Correio da Cidadania

EUA: terminar o mandato sem aprofundar a crise da política exterior

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Kamala e Trump têm desacordo sobre data do debate presidencial – Mundo –  CartaCapital
O maior pleito do país encerra-se em pouco tempo; no seu princípio, a campanha assemelhou-se a roteiro delineado de seriado político contemporâneo, ao registrar tiros ao controvertido aspirante da oposição e ao assinalar a desistência da disputa, não do cargo, do titular da Casa Branca. Enfim, uma história surpreendente para cada fase da renhida disputa.

No entanto, o movimento inesperado e também irrefreável nos últimos dias originou-se não de ações humanas, porém da natureza. A partir disso, parte do sul do território norte-americano seria bastante afetada, ao iniciar a incursão com o furacão Helena; a próxima viria com o Milton. Com eles, três estados seriam bem devastados.

Com o propósito de demonstrar solidariedade às populações locais, Joe Biden viajou à Flórida ao passo que Kamala Harris à Carolina do Norte. Deslocaram-se ambos depois dos comentários desairosos e outrossim desalinhados da realidade de Donald Trump, ao mencionar a atuação do governo federal diante da catástrofe.

Segundo a afirmação equivocada do postulante republicano, Washington teria empregado a verba destinada de início à rubrica de cataclismos naturais à de imigrantes. A reconstrução da região atingida só se completará na futura gestão, ao enlaçar os três níveis do Executivo.

No plano exterior, a situação é muito mais turbulenta por não depender apenas da vontade política da Casa Branca ou ainda de entendimento do restrito Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Todavia, em decorrência da aproximação da votação, 5 de novembro, as duas candidaturas concentram-se em tópicos relacionados com o cotidiano da população. Assim, afora o pesado impacto das recentes calamidades no sul, ambos apresentam à sociedade suas respostas a temas complexos como imigração, empregos, segurança e saúde pública.

Malgrado a atenção das campanhas ao interno, duas antigas sérias questões continuam a atormentar as derradeiras semanas do atual gabinete democrata, por coincidência avolumadas no mandato, ao evoluir de divergências diplomáticas para confronto bélico, como é o caso da contenda entre Rússia, agressora, e Ucrânia, ou do alargamento da utilização de força como é o do enfrentamento de Israel contra Palestina, Irã e agora Líbano.

Em visita à Alemanha, onde seria condecorado com a grã-cruz de classe especial, Joe Biden aproveitaria, em certa altura, para reiterar o padrão da aliança norte-atlântica contra a Rússia, ou seja, manter o fornecimento de dinheiro e de armamentos sofisticados à Ucrânia para fins prioritariamente defensivos, apesar da contrariedade de Volodymyr Zelensky com o condicionante - https://www.whitehouse.gov/briefing-room/speeches-remarks/2024/10/18/remarks-by-president-biden-and-president-frank-walter-steinmeier-of-germany-at-an-order-of-merit-ceremony-berlin-germany/.

Apesar de compreender a insatisfação de Kiev, Washington e Berlim têm de acautelar-se a fim de que Moscou não se irrite ao extremo com a parceria de sua inimiga e passe a interpretá-la como caminho para nova confrontação: a com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, detentora como ela de incomensurável estoque de bombas atômicas. A poucas semanas do encerramento de seu quatriênio, o presidente não deve ou antes não pode blefar de modo algum.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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