Correio da Cidadania

Genocídio em Gaza dobra o número de mulheres mortas em guerras no mundo

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Mãe palestina com seu bebê no Hospital Al-Shifa antes do início da atual fase do genocídio. (Foto: Getty Images)

A proporção de mulheres mortas em conflitos armados dobrou em 2023, representando 40% de todas as mortes em guerras, de acordo com um relatório das Nações Unidas divulgado na quarta-feira (23).

O relatório anual da ONU sobre mulheres, paz e segurança também mostrou um aumento de 50% nos casos de violência sexual relacionada a conflitos. Em 2023, foram registradas pelo menos 33.443 mortes de civis em conflitos armados, um aumento de 72% em relação ao ano anterior. O número de mulheres e crianças mortas dobrou e triplicou, respectivamente.

A maior parte das mortes civis (70%) ocorreu no território palestino ocupado por “israel”, uma vez que o genocídio tornou a área a mais letal para civis em 2023.

Genocídio e feminicídio em Gaza

Mulheres em zonas de guerra, especialmente em Gaza, enfrentam restrições severas ao acesso a cuidados de saúde, destaca o relatório. Dados da ONU revelam que aproximadamente 500 mulheres e meninas em países afetados por conflitos morreram todos os dias devido a complicações relacionadas à gravidez e ao parto.

Em Gaza, por volta de 180 mulheres deram à luz diariamente em 2023, a maioria sem acesso aos cuidados médicos e insumos essenciais. A escassez de eletricidade e medicamentos, aliada ao colapso das infraestruturas de saúde, agravou as condições já precárias para gestantes e recém-nascidos.

De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério de Saúde de Gaza, cerca de 70% das mais de 42.000 mortes oficiais (sem contar a morte certa de 10.000 pessoas sob escombros) são de mulheres e crianças.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos apontou que, até o final de abril deste ano, as mulheres, sozinhas, representavam cerca de 28% das vítimas fatais do genocídio sionista em Gaza, também sem contar as presas nos escombros (dos quais ao menos metade seriam mulheres ou crianças, segundo os especialistas da ONU). Nos cálculos desses mesmos especialistas, morrem 63 mulheres por dia em Gaza, incluindo 37 mães.

“O tratamento de mulheres grávidas e lactantes continua sendo alarmante, com o bombardeio direto de hospitais e a negação deliberada de acesso a instalações de saúde por atiradores israelenses, além da falta de leitos e recursos médicos, colocando aproximadamente 50.000 mulheres palestinas grávidas e 20.000 recém-nascidos em um risco inimaginável. Mais de 183 mulheres por dia estão dando à luz sem alívio da dor, enquanto centenas de bebês morreram devido à falta de eletricidade para alimentar incubadoras”, disseram à época (seis meses atrás). “As condições terríveis resultaram em um aumento de até 300% nos abortos espontâneos; 95% das mulheres grávidas e lactantes enfrentam grave pobreza alimentar”.

Eles ficaram consternados com os relatos contínuos de assédio sexual e violência contra mulheres e meninas, incluindo aquelas detidas pelas forças de ocupação israelenses. Os especialistas afirmaram que o governo de “israel” tem falhado de forma sistemática em realizar uma investigação independente, imparcial e eficaz sobre os crimes reportados.

“Estamos horrorizados que as mulheres estejam sendo alvo de ataques tão viciosos, indiscriminados e desproporcionais por parte de Israel, aparentemente não poupando esforços para destruir suas vidas e negar seus direitos humanos fundamentais”, afirmaram.

A organização humanitária Oxfam publicou, no início deste mês, que o número de mulheres e crianças mortas no genocídio sionista em Gaza é maior do que o de qualquer outro conflito nos últimos 20 anos.

“Ao longo do último ano, Israel cometeu sérias violações do Direito Humanitário Internacional, que podem ser classificadas como crimes contra a humanidade. Entre elas, está o uso de força desproporcional em relação aos objetivos militares e a falta de distinção entre alvos militares e civis. A infraestrutura essencial para a sobrevivência da população civil foi atacada repetidamente, e os civis foram deslocados várias vezes para ‘zonas seguras’ que não atendem às necessidades básicas e que também têm sido alvo de bombardeios”, disse a organização.

Segundo a entidade das Nações Unidas sobre Crianças e Conflitos Armados, em 2023 morreram cinco vezes mais crianças em Gaza e na Cisjordânia do que no período entre 2005 e 2022. E esses dados não incluem as mais de 20.000 pessoas desaparecidas, não identificadas e presas sob escombros, das quais uma parte significativa é formada por crianças e mulheres.

Sima Bahous, diretora-executiva da ONU Mulheres, destacou que as guerras não apenas afetam mulheres de forma desproporcional, mas também fazem parte de um “contexto mais amplo de ataque aos direitos das mulheres”. “O direcionamento deliberado contra os direitos das mulheres é mais mortal em cenários de conflito, onde elas estão especialmente vulneráveis”, alertou.

O doutor Umaiyeh Khammash, diretor da Juzoor, parceiro da Oxfam, que está apoiando centenas de milhares de pessoas em mais de 90 abrigos e pontos de saúde em Gaza, afirmou: “O último ano teve um impacto devastador, com as mulheres enfrentando uma carga dupla. Muitas se tornaram repentinamente as chefes de suas famílias, lidando com a sobrevivência e o cuidado em meio à destruição. Mães grávidas e lactantes enfrentaram imensas dificuldades, incluindo o colapso dos serviços de saúde”.

O impacto sobre a saúde reprodutiva das mulheres também está sendo devastador. Segundo relatório da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental e Israel, submetido à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2024, mais de 540 mil mulheres em idade reprodutiva foram afetadas pela falta de atendimento adequado.

O bombardeio de hospitais especializados, como o Awdah e o Hospital Turco-Palestino, deixou milhares de mulheres sem acesso a serviços essenciais de pré-natal e pós-parto, além de cuidados com recém-nascidos. Alguns desses hospitais também serviam como os únicos centros de oncologia na região, o que interrompeu o tratamento de cerca de 10.000 pacientes com câncer, levando muitos à morte.

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