Correio da Cidadania

Carta aberta à população sobre a greve do Ipen

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Nós, servidores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) estamos em greve desde o dia 17 de outubro. O Ipen é um órgão de grande importância, pois usa a tecnologia nuclear em pesquisas e produção de medicamentos e tratamentos médicos. Além do Ipen de São Paulo, também há greve nos Institutos de Poços de Caldas, Belo Horizonte, Goiânia, Recife e Rio de Janeiro (que fazem parte da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN).

 

Queremos esclarecer à população que esta greve teve início apenas após muitos meses de negociação, sem que o governo avançasse. A nova tabela salarial já está sendo reivindicada ao governo desde 2006. Fizemos de tudo para que o governo atendesse à reivindicação. Buscamos apoio de parlamentares e ministros, fizemos diversos protestos (Brasília, Rio, Iperó). E o que vimos foi enrolação e mais enrolação.

 

Diante dessa intransigência do governo, os servidores entraram em greve. Mas ainda assim, o governo se negou a negociar. A última negociação com o governo foi em 9 de outubro, há quase 60 dias! Depois de iniciada a greve, nenhuma reunião ocorreu.

 

Por isso, no dia 28 de novembro, a greve se intensificou. Paramos o setor da produção de radiofármacos, produtos usados em diagnósticos e tratamentos de câncer. Uma reunião de negociação finalmente foi marcada para 6 de dezembro.

 

A paralisação na produção gerou grandes preocupações e reclamações, não porque põe em risco a vida ou a saúde das pessoas. Os medicamentos usados em tratamentos, como Samário (que alivia a dor) ou Iodo (para tireóide), são estocados. A maior preocupação é a falta do Flúor, que tem vida curta e não pode ser estocado, e é usado em exames diagnósticos de ponta. Um exame desses custa entre 4 a 6 mil reais e, evidentemente, não existe no SUS.

 

Por isso, a Justiça foi acionada e, no dia 3 de dezembro, uma decisão que determinou a volta ao trabalho de 40% dos servidores, garantindo a produção dos radiofármacos, sob pena de multa. Ainda que a adesão do setor de produção não implique em prejuízos concretos à saúde das pessoas, os servidores passaram a manter o funcionamento mínimo no órgão, com 40% dos trabalhadores, enquanto tenta-se reverter a decisão.

 

Entretanto, os grevistas fazem questão de informar à população que a greve só chegou a esse ponto devido à intransigência do governo. E, se não houver avanço nas negociações, a produção de radiofármacos será paralisada completamente de novo. Há mais de um ano tentamos negociar e o que obtivemos foi enrolação. Infelizmente, os governantes só fazem alguma coisa se os trabalhadores de fato fazem pressão. Queremos deixar bem claro: se faltar radiofármacos nas clínicas e hospitais, A CULPA É DO GOVERNO!

 

Mais que isso, reafirmamos à população que a nossa luta é e sempre foi por um serviço público de qualidade que atenda de fato as necessidades da população. Defendemos que as pesquisas e os medicamentos produzidos pelo Ipen deveriam servir os hospitais públicos, deveriam atender à maioria da população que paga seus impostos, não deveriam ser vendidos a peso de ouro apenas para meia dúzia que pode pagar. São patrimônio dos brasileiros. A luta por um serviço público de qualidade é nossa, é sua, é de todos. Por isso, pedimos sua compreensão e seu apoio à nossa luta.

 

COMANDO DE GREVE DO IPEN

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