Maduro assume presidência da Venezuela
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- Elaine Tavares
- 27/01/2025
Foto: A Internacional antifascista se manifesta em Buenos Aires
A Venezuela se prepara para mais um tempo de ataques contra sua população. Desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999, o império não tem dado trégua. Nos 14 anos em que governou, Chávez sofreu um golpe de estado, um grande boicote na sua gigante do petróleo, a PDVSA, e enfrentou uma série de sanções dos Estados Unidos. Mesmo sendo chamado de “ditador” o presidente venezuelano foi o que mais colocou poder nas mãos do povo, inclusive aprovando uma nova Constituição na qual o poder mais importante, o que decide em última instância, é o Poder Popular. Esse poder não se expressou unicamente nas inúmeras eleições e plebiscitos realizados, mas no cotidiano da vida, na decisão sobre obras, investimentos e processos, como cabe a uma democracia participativa. Claro que para os Estados Unidos e seus cúmplices, isso era um crime.
Quando Chávez morreu em 2013 o mundo capitalista vibrou. Estava acabado. A Venezuela e suas reservas de petróleo voltariam para as mãos da velha elite. E o primeiro golpe foi impedir a posse do vice eleito, algo totalmente regular num país democrático. Vieram as ondas de violência e todo o pacote de desestabilização. Nicolás Maduro cedeu à pressão e chamou novas eleições presidenciais. Venceu. Mas, como para o império os marcos das leis não valem quando tocam nos seus interesses, a vitória de Maduro não foi aceita e foi criado um marionete para realizar a campanha ideológica.
Juan Guaidó se autoproclamou presidente e saiu pelo mundo, sendo recebido pelos Estados Unidos e seus aliados como o legítimo presidente da Venezuela. Um circo de horrores, que causou grandes prejuízos à população. Com a ajuda de Guaidó teve início uma dura batalha para derrubar Maduro, agora sendo qualificado como o novo “ditador”. Começou então a guerra econômica contra a Venezuela que levou à fome, à inflação astronômica e à falta de produtos nas prateleiras. Obviamente que a população, acossada pelas ondas de violência e a escassez, foi claudicando. Muitos saíram do país em levas migratórias.
Com a aparição da pandemia em 2021 a Venezuela quase colapsou. Seus recursos haviam sido roubados pelos Estados Unidos e outros países europeus. Todo o dinheiro no exterior estava sequestrado e não havia mais medicamentos no país. Mas, com a ajuda da China e da Rússia, o governo conseguiu atender às demandas do povo, garantindo comida, vacinas e remédios. Não foi fácil. Por fim, passada toda essa tormenta, em 2023 a Venezuela já começou a dar sinais de melhoria na economia. Apesar de bloqueada, conseguiu investir em um desenvolvimento endógeno, na agricultora, e foi respirando.
As eleições gerais em 2024 se deram a partir desse cenário, com a oposição bastante fortalecida em função da longa guerra econômica. A aposta era de que se Maduro perdesse a eleição, o país voltaria a crescer, contando com a “mão amiga” dos Estados Unidos, que levantaria as sanções e deixaria a Venezuela seguir seu caminho, como uma menina bem comportada, nas mãos da velha classe dominante. De novo, o país se dividiu, pois sempre há os que preferem ficar de joelhos. E, de fato, bloqueado e com as reservas sequestradas, a situação do país não era das melhores, mesmo com os ganhos do petróleo.
Na mídia local e internacional foi se criando a ideia de que Maduro já estava derrotado e as pesquisas davam quilômetros de distância entre ele e o candidato da oposição, Edmundo González. Só que dentro do país a coisa não era bem essa. Apesar dos problemas – políticos e econômicos – o cinturão popular criado desde Chávez, com as missões e outras organizações, se mantinha firme. As gentes sabiam que Maduro podia não ser o melhor dos mundos, mas igualmente sabiam que Edmundo era a volta a um passado de miséria e exploração, sem qualquer chance de participação popular. O povo foi às urnas e deu a vitória a Maduro que ficou com 51,95% dos votos, enquanto González fez 43,10%.
O resultado foi o mesmo de sempre: a oposição saiu gritando que tinha havido fraude e que a vitória não tinha validade. Mesmo que todos os organismos internacionais que estavam no país acompanhando o processo validassem a eleição, ela foi questionada pelos Estados Unidos e seus cúmplices, entre eles, o Brasil. De novo, fortaleceu-se o processo de desestabilização política. Era preciso manter o país em permanente estado de guerra econômica, mental e política. A campanha ideológica da fraude se espalhou e virou verdade. Afinal, quando os EUA dizem que é preciso “salvar a democracia”, os vassalos acedem.
E assim o país chegou ao 10 de janeiro, dia da posse de Maduro para novo mandato. A marionete ianque, Edmundo González, já anda percorrendo países aliados dos EUA, como a Argentina, por exemplo, bem como a “matriz” – os Estados Unidos – anunciando que não permitiria a posse de Maduro e que tomaria posse como presidente. Ou seja, repete o mesmo feito de Guaidó, responsável pela queima de milhões de dólares do povo Venezuelano. A justiça da Venezuela já alertou que se Edmundo aparecer no país será preso por incitação à violência e ao golpe. Os vassalos dos EUA na América Latina já estão gritando a plenos pulmões que isso é um absurdo, inadmissível. Ou seja, se proteger de golpes só pode ser possível aos aliados dos EUA, enquanto um presidente legitimamente eleito é chamado de “golpista”. O mundo patas arriba.
Claro que isso não é novidade alguma. Se considerarmos que a “democracia” dos Estados Unidos, com seu único voto, mantém os bombardeios em Gaza, matando milhares de civis, todos os dias, burlando todas as leis internacionais de direitos humanos, o que é possível esperar em relação à Venezuela? Obviamente, o terror. E tristemente vemos o governo de Luiz Inácio compactuar com todo esse ataque ao povo venezuelano.
É mais do óbvio que Maduro não é Chávez e o processo de organização popular na Venezuela sofreu muito nos últimos anos em função da guerra econômica movida pelos EUA. Também parece bem claro que a Venezuela – por múltiplas razões, internas e externas – já não tem muita condição de apontar para o socialismo, como fazia Chávez. A luta é por sobreviver. A oposição de direita, que jamais foi impedida de se manifestar, estando sempre ativa, inclusive promovendo a violência, acredita que desta vez consegue ganhar no tapetão, no qual o juiz é Donald Trump.
Outros grupos de oposição, desde esquerda, respaldam a posse em respeito à Constituição do país. O dia 10 foi marcado por grandes marchas, de situação e oposição. Não será um dia tranquilo. Seguir reivindicando soberania e autonomia para gerir a vida é crime de “lesa Estados Unidos”. Logo, com ou sem Maduro, a Venezuela vai sofrer. Essa é a dura realidade.
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Elaine Tavares
Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC