem dúvida, estamos diante da covardia reacionária da elite madurista colapsada em sua própria desgraça histórica, uma cúpula que traiu e desperdiçou a oportunidade herdada, refugiando-se nas misérias do poder para desfrutá-lo em sua decadência política inútil, que já não produz bem-estar nem soma felicidade; um governo que fracassou uma e outra vez, que teve muito poder, muito dinheiro, mas pouca iniciativa para construir algo, tiveram a falsa narrativa do discurso para o engano midiático com muito poucas realizações sociais e desenvolvimento econômico; um governo que se autoprivatizou e transferiu as funções do Estado à burguesia apátrida; que abandonou o projeto histórico fazendo tudo fora da constituição, perdeu sua conexão afetiva com o povo e se dedicou ao banditismo político e à corrupção.

Uma elite dirigente (PSUV) que, longe de produzir mudanças e transformações em direção ao desenvolvimento humano sustentável com bem-estar social e econômico para o povo, se transformou em novos ricos e foram para a direita neoliberal, desprestigiando o progressismo socialista e bolivariano com um discurso falso e, na prática, um resultado neocolonial, contrarrevolucionário e fascista.

Agora, estão inexoravelmente derrotados política e eleitoralmente com um embate judicial e digital para desconhecer a vontade popular, arrebatando num golpe selvagem o ditame do soberano que, em maioria determinante, votou para mudar o desgastado mau governo madurista, responsável por modelar na última década um sistema econômico neoliberal contra o povo trabalhador venezuelano.

Aguedo Alcalá Machiz é ativista político socialista e vive no estado venezuelano de Carabobo.
Fonte: Aporrea
Traduzido por Gabriel Brito, editor do Correio da Cidadania.

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