Estudo mostra necessidade de reforma agrária, diz pesquisador
- Detalhes
- Juliane Sacerdote
- 13/04/2007
"As conclusões podem ser vista como a ponta do iceberg", avalia o
técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fernando
Ferreira Carneiro, autor de estudo comparativo entre bóias-fria, sem
terra e assentados da reforma agrária. O estudo mostra que a situação
alimentar dos bóias-frias é pior que a dos assentados da reforma
agrária. Para Carneiro, esses dados "devem ser encarados pelo governo
como um alerta para a necessidade imediata de um reforma agrária
completa e efetiva".
Ele considera que o que já foi realizado da redistribuição de terra
"tornou as pessoas mais donas de seu destino", mas ainda é um processo
incipiente. No entanto, a preocupação com a posse da terra em si,
quando se trata dos bóias frias, faz parte da vida de apenas 3,8% das
famílias entrevistadas. Já 11% das famílias acampadas vêem a posse da
terra como forma de melhorar a condição de saúde.
Cerca de 90% dos bóias frias gostariam de mudar de função, e alegam o
cansaço físico e até a exploração de mão de obra como motivos. Entram
ainda nessa listagem a questão do horário de início das atividades, a
carga horária de trabalho, a comida e até o tempo de deslocamento para
se chegar ao local de trabalho nas lavouras.
Um dado interessante mostra que desse universo de bóias-frias, pelo
menos 70% deles têm carteira assinada e recebem os beneficios previstos
em lei. Mas o fato de estarem empregos por apenas seis meses do anos
não contribui para uma qualidade de vida razoável.
O autor explica que essas pessoas, os bóias-frias, não mudam sua
realidade por uma questão cultural e até ideológica. "Essas pessoas
dizem que querem mudar de função, de emprego, mas não conseguem se
desvincular dessa realidade de trabalhos temporários, que
impossibilitam a fixação nos locais e seu consequente desenvolvimento,
com a criação de animais e a plantação de hortifrutigranjeiros",
destaca.
Carneiro lembra que a situação das famílias acampadas e assentadas é
diferente, isso porque essas "têm uma perspectiva de luta e
organização". Segundo a pesquisa, cerca de 100% das famílias assentadas
possuem algum tipo de criação animal, como galinhas e porcos e 66%
dessas mesmas produzem alimentos a partir de plantações próprias.
O estudo, intitulado A saúde no campo: das políticas oficiais à
experiência do MST e de famílias bóias-frias, foi realizado na
Universidade federal de Minas Gerais (UFMG). As pesquisas envolveram a
aplicação de questionários e entrevistas com 202 famílias dos três
diferentes públicos que moram na cidade mineira de Unaí.
Fonte: Agência Brasil
http://www.agenciabrasil.gov.br