Correio da Cidadania

Qual é o verdadeiro caráter do Estado de Israel?

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Moeda cunhada na Alemanha Nazista para celebrar a união com os sionistas

A tese central deste artigo é a de que o Estado de Israel é uma pura invenção imperialista para facilitar a dominação da Ásia Ocidental pelas grandes potências, dominação esta que só pode ser exercida através de métodos fascistas. Busca-se comprovar esta tese analisando a história do movimento sionista no final do século 19 até a metade do século 20, utilizando como fontes as obras de alguns dos maiores estudiosos do assunto em nível mundial, muitos deles, inclusive, judeus.

As origens comuns do nazismo alemão, do fascismo italiano e do sionismo “israelense”

O século 19 foi o mais importante da história da humanidade. Foi nele que ocorreram as maiores transformações políticas, econômicas e sociais da modernidade, que abriram o caminho para um desenvolvimento ilimitado das capacidades humanas a partir da revolução industrial.

Foi quando os diversos povos do mundo, particularmente os da Europa, que era o centro dessas transformações, tentaram pela primeira vez, em âmbito internacional, se livrar das correntes que os prendiam ao atraso e à opressão. Nasceram os movimentos nacionalistas em diversas nações sufocadas por impérios coloniais.

Para justificar suas ações, os ideólogos do nacionalismo recorreram, muitas vezes, à invenção de mitos a fim de apresentar a finalidade da construção de uma nação como um resultado histórico natural do desenvolvimento da luta de um povo. Os mitos tinham como característica fundamental uma base religiosa, racial e territorial.

Os ideólogos do sionismo, ou seja, da colonização da Palestina pelos euro-judeus, tirando proveito da necessidade de proteção dos professantes do judaísmo após séculos de opressão na Europa, seguiram o exemplo dos alemães e italianos, por exemplo, que tentavam unificar suas nações e construir seu próprio Estado Nacional propagando o direito territorial dos povos de mesma raça e credo religioso. Nestes três casos, seus líderes evocavam um passado mítico, de povos heroicos e superiores, dos quais eram seus descendentes e herdeiros legítimos.

O historiador israelense Shlomo Sand escreve, em seu livro “A invenção do povo judeu”, que à imagem das outras tendências “patrióticas” da Europa do século 19, que se voltavam para uma fabulosa idade de ouro com o auxílio da qual forjaram para si um passado heroico (a Grécia clássica, a República romana, as tribos teutônicas ou os Gauleses) com o objetivo de provar que elas não haviam nascido ex nihilo, mas existiam havia muito, os primeiros adeptos da ideia de uma nação judaica se voltavam para a luz resplandecente que irradiava do reino mitológico de Davi e cuja força foi preservada durante séculos no coração das muralhas da fé religiosa.

Em “Roma e Jerusalém”, de 1862, o intelectual socialista Moses Hess dizia que “a raça judaica é uma raça pura que reproduziu o conjunto de suas características, apesar das diferentes influências climáticas. O tipo judeu permaneceu o mesmo através dos séculos”. E completava: “de nada serve aos judeus e às judias negar sua origem fazendo-se batizar e se misturando às massas dos povos indo-germânicos e mongóis. Os tipos judeus são indeléveis”.

Era perceptível, desde já, uma tendência racista, reacionária, dentro desse movimento de intelectuais judeus. A mesma tendência que gerou os fenômenos de extrema-direita fascistas na Europa no início do século 20.

A base religiosa atraía os instintos mais primitivos da comunidade e pareciam algo um pouco ultrapassado após a consolidação dos ideais iluministas e da era da razão e da ciência. Portanto, os ideólogos nacionalistas tiveram que adaptar os mitos religiosos a um discurso pseudocientífico.

Os historiadores, arqueólogos e pesquisadores nazistas se esforçavam para encontrar provas de seu suposto passado mitológico. Sua “ciência” não passava de uma revisão da história a fim de manipulá-la para os fins do III Reich. A “ciência” servia à ideologia oficial e à sua falsificação da história.

Mais ou menos na mesma época, os sionistas iam pelo mesmo caminho. Quando os descobrimentos arqueológicos contradiziam os escritos religiosos, os pesquisadores sionistas preferiam adotar “a ‘verdade’ do texto teológico à verdade do objeto arqueológico”, segundo Sand.

O ucraniano Ben-Zion Dinur, professor de Histórica Judaica na Universidade de Jerusalém na década de 1930, é o autor do livro “A história de Israel: Israel em seu país”, publicado pela primeira vez em 1918 e depois ampliado em 1938. Conforme as palavras de Sand, aquele autor decidiu “reescrever” a Bíblia, “adaptando-a ao espírito ‘científico’ de sua época”: “Isso não significa que, em algum momento, ele tenha colocado em dúvida a historicidade das Escrituras Sagradas. Do relato da vida de Abraão, o Hebreu, ao retorno a Sião, ele se manteve fiel a cada detalhe e a cada acontecimento relatado”.

“A contribuição mais importante da ‘historiografia bíblica’ para a elaboração da consciência nacional consistia seguramente no estabelecimento da relação com a ‘terra de Israel’”, afirma Sand. Ele ainda destaca: “a Bíblia serviu principalmente como marca ‘étnica’ que indicava a origem comum de mulheres e homens cujos dados e componentes culturais laicos eram completamente diferentes, mas que eram detestados em razão de uma fé religiosa à qual praticamente já não aderiam”.

Estava em gestação a ideia de que os judeus modernos eram os descendentes dos habitantes da antiga Israel de dois mil anos antes, que haviam sido expulsos e que deveriam retomar aquela terra. Não aceitariam a afirmação de que todos os povos e civilizações já pertenceram um dia a uma determinada terra e de lá foram expulsos por outros povos, e que também tomaram terras de outros povos, consequentemente.

Tampouco a ideia de que os judeus modernos, assim como os descendentes de todos os povos que tiveram amplo contato com outros, são herdeiros de uma série de raças, não são uma raça pura, e que pouco tinham em comum com os habitantes da antiga Israel, ou da Grande Canaã, espaço geográfico e étnico onde um reino chamado Israel chegou a existir por algum tempo. Preferiam adotar os mesmos preconceitos racistas dos ideólogos do nazismo e do fascismo, de que sua raça era pura e superior às demais.

Sionismo, um movimento iniciado pela grande burguesia britânica

Quando a Palestina era parte do Império Otomano, em meados do século 19, a Grã-Bretanha – a grande potência colonial e capitalista da época – instalou seu consulado em Jerusalém. No ano de 1840, Lorde Palmerston propôs que a Coroa fundasse uma colônia judaica europeia na Palestina a fim de “preservar os interesses mais gerais do Império Britânico”, segundo suas próprias palavras. Até então, cerca de 500 mil pessoas habitavam aquelas terras. Dois terços destes eram árabes da Palestina, portanto palestinos, professantes do islamismo, enquanto que 60 mil eram cristãos e 20 mil destes palestinos eram judeus, isto é, de fé religiosa judaica, conforme Ilan Pappé (“História da Palestina Moderna”).

Poucas décadas depois, os britânicos compraram a parte do Egito do recém-construído Canal de Suez, o que lhes garantiu a presença de tropas no local para proteger a navegação de seus barcos e uma presença estratégica às portas da Palestina e do seu crescente rival, o Império Otomano.

Enquanto a Grã-Bretanha penetrava na Palestina, setores importantes da burguesia europeia organizavam ideológica e politicamente esse movimento de colonização. Theodore Herzl, um euro-judeu proveniente de uma família de banqueiros do Império Austro-Húngaro, é considerado o principal fundador do sionismo. Em 1896 ele escreveu “O Estado Judeu”, em que elaborou as principais teses do colonialismo sionista, sendo a tese fundamental a necessidade da construção de um Estado próprio, embora ainda não taxativamente na Palestina, visto que outras partes do mundo eram aventadas para a empreitada supremacista.

Nesse livro, ele já indicava que os sionistas eram poderosos banqueiros e expunha suas visões racistas. “Supondo que Sua Majestade o Sultão nos entregasse a Palestina, poderíamos em troca ocupar-nos de regularizar as finanças na Turquia. Formaríamos lá uma civilização frente à barbárie”, escreveu. Por outro lado, também se dirigia às potências europeias, afirmando que o Estado judeu seria, “para a Europa, um pedaço de fortaleza contra a Ásia”.

No ano seguinte, Herzl liderou o primeiro Congresso Sionista, realizado na cidade suíça da Basileia. O Congresso deu um grande impulso ao movimento e estabeleceu a meta de fundar o Estado Judeu, com a Palestina já escolhida para a empreitada, em 50 anos. Nas palavras do pesquisador Marcelo Buzetto: “a partir daí os sionistas correram o mundo para angariar recursos financeiros e apoio político para sua proposta. Herzl e seus seguidores vão estabelecer contatos com os governos da Inglaterra, da Alemanha, com o Império Turco-Otomano, com banqueiros, industriais e comerciantes judeus e não judeus, visando fortalecer a ideia da necessidade de um Estado judeu. A comunidade judaica europeia se divide, e nem todos apoiam a ideia sionista, mas esse movimento consegue o auxílio da burguesia judaica e de setores importantes da burguesia não judaica europeia. (“A Questão Palestina”).


Theodor Herzl (centro) com uma delegação sionista em Jerusalém, 1898.


Theodor Herzl no Segundo Congresso Sionista em Basileia, 1898

A Grã-Bretanha se preparava para a guerra iminente contra a Alemanha e seus aliados turcos. Para isso, além dos ganhos comerciais, foi fundamental estabelecer posições em Suez e dentro da Palestina. Conforme Ralph Schoenman, em “A história oculta do sionismo: a verdadeira história da formação do Estado de Israel”.

Durante anos os britânicos utilizaram a direção sionista para conseguir apoio dos bancos e grandes capitalistas judeus dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha  para sua guerra contra o Império Alemão.

Sérgio Yahni explica o projeto imperialista britânico por meio dos sionistas na Palestina: Para a Grã-Bretanha, a Palestina era uma base de operações da Marinha Real e a colonização sionista, com recursos que possuía para financiar o desenvolvimento industrial, era parte de uma estratégia que garantia o transporte marítimo, controlando o acesso ao Canal de Suez, e facilitava o transporte do petróleo do Iraque através dos territórios controlados pelo Império Britânico. Para cumprir esses objetivos, sua majestade esperava segurança militar e estabilidade social no país por meio de um sistema de certificados de imigração que exigiam uma capacidade econômica mínima da parte dos imigrantes. A Grã-Bretanha garantia a colonização de setores de classe média, atenuando assim as contradições de classe […] (“A questão Palestina”, Prefácio).

Com o objetivo de assentar colonos judeus em terras adquiridas na Palestina, em 1905 o Fundo Nacional Judeu começa a comprar propriedades árabes. Os sionistas europeus, percebendo o florescimento dos sentimentos de independência dos árabes contra o domínio turco na Palestina no início do século 20, organizaram-se para apoiar o Império Otomano na repressão contra o movimento pela independência da Palestina. Enquanto apoiavam a repressão do império turco aos árabes, atuavam contra os turcos a favor dos britânicos. Ainda segundo Schoenman, os sionistas passaram a dar total apoio aos ingleses diante da implosão iminente do Império Otomano com a derrota na I Guerra Mundial.

Em 1914, o presidente da Organização Sionista Mundial, Chain Weizmann, declarou: "É bastante aceitável dizer que, se a Palestina cair na esfera de influência britânica e a Grã-Bretanha estimular o estabelecimento dos judeus por lá, como uma dependência britânica, em 20 ou 30 anos pode"emos ter por lá um milhão de judeus, ou talvez mais. Eles desenvolveriam o país, restituiriam a civilização e formariam uma guarda muito mais efetiva para o canal de Suez".

Os sionistas e britânicos não eram os únicos interessados no fim do Império Otomano. Os árabes em geral, e os palestinos em particular, organizavam-se e lutavam ativamente pela independência e chegaram a receber a promessa da Grã-Bretanha de que teriam seu próprio país se ajudassem a derrotar os turcos. Os britânicos, contudo, não cumpriram essa promessa. Pelo contrário, nos últimos meses da guerra declararam publicamente sua intenção de criar um Estado judeu.

Tal foi o caráter da famigerada Declaração Balfour, do Secretário de Relações Exteriores britânico, Arthur James Balfour, dirigida ao líder dos sionistas na Grã-Bretanha, o banqueiro Lionel Walter Rothschild, membro da poderosa família Rothschild, publicada em 2 de novembro de 1917. Ela dizia: “o governo de Sua Majestade vê favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e fará tudo o que estiver ao seu alcance para facilitar a realização desse objetivo”.


A carta original de Balfour para Rothschild

Com o término da guerra e a derrota dos turcos, o Império Otomano foi dividido artificialmente pelos vencedores e a Grã-Bretanha transformou a Palestina em um protetorado, sem lhe dar a prometida independência. Mas ainda não era o momento de transformá-la em um Estado para os judeus, pois a presença destes no território ainda era ínfima e, ainda, majoritariamente palestinos de fé judaica, não os euro-judeus aos quais a promessa de Balfour era dirigida.

A partir da virada da década de 1920 para a década de 1930, a companhia judaica, financiada por banqueiros e grandes empresários judeus, começou a comprar grandes quantidades de terras para instalar colonos judeus na Palestina. No início da década de 1930, vinte mil famílias camponesas palestinas haviam sido expulsas de suas terras pelos sionistas europeus. Em meados da década, foi fundada por importantes investidores e empresários sul-africanos (brancos) a empresa Investimentos Afro-Israelenses, que começou a adquirir terras na Palestina.

O governo do Mandato deu ao capital judeu um status privilegiado, atribuindo-lhe 90% das concessões na Palestina. Isso permitiu que os sionistas conseguissem controlar a infraestrutura econômica da região (projetos de estradas, minerais do Mar Morto, eletricidade, portos etc.) Por volta de 1935, os sionistas controlavam 872 das 1.212 empresas industriais da Palestina. (Ralph Schoenman, “A história oculta do sionismo”)

Irmãos de sangue unem-se para promover “a maior tragédia da história da humanidade”

A mitologia nacional sempre foi utilizada pelas classes dominantes para dominar e manipular os legítimos sentimentos e necessidades dos povos por independência e liberdade contra uma opressão externa.

A nascente burguesia imperialista da passagem do século 19 para o 20 manobrou perfeitamente com esses sentimentos entre os povos europeus a fim de suprimir o movimento operário que ganhava força e representava uma ameaça crescente à sua ditadura.

Foi a partir da necessidade de suprimir os enormes movimentos proletários que tomavam conta da Europa, e que incentivavam a luta nacional nas nações colonizadas, bem como de ampliar a sua esfera de dominação dos mercados mundiais, que os grandes banqueiros e industriais impulsionaram o nascimento do nazifascismo – e de seu irmão de sangue, o sionismo.

Os primeiros embriões do movimento fascista europeu tiveram a colaboração dos líderes sionistas. Foi o caso da repressão czarista na Rússia contra os bolcheviques – que tinham forte apoio dentro do proletariado judaico, tanto que quatro dos sete membros da direção revolucionária de 1917 eram judeus –, apoiada por Herzl e Weizmann.

Simon Petliura era um fascista ucraniano que dirigiu pessoalmente os pogroms que mataram 28 mil judeus em 1897 em distintos massacres. [Vladimir] Jabotinsky [um dos fundadores do sionismo] negociou uma aliança com Petliura, propondo uma força policial judia que acompanhasse as forças de Petliura na luta contrarrevolucionária contra o Exército Vermelho e a Revolução Bolchevique – um processo que envolveu o assassinato de camponeses, operários e intelectuais que defendiam a Revolução. (Schoenman, “A história oculta do sionismo”).

Quando o movimento fascista já havia se desenvolvido plenamente, os sionistas ampliaram o seu apoio a ele. Mussolini constituiu esquadrões do movimento juvenil dos Sionistas Revisionistas Betar, com camisas negras da mesma maneira que seus próprios bandos fascistas. Quando Menachem Begin se converteu em chefe da Betar preferiu usar as camisas marrons dos bandos de Hitler, um uniforme que Begin e os membros da Betar trajavam em todas as reuniões e concentrações – nas quais eles se saudavam entre si, abrindo e encerrando as reuniões, com a saudação fascista. (Idem)


Formação Betar em Berlim, Alemanha Nazista, em 1936

Mas o episódio mais nefasto da história do sionismo na primeira metade do século 20 ainda estava por vir. Particularmente, a partir do final da década de 1920 na Alemanha: o apoio ativo ao nazismo e, mesmo, ao próprio holocausto euro-judeu. Quando os nazistas chegaram ao poder, escreve Schoenman, baseado em documentos da época, “a Federação Sionista da Alemanha enviou um memorando de apoio ao Partido Nazista, em 21 de junho de 1933”, saudando o “renascimento da vida nacional” e o “princípio de raça” que norteava o novo Estado alemão.

O Congresso da Organização Sionista Mundial corroborou essa posição ainda em 1933, ao rechaçar, por 240 votos contra 43, “uma resolução que conclamava a atuação contra Hitler”. E a principal entidade dos sionistas foi além: rompeu o boicote dos judeus ao regime nazista ao firmar um acordo comercial entre o Banco Anglo-Palestino da Organização Sionista Mundial com a Alemanha, convertendo-se “no principal distribuidor de produtos nazistas em todo o Oriente Médio e no norte da Europa”.

Ainda segundo Schoenman, “os sionistas levaram para a Palestina o barão Von Mildenstein, do Serviço de Segurança das SS, numa visita de seis meses em apoio ao sionismo”, o que mereceu muitos elogios de Joseph Goebbels ao sionismo e, inclusive, a ordem para se cunhar “uma medalha com a suástica em um lado e a estrela de David sionista no outro”.



"Um nazista vai à Palestina e fala sobre isso". A moeda foi cunhada em 1934 para comemorar a jornada do Barão von Mildenstein à Palestina. A viagem resultou em uma reportagem pró-sionista encorajando a emigração judaica, publicado no jornal nacionalista Der Angriff.

O pesquisador salienta que em 1937, quando a perseguição aos judeus pelo regime hitlerista já havia começado, a Haganah (organização sionista armada) enviou um agente a Berlim “para oferecer espionagem ao Serviço de Segurança das SS, em troca da liberação das fortunas judias para serem usadas na colonização sionista”. O agente sionista Feivel Polkes disse a Adolf Eichmann que “os círculos nacionalistas judeus estavam muito deleitados pela política radical alemã, visto que, com ela, a força da população judaica na Palestina cresceria de tal modo que, num futuro previsível, os judeus chegariam a ter superioridade numérica sobre os árabes”.

Schoenman defende a tese de que a elite judaico-sionista apoiou o nazismo e o holocausto euro-judeu porque a limpeza étnica de judeus na Europa levaria naturalmente à emigração para a Palestina, o objetivo histórico dos sionistas especialmente a partir de 1897. De acordo com o autor, eles sabotaram de forma organizada a emigração dos judeus perseguidos na Europa na década de 1930, porque eles não se dirigiam à Palestina, mas à América ou a outros países da Europa Ocidental. David Ben Gurion, que depois se tornaria o primeiro chefe de governo de Israel, disse em 1938: “se eu soubesse que era possível salvar a todas as crianças da Alemanha levando-as para a Grã-Bretanha e somente a metade delas transportando-se para Eretz Israel [Grande Israel], optaria pela segunda alternativa”.

Eles só queriam salvar os judeus jovens e saudáveis, para construir o Eretz Israel na Palestina. Os considerados velhos e incapazes eram facilmente descartados para as câmaras da morte, como ocorreu a partir de 1944, quando um pacto secreto firmado pela elite sionista com os nazistas levou ao abandono de 800 mil judeus na Hungria para salvar 600 “judeus preeminentes”, segundo Schoenman. “Se nos vierem com dois planos – resgatar as massas de judeus da Europa ou resgatar a terra – eu voto, sem vacilar, pelo resgate da terra”, expressou Yitzhak Gruenbaum, um dirigente sionista.

Schoenman relata que, em 11 de janeiro de 1941, Avraham Stern, um outro dirigente sionista, propôs um pacto entre a Organização Militar Nacional (OMN) sionista e a Alemanha, que estipulava, por exemplo, que:

1. Pode haver interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova Ordem na Europa, segundo a concepção alemã, e as autênticas aspirações nacionais do povo judeu, personificadas pela OMN;

2. Seria possível a cooperação entre a nova Alemanha e uma renovada nação do povo Hebraico Nacional;

3. O estabelecimento de um Estado judeu histórico, sobre bases nacionais e totalitárias, unido por uma aliança com o Reich Alemão, seria do interesse para um continuado e fortalecido futuro da posição de poder alemão no Oriente Próximo.

Stern concluiu seu documento oferecendo o apoio da OMN à Alemanha na Segunda Guerra. Na opinião de Schoenman, os sionistas preferiam ver milhões de judeus mortos por Hitler a permitir uma emigração em massa para qualquer outro lugar que não fosse a Palestina.


Cópia do documento de Stern oferecendo colaboração aos nazistas. Digitalizado de “The Stern Gang: Ideology, Politics, and Terror 1940-1949” por Joseph Heller, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém.

Todos nós sabemos qual foi o destino dos euro-judeus nas mãos dos nazistas. Nos cálculos de Raul Hilberg, a “principal autoridade em holocausto nazista” nas palavras de Norman G. Finkelstein, nada menos do que 5,1 milhões de judeus foram assassinados nesse holocausto. Muitos representantes da comunidade internacional e das principais instituições mundiais tacham esse acontecimento como “a maior tragédia da história da humanidade”, como disse em 2022 Josep Borrell, o alto representante da União Europeia para as Relações Exteriores e a Política de Segurança.

Talvez seja por esse apoio ativo da elite sionista que o holocausto euro-judeu tenha sido esquecido durante as duas primeiras décadas após a Segunda Guerra. Em seu livro “A indústria do Holocausto: reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus”, Finkelstein levanta algumas hipóteses para o encobrimento, por parte da elite judaica nos EUA, dos crimes contra os judeus. Por exemplo, a Alemanha Ocidental (onde inúmeros nazistas foram incorporados ao novo regime) era aliada dos estadunidenses na Guerra Fria contra a União Soviética. Também, a denúncia do nazismo – e do acolhimento a muitos nazistas pelos EUA e aliados – era uma importante pauta da esquerda americana, que, seguindo a tradição centenária dos judeus, tinha uma grande adesão judaica. E as principais organizações sionistas dos EUA na época, o American Jewish Committee e a Anti-Defamation League, colaboraram na caça às bruxas aos comunistas durante o macartismo. “Lembrar o Holocausto nazista foi etiquetado como causa comunista” e, para não se confundir com a esquerda, a elite judaica sabotou qualquer tipo de campanha antinazista, segundo Finkelstein.

Na avaliação do autor, só a partir da guerra de 1967 entre Israel e os países árabes que o holocausto euro-judeu começou a ser lembrado, tanto pela elite judaica quanto pelo governo dos EUA. E a forte campanha propagandística que conhecemos hoje foi iniciada. Ele não leva em consideração a possibilidade de que isso tenha sido feito porque os EUA perceberam estava para vir uma intensa oposição ao estabelecimento do Estado de Israel no Oriente Médio e que isso poderia comprometer a sua dominação na região e, assim, tenha passado a tachar qualquer crítica ao sionismo como “antissemitismo” e apologia ao holocausto euro-judeu. Não é preciso notar que essa lembrança não incluiu o apoio da elite sionista ao nazismo e ao próprio holocausto.

Ideologia e prática colonial e racista

Concomitantemente à gradual colonização judaica da Palestina, impulsionada pelos banqueiros europeus e pelo Império Britânico, os dirigentes sionistas desenvolviam e expressavam a sua ideologia colonial e racista.

No seu livro “A muralha de ferro”, de 1923, Jabotinsky argumentava que havia uma “completa impossibilidade de se chegar a um acordo voluntário com os árabes da Palestina para transformar a Palestina de país árabe em um país de maioria judia”. Lembrava que nunca uma colonização “aconteceu com o acordo da população nativa” e admitia que “os nativos lutaram porque qualquer tipo de colonização, em qualquer parte, em qualquer época, é inadmissível para qualquer povo nativo”.

Ele confessava integralmente o caráter colonial do empreendimento sionista ao compará-lo com a chegada dos espanhóis na América ou ao massacre dos índios americanos. Dizia que os árabes olham para a Palestina com o mesmo amor instintivo e o mesmo autêntico fervor com que qualquer asteca olhava seu México ou qualquer sioux contemplava sua pradaria (…). Portanto, é inconcebível um acordo voluntário. Qualquer colonização, ainda que a mais restrita, deve-se desenvolver desafiando a vontade da população nativa. Jabotinsky terminava sua argumentação reconhecendo que o colonialismo sionista deveria se apoiar no Mandato colonial britânico:

Mediante a Declaração Balfour ou mediante o Mandato, é indispensável a força externa para estabelecer no país as condições de dominação e defesa pelas quais a população local, independentemente de seus desejos, veja-se privada da possibilidade de impedir nossa colonização, em termos administrativos ou físicos. A força há de jogar seu papel, com energia e sem indulgência.

Os sionistas colocaram em prática pela primeira vez de forma ampla as ideias de Jabotinsky na segunda metade da década de 1930. Em 1936, o povo palestino realizou uma enorme rebelião contra o jugo britânico e as forças imperiais reagiram violentamente. Mas não conseguiram conter a revolta, que era armada, e recorreram ao apoio dos grupos sionistas que já haviam imigrado para a Palestina. “As forças sionistas foram integradas aos serviços de inteligência britânico e tornaram-se a polícia que impunha a draconiana dominação britânica”, diz Ralph Schoenman.

A Grã-Bretanha armou os sionistas, que contaram com milhares de membros dentro do Haganah e do Irgun, tendo a partir daí uma quantidade de milícias fascistas armadas para esmagar os palestinos, treinadas pelo oficial britânico Charles Orde Wingate, segundo Schoenman. No final do levantamento árabe, em 1939, havia mais de 14 mil milicianos fascistas-sionistas organizados e comandados pelos oficiais britânicos.

Essa supressão da revolta palestina de 1936-1939 foi um acontecimento vital para a preparação das forças armadas sionistas que iriam facilitar a limpeza étnica, iniciada em dezembro de 1947, na esteira da recomendação de Partilha da Palestina, pelas Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947. Essa resolução (181) da ONU ocorreu faltando apenas um mês para o término do prazo de 50 anos estipulado pelos sionistas, em 1897, para a criação do Estado de Israel. Se, no final do século 19, o sionismo dava indícios de que era um projeto imperialista dos banqueiros europeus – particularmente os ingleses –, na metade do século 20 ficava claro que, além disso, ele havia se tornado um projeto do imperialismo mundial, agora liderado pela burguesia dos EUA, a grande vitoriosa na Segunda Guerra, junto com a União Soviética.

Como a Segunda Guerra terminou com um acordo para a repartição do mundo em diferentes zonas de dominação pelas grandes potências, o governo soviético concordou com EUA e Grã-Bretanha que aquela região do Oriente Médio seria deles. Talvez para se livrar dos seus próprios judeus, Stálin participou da fabricação do Estado de Israel como parte da nova era de colaboração, e não confrontação – assim pensava a burocracia stalinista –, com seus sócios ocidentais.

A cruel e histórica perseguição aos judeus na Europa, que teve como desfecho o holocausto euro-judeu, foi a grande justificativa para as potências imperialistas imporem a criação de um Estado para os judeus na Palestina. Mesmo que a comunidade judaica não tenha sido consultada, e muito menos os habitantes da Palestina, cuja maioria era árabe. A reivindicação da Organização Sionista Mundial, órgão fundado e dirigido por banqueiros europeus, valia mais do que a opinião dos judeus e do povo palestino.

A crescente colonização da Palestina por euro-judeus sionistas aburguesados durante o Mandato Britânico serviu como argumento para provar que os judeus queriam emigrar para a Palestina e já o estavam fazendo. No início dos anos 30, quatro mil judeus chegavam à Palestina a cada ano. Em meados da mesma década, essa média passou a sessenta mil (Marcelo Buzetto, “A questão palestina”). Mesmo assim, até 1947 apenas 6% das terras da Palestina eram de propriedade judaica, segundo Schoenman.

Em 1939, havia 445 mil judeus em uma população total de 1,5 milhão de habitantes, conforme Gattaz, citado por Buzetto. No ano da recomendação de partilha da Palestina pela ONU, os judeus representavam um terço da população do país (630 mil), enquanto os outros dois terços eram árabes (1,3 milhão). Apenas 10% dos judeus eram originários da Palestina, segundo Henry Cattan, enquanto a esmagadora maioria era de colonos europeus.
Ralph Schoenman afirma que as organizações fascistas-sionistas Irgun e Haganah, antes mesmo de os sionistas se autoproclamarem estado e denominarem-no Israel, “apoderaram-se de três quartos da terra e virtualmente expulsaram todos os habitantes”, desalojando 780 mil palestinos e massacrando milhares de outros em ações terroristas idênticas às executadas pelos nazistas na União Soviética. David Ben Gurion, Ariel Sharon e Yitzhak Shamir, todos eles futuros primeiros-ministros do Estado de Israel, desempenharam papel importante nesses massacres.

Na data da autoproclamação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, 90% das terras da porção da Palestina tomada pela força já haviam sido roubadas pelos colonos judeus. “No território ocupado por Israel depois da partilha, existiam cerca de 950 mil palestinos. Eles habitavam cerca de 500 povoados e todas as grandes cidades”, aponta Schoenman. “Depois de menos de seis meses, restavam somente 138 mil pessoas”, completa. “Cerca de 400 povoados e cidades foram arrasados em 1948 e 1949. Em 1950, fizeram o mesmo com vários outros”.

Começava a Nakba (a grande “catástrofe”) para os palestinos, que dura até hoje, quase oito décadas após seu início. A instituição responsável por esse genocídio, portanto, é a própria ONU. Os colonos sionistas sentiram-se plenamente à vontade, mesmo ainda constituindo minoria dentro da Palestina, a aterrorizar e expulsar os palestinos em massa a partir do momento em que as Nações Unidas, de forma absolutamente arbitrária e ilegítima, concederam mais da metade (56,5%) do território palestino a eles.

Conclusão

Desde que tiveram conhecimento da posição geográfica estratégica e das enormes riquezas naturais daquela região da Ásia Ocidental, os impérios europeus a cobiçaram. Como se conhece há milênios, a melhor estratégia para um colonizador é dividir para reinar. Foi o que o imperialismo europeu, e depois o estadunidense, fizeram com o chamado Oriente Médio. Primeiro o dividiram e depois instalaram seus prepostos. Não seria possível governar somente através de regimes árabes títeres, pois esses – como se vê hoje claramente – estão expostos à pressão de suas populações. Seria preciso estabelecer um regime colonial. Mas o colonialismo tradicional estava em crise após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

Por isso, o projeto sionista, que vinha se gestando havia meio século, era o ideal para se dominar aquela região do planeta, que liga a Europa com a Ásia e a África, por onde passam as principais rotas marítimas que controlam o comércio mundial e onde há abundância de recursos tão vitais, como gás e petróleo. O sionismo, isto é, a doutrina da criação, manutenção e expansão do Estado de Israel, é o grande pretexto fabricado pela burguesia imperialista para dominar a região geográfica mais importante do mundo.

Theodore Herzl já reivindicava, em 1904, “todo o Líbano e a Jordânia, dois terços da Síria, a metade do Iraque, uma faixa da Turquia, a metade do Kuwait, um terço da Arábia Saudita, o Sinai e o Egito, incluídos Port Said, Alexandria e o Cairo”, destaca Schoenman.
Em 1938, Ben Gurion declarou que “o Estado será somente uma etapa na realização do sionismo e sua tarefa é preparar o terreno para nossa expansão”. E detalhou: “as fronteiras da aspiração sionista incluem o sul do Líbano, o sul da Síria, a atual Jordânia, toda a Cisjordânia e o Sinai.” Isso significava que o objetivo do imperialismo com Israel não se resumia à criação de um Estado para os judeus – na verdade, isso não passava de conversa fiada. O objetivo era utilizá-lo como ponta de lança na empreitada de dominação e submissão de todo o Oriente Médio.


David Ben-Gurion, durante seu serviço militar no exército britânico

De fato, desde a criação artificial de Israel, com apoio crescente das potências imperiais unidas, a entidade sionista chegou a ocupar o Sinai no Egito, o sul do Líbano e segue ocupando da Palestina a Cisjordânia e Gaza (aqui uma ocupação a distância, inaugurada em 2005 e recrudescida com o bloqueio total de 2007), bem como as Colinas de Golã na Síria.

Schoenman descreve que, no “Diário Pessoal de Moshe Sharett”, o ex-primeiro-ministro Moshe Sharett (1954-1955) revelou os objetivos da alta cúpula político-militar sionista: “desmembrar o mundo árabe, derrotar o movimento nacional árabe e criar regimes títeres sob o poder regional israelense.” Em 26 de outubro de 1953, ele escreveu que “1) O Exército considera a fronteira atual com a Jordânia absolutamente inaceitável. 2) O Exército está planejando a guerra de forma a ocupar o resto do Eretz Israel”. Sharett também documentou reuniões que discutiram a anexação de território sírio e libanês e a “luz verde” dada pela CIA para o ataque ao Egito.

Isso comprova que as conquistas de território árabe por Israel não foram uma reparação de guerra devido à alegada (e falsa) agressão das nações árabes à entidade sionista, mas sim um objetivo planejado de dominação, que faz parte de uma meta ainda maior, que abarca toda a região.

Schoenman ressalta mais dois documentos que apontam nesse sentido, ambos datados de 1982. Uma análise de Oded Yinon publicada no jornal do Departamento de Informação da Organização Sionista Mundial destacava a necessidade estratégica de fragmentar o máximo possível os países do Oriente Médio a partir da exploração de diferenças étnicas e religiosas. Ele propunha a extensão desse plano para o norte da África, abrangendo o Egito, a Líbia e o Sudão. No mesmo ano, um alto funcionário do Ministério de Defesa de Israel, Y’ben Poret, declarou: “nem hoje nem no passado há sionismo, nem há colonização, nem Estado judeu sem a remoção de todos os árabes, sem a confiscação”.

A ditadura militar de fachada civil e pseudodemocrática que impôs uma situação de apartheid na Palestina ocupada por Israel, em que os palestinos, porque não-judeus, são cidadãos de segunda classe, sofrem segregação e discriminação, são presos arbitrariamente, torturados e executados, carecem de direitos civis e políticos e – como visto pelo genocídio iniciado em 7 de outubro de 2023 – têm suas casas bombardeadas, não tem diferenças fundamentais do antigo regime de apartheid na África do Sul ou do antigo regime nazista na Alemanha. O Estado de Israel, contudo, detém um agravante: enquanto o nazismo foi criado pelo imperialismo alemão e o apartheid foi criado pelos próprios brancos sul-africanos, Israel foi criado e é mantido até hoje por todo o sistema imperialista mundial em conjunto. Isso faz com que sua vida seja mais longa do que foram as vidas do III Reich ou do Apartheid.

Apesar de ser um preposto consentido e partilhado pelas potências imperialistas mundiais, há claramente um predomínio do imperialismo estadunidense sobre o Estado de Israel. Na prática, ele é o 51° estado dos EUA, levando em consideração todo o investimento econômico e militar feito por Washington desde 1948 e, particularmente, a partir de 1959, ou mais intensamente de 1967 em diante. A entidade sionista é absolutamente dependente do financiamento dos EUA e, sem este, poderia facilmente deixar de existir caso fosse atacada conjuntamente pelos Estados árabes e islâmicos. O próprio governo israelense reconhece oficialmente que se trata de “um país de imigrantes”, tendo sua população aumentado quase dez vezes desde a sua invenção. Cerca de três quartos dos israelenses são judeus, metade deles de origem europeia, estadunidense ou soviética. É absolutamente comum ver nas ruas de Telavive, por exemplo, brancos loiros conversando em inglês. Ora, a população nativa daquela região não é nem branca, nem loira e nem fala inglês.


Eretz Israel: “todo o Líbano e a Jordânia, dois terços da Síria, a metade do Iraque, uma faixa da Turquia, a metade do Kuwait, um terço da Arábia Saudita, o Sinai e o Egito, incluídos Port Said, Alexandria e o Cairo”

Israel é, sem sombra de dúvidas, uma entidade colonial criada artificialmente e governada pelo imperialismo – particularmente o dos EUA – a partir de métodos fascistas para subjugar os povos daquela região do planeta. Uma outra prova disso é a total impunidade da qual desfruta Israel na arena política e diplomática internacional, inclusive no Conselho de Segurança das Nações Unidas (responsável por sua invenção), sendo imune a qualquer tipo de sanção séria mesmo após quase oitenta anos de evidências que comprovam numerosas violações dos direitos humanos, como genocídio, limpeza étnica, prisões políticas e execuções extrajudiciais em massa. Tudo o que vimos ser realizado em Gaza desde o final de 2023 de forma amplificada.

O sonho do imperialismo ocidental seria que todo o Oriente Médio se convertesse em um Eretz Israel – mais ou menos como planejava a elite sionista – que, assim, estivesse totalmente sob o seu controle, tendo a entidade sionista como intermediário.

O fascismo é consequência natural da “fase superior do capitalismo”, o imperialismo, como definiu Vladimir Lenin. É uma nova forma política da dominação imperialista, que passou a substituir a democracia parlamentar quando esta não foi mais capaz de estabilizar o regime e a dominação da burguesia nos diferentes países. É a subjugação pela força bruta, e não por mecanismos democrático-liberais, sobre os trabalhadores e povos do seu próprio país e de fora, com a expansão imperialista do país em questão. Essa dominação é justificada com base na mitologia nacional, produtora e reprodutora de sentimentos chauvinistas e racistas.

O sionismo, por sua vez, pode ser considerado como o fascismo adaptado às condições do chamado Oriente Médio e às aspirações de dominação do imperialismo anglo-americano sobre aquela região. Afinal de contas, como constatado pelas descrições contidas neste artigo e pela realidade de apartheid vivido pelo povo palestino nos últimos 77 anos, as características do sionismo são muito parecidas com as do fascismo tradicional, adaptadas às condições da época e da localidade geográfica. O Estado de Israel foi fabricado pelo imperialismo e incorporou a mitologia sionista no seu sistema de ensino e nas demais formas de reprodução da ideologia oficial, e, também, as milícias fascistas às suas forças armadas e policiais. O sionismo – o Estado de Israel – é o imperialismo fascista aplicado à Palestina.

Eduardo Vasco é jornalista especializado em política internacional.

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