Correio da Cidadania

A Amazônia diante do colapso

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LA AMAZONIA FRENTE AL COLAPSO
Rio Beni, que recorta o departamento de Tarija e é afluente do Rio Madeira na bacia amazônica, próximo à cidade de Rurrenabaque.

O colapso amazônico é iminente. Não é exagero, embora não se deva pensar em uma catástrofe onde, de um dia para o outro, a floresta desaparece para ser substituída por desertos. Será, ao contrário, um processo mais lento, onde um impacto se encadeia com uma transformação do ambiente, e este, por sua vez, com outros e mais outros, até que se tornem irreversíveis.

Nessas condições, não haverá volta. De nada servirão as ações de remediação ecológica nem de conservação da biodiversidade. As áreas de floresta se reduzirão, ficando confinadas a serem ilhas cercadas por ambientes mais secos, com muito menos árvores, semelhantes ao Cerrado no Brasil ou ao sul da Bolívia. Os rios emagrecerão e as secas se repetirão.

Isso não será repentino, pois esse encadeamento levará seu tempo. Mas, de qualquer forma, é muito rápido nas escalas de tempo ecológico, tão rápido que uma geração de habitantes amazônicos o verá e o sofrerá. Sua irreversibilidade o qualifica como colapso.

Atualmente, estamos às portas dessa condição, e isso faz com que as decisões tomadas hoje sejam as que poderiam evitar esse colapso ou, pelo contrário, permiti-lo.

Essa situação é analisada com mais detalhes no livro "Amazonia. Transiciones y alternativas antes del colapso", realizado pelo CEDIB e pela editora La Libre, de Cochabamba, que acabei de apresentar na Bolívia, em encontros sucessivos em Cochabamba, na Feira Internacional do Livro de La Paz e, finalmente, em Rurrenabaque.

Seguindo essa preocupação, a nova conjuntura amazônica é analisada em vários aspectos. Por um lado, a configuração de territorialidades que servem para a exploração de recursos naturais que, direta ou indiretamente, estão orientados às exportações globais. Por outro lado, as novas circunstâncias políticas, desde a situação frágil do Tratado de Cooperação Amazônica e sua secretaria, passando pelo discurso de abandono do extrativismo do governo de Gustavo Petro, na Colômbia, até as agendas extrativistas, por exemplo, no Peru.

Ao longo das últimas décadas, tentou-se resolver os problemas amazônicos recorrendo a medidas muito conhecidas, como aumentar a cobertura das áreas protegidas ou promover algum tipo de agricultura para melhorar a renda econômica das comunidades. Mas quase todas essas ações estão baseadas nos preceitos básicos do desenvolvimento convencional, como garantir o crescimento econômico, considerar a natureza como uma cesta de recursos a ser explorada ou supor que haverá tecnologias milagrosas que anularão os impactos ambientais. Portanto, não se impedem as atividades que destroem a Amazônia, mas sim se promovem.


Apresentação do livro na Feira Internacional do Livro em La Paz (Bolívia), junto à senadora Cecilia Requena e Diego Pacheco, da Vice-Presidência da Bolívia; mesa moderada por Oscar Campanini, do CEDIB.

O risco do colapso iminente é uma prova estrondosa da incapacidade das ideias de desenvolvimento resolverem os impactos sociais e ambientais que elas mesmas geram. As medidas de resolução, amortecimento ou remediação são ineficazes para evitar essa queda. Em outras palavras, as estratégias convencionais que dependem da extração e exportação de recursos naturais, e suas manifestações concretas, como a mineração de ouro aluvial, os campos petrolíferos ou o avanço da agricultura química, têm impactos sociais e ambientais inevitáveis. Ao se repetirem, nos aproximam, dia a dia, do colapso.

Devem ser os próprios amazônicos que devem nutrir, com elementos concretos, as alternativas para evitar esse colapso. No entanto, as ideias recém-resumidas indicam que o horizonte de mudança deve, necessariamente, deixar para trás as ideias do desenvolvimento convencional. No livro, argumenta-se justamente isso, sublinhando-se a urgência dessa tarefa. A Amazônia não dispõe de tempo para repetir reformas; é necessária uma mudança substancial de rumo.

Essa tarefa não é simples, pois impõe quebrar os mitos associados às ideias de desenvolvimento, que de uma forma ou de outra permeiam todos os nossos países, inclusive as localidades amazônicas. Assumir que ainda há muita floresta disponível é uma irresponsabilidade. Acreditar que esse diagnóstico é exagerado é um erro que não resolve as causas dos problemas.

São necessárias, o quanto antes, alternativas que não estejam atadas às velhas ideias e sensibilidades. Nessas florestas também estão as inspirações e os exemplos de como organizar a vida e as relações com o ambiente de outras maneiras, ajustadas aos tempos e contextos amazônicos e focadas na proteção da vida, tanto das pessoas quanto da natureza.

O livro pode ser comprado em formato físico ou digital na La Libre – aqui.

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