Jeferson De é destaque do festival latino de cinema
- Detalhes
- Renisse Ordine, do Instituto de Estudos Latino-Americanos
- 30/07/2018
Cineasta Jeferson De
Com o objetivo de promover o cinema e cineastas da América Latina e Caribe, em suas produções mais recentes, o Festival dará destaque aos trabalhos cinematográficos de Jeferson De, cujas produções e temáticas valorizam a cultura negra e o cotidiano.
Neste ano de 2018, na 13ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, o Vale do Paraíba será representado pelo cineasta Jeferson De, da cidade de Taubaté, que em seu currículo tem como destaque o filme “Bróder”.
O festival, um dos mais importantes da América Latina, começou no dia 25 de julho. O cineasta realizou a abertura com a estreia do seu longa “Correndo Atrás”, muito aguardado pelo público brasileiro, pois já foi lançado em outro famoso evento, Pan AfricanFilm Festival 2018, Los Angeles, um dos mais respeitáveis do cinema negro das Américas.
O filme “Correndo Atrás” é uma adaptação do livro “Vai na bola, Glanderson”, escrito pelo comediante Hélio de La Peña, que trabalhou com Jeferson no roteiro para o cinema. Conta a história de Ventania, um trabalhador que decide tentar a sorte como empresário de futebol e acaba conhecendo Glanderson que, mesmo apresentando limitações, tem um grande potencial para o esporte.
Durante toda a semana do Festival de Cinema, até o dia 1º de agosto, outras produções de Jeferson também serão exibidas, como o já citado, Bróder; O Amuleto; Narciso Rap; Jonas, só mais um Gênesis; Distraída para a Morte e Carolina, um curta sobre Maria Carolina de Jesus e seu livro “Quarto de Despejo- Diário de uma favelada”.
Consta também em seu currículo uma extensa lista de filmes, curtas e séries na TV, como também o seu livro Dogma Feijoada e o cinema negro Brasileiro, lançado em 2005.
Formado em cinema pela USP, desenvolveu uma linha de pesquisa sobre “Diretores cinematográficos Negros”, o que o levou a elaborar o “Dogma da Feijoada”, itens que ressaltam a valorização dos negros em produções cinematográficas:
1. O filme tem de ser dirigido por realizador negro brasileiro;
2. O protagonista deve ser negro;
3. A temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira;
4. O filme tem de ter um cronograma exequível. Filmes-urgentes;
5. Personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos;
6. O roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro. Super-heróis ou bandidos deverão ser evitados.
Essa homenagem é um marco na história do evento, pois é a primeira vez em que um cineasta negro recebe esse destaque. O que ressalta toda a base e valorização de seu trabalho voltado para uma maior participação dos negros nas telas do cinema brasileiro, na árdua tentativa de reverter uma recente pesquisa da Ancine, fortemente requisitada pelos produtores brasileiros, cuja estatística revelou a baixa presença de profissionais negros nesta área.
Além de toda a sua arte cinematográfica, Jeferson De também participará da mesa de debate sobre “A Criação Audiovisual nos Filmes de Realizadores Afrodescendentes”, no dia 27.
Através da sua arte e da linguagem cinematográfica, a posição do negro na sociedade do nosso país vai sendo cada dia mais respeitada por todos os que acompanham esse movimento de um povo que fica à margem da sociedade por uma simples questão de pele, que nunca deveria ser sinônimo de desigualdade e discriminação em nenhuma parte do mundo.