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Estados Unidos: com Trump, o retorno da polêmica fácil

Extremismo, imperialismo e ameaças de guerra: uma nova era para os EUA de  Trump - Revista Focus Brasil | Revista Focus Brasil
A poucos dias da posse, os meios de comunicação nos Estados Unidos recordam ser o republicano Donald Trump o segundo dirigente a retornar à Casa Branca depois do interregno de uma derrota. O primeiro havia sido o democrata Grover Cleveland ao cabo do século dezenove. Em comum também, ambos na mocidade assistiriam de modo literal a conflito de grandes proporções, ao declinar da participação direta.

Bacharel em direito e membro do Ministério Público de condado de Nova York, Cleveland durante a Guerra Civil (1861-1865) valeu-se da Lei do Alistamento (1863) com o propósito de indicar um imigrante de ascendência polonesa para substituí-lo nas ocasionais frentes de batalhas no lado da União (o Norte) contra a Confederação (o Sul).

Uma justificativa, talvez a principal, da legislação daquela época de turbulência era a de poupar recrutados de convicção pacifista de ingresso na confrontação, em decorrência da memória da luta contra a Grã-Bretanha pela independência das colônias no último quarto do século dezoito - https://www.washingtonpost.com/outlook/2020/01/27/no-mister-president-traumatic-brain-injuries-are-not-just-headaches .

Naquele momento, quacres haviam sido prejudicados por seu posicionamento inspirado no Novo Testamento ao receber acusações de lealdade a Londres em função da recusa de fardar-se e de dispor-se a combates em prol da autonomia. Na prática, o teor do texto de 1863 beneficiaria a juventude abastada do país.

Bacharel em economia pela Universidade da Pensilvânia, uma das oito da afamada Liga de Hera, Trump seria dispensado de compor as forças armadas ao longo da Guerra do Vietnã por problema de saúde, atestado por médico, então locatário de consultório pertencente à família do futuro presidente, conforme investigação do New York Times - https://www.nytimes.com/2018/12/26/us/politics/trump-vietnam-draft-exemption.html .

Sem experiência militar própria, Trump chegará à Casa Branca com duas contendas à vista: uma na Europa, a qual gostaria de encerrar de um jato, e outra no Oriente Médio, a qual conta com o apoio o parceiro tradicional, malgrado denúncias de violação de direitos humanos do povo palestino.

Boquirroto de costume, o dirigente republicano deve manter o conteúdo polêmico de suas manifestações ao público, uma vez que elas desviam a atenção da sociedade por dias e contribuem para dificultar a concentração do país em assuntos iminentes como o envolvimento em disputas de aliados ao redor do mundo.

Se havia sido desrespeitoso com seu colega de partido, senador John McCain, em 2015, ao menosprezar o tempo de cativeiro de seis anos do parlamentar na Guerra do Vietnã como piloto da Marinha, ele o é agora com a memória de Jimmy Carter, falecido em 29 de dezembro, reservista da mesma força e prêmio Nobel da Paz de 2002.

Nos Estados Unidos, homenageia-se por determinação de março de 1954 presidente ou ex por trinta dias, a datar do passamento, ao colocar-se a bandeira a meio mastro em toda administração federal, inclusas Armada e embaixaturas - https://www.archives.gov/federal-register/codification/proclamations/03044.html .

Por coincidência, a posse ocorrerá no transcorrer do luto de Carter, motivo de queixa de Trump, ao acusar a agremiação adversária de egoísmo por respeitar o prazo estabelecido por mandatário republicano (Eisenhower). Segundo ele, ninguém gostaria de observar a bandeira a meio mastro, por não se sentir feliz quando acontecer a investidura do cargo.

De novo, o controvertido político utiliza-se das redes sociais e de sua repercussão imediata e ampla com a finalidade de desviar da população antes de assumir a Casa Branca o foco de questões urgentes como meio ambiente, imigração e rivalidade comercial com China.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes