Hospital de Clínicas da UFPR persegue os trabalhadores e aqueles que defendem a Saúde Pública!
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- Andrea
- 22/04/2008
No último dia 17 de abril, o Sinditest-PR (Sindicato dos Trabalhadores em Ensino Superior Público, que agrega trabalhadores da UFPR, UTFPR e FUNPAR/HC) foi surpreendido pela notícia de que um dos diretores do sindicato, Bernardo Pilotto, que trabalha na Central de Agendamentos do HC-UFPR, foi colocado 'à disposição', ou seja, foi afastado do seu local de trabalho. A Central de Agendamentos recebe, por dia, cerca de 1800 usuários do Hospital de Clínicas, que são recebidos por 40 funcionários, dentre eles Bernardo Pilotto. Como sabemos, o atendimento ao público no sistema de saúde é sempre precário e a realidade é que sempre se precisam de mais funcionários e não menos, ou seja, não faz sentido afastar um trabalhador desta área.
Na conversa com a coordenadora de atendimentos externos, foram alegados motivos 'técnicos' para o afastamento, especialmente a existência de reclamações dos usuários contra o servidor. Porém, não foram demonstradas provas por escrito destas reclamações. Deve-se entender também que todos os servidores recebem reclamações e elogios e com Bernardo Pilotto não é diferente, recebendo também vários elogios pelo seu atendimento, o que nunca significou qualquer premiação e, portanto, não deve ser motivo único para alguma punição. Se há dúvida quanto à qualidade do atendimento, deve ser feito um processo mais criterioso de avaliação, não apenas basear-se em supostas reclamações não demonstradas.
Um dia depois, em conversa com a chefe dos recursos humanos do HC, presenciada por outros servidores, ficou mais claro que o afastamento tinha motivações políticas e servia como represália ao panfleto distribuído no dia 7 de abril, de autoria do Sinditest-PR, que chamava os usuários e trabalhadores do SUS a lutarem por seus direitos de saúde pública de qualidade.
Sendo assim, não temos dúvidas que estamos diante de um caso de perseguição política contra aqueles que defendem os direitos dos que trabalham e dos que usam o Sistema Único de Saúde. O HC prefere retirar do Setor de Agendamentos os servidores que desejam lá trabalhar, quando vários servidores querem sair de lá, por não agüentarem o trabalho naquele ambiente. Devemos dizer que existem servidores que de fato pediram afastamento por condições de saúde, cansaço etc. Não é o caso do Bernardo Pilotto, que deseja continuar no seu posto de trabalho. Ao invés de priorizar a saúde de seus funcionários, o HC prefere alimentar o assédio moral e constranger aqueles que participam do sindicato.
Vale lembrar também que este não é um fato novo: em 2007, o servidor Ernani Boreli, que trabalhava na portaria, foi afastado da função depois de ter "dado entrevistas na Band que contrariaram o diretor do Hospital". Trata-se de uma das diversas declarações dadas por servidores à imprensa, em referência à greve que acontecia naquele momento. O afastamento de Ernani, e agora o de Bernardo Pilotto, institucionalizam a lei do silêncio no HC, em que é proibido falar das filas e dos problemas no atendimento do hospital.
Também não é a primeira represália ao servidor Bernardo Pilotto: em 2007 veio à mídia a notícia do tamanho das filas para o atendimento no HC. O usuário que vai ao HC muitas vezes leva 30, 40 e até mesmo 70 meses para ser atendido nas especialidades deste hospital. A administração do HC-UFPR considerou que a informação do tamanho das filas é 'sigilosa' e o fato dos números aparecerem na mídia indica que algum servidor 'vazou' a informação. Atribuíram a culpa do vazamento a Bernardo. No entanto, é evidente que estes dados não são sigilosos e deve-se considerar que qualquer cidadão que tenha acesso à informação deve priorizar a divulgação da verdade, não o acobertamento dos sérios problemas da administração do patrimônio público.
Bernardo Pilotto sofreu processo administrativo pelo simples fato de ter falado a verdade e a direção do HC perdeu o processo, que foi arquivado por falta de provas.
Começamos aqui uma campanha pela recolocação do servidor Bernardo Pilotto na Central de Agendamentos e chamamos todos aqueles que não tem medo de falar a verdade, que não se omitem ao fato dos usuários do HC terem de esperar mais de um ano pela maioria das consultas, que não aceitam imposições injustas das chefias, a se somarem nesta luta.
Moção
Exigimos imediata reintegração do servidor Bernardo Pilotto na Central de Agendamentos do Hospital de Clínicas da UFPR. Não aceitamos qualquer tipo de perseguição e ataque à liberdade de organização e atuação sindical. Sabemos também que este afastamento significa uma tentativa de amedrontar o Sinditest-PR, por conta do trabalho que vem fazendo em defesa da saúde pública e do projeto histórico do SUS, sempre em conjunto com o FOPS – Fórum Popular de Saúde.
Entendemos este ataque dentro de um contexto mais amplo de criminalização do movimento social, onde metroviários são demitidos em São Paulo, militantes do MST são assassinados em todo o Brasil (em especial no Paraná), estudantes são multados por conta de ocupações de Reitorias (inclusive na UFPR) ou pela luta do Passe-Livre, trabalhadores da FOSFERTIL são proibidos de entrarem em seus locais de trabalho, entre outros, além da nova lei de greve, que na prática proíbe as greves.
Não podemos nos calar diante deste ataque. Nossa resistência e nosso repúdio ajudam a impedir que os poderosos, ou aqueles que hoje ocupam cargos no poder, continuem seus ataques aos trabalhadores.
Por conta do exposto acima, reafirmamos a exigência de que o servidor Bernardo Pilotto seja reconduzido ao trabalho na Central de Agendamentos do Hospital das Clínicas da UFPR e que cessem as retaliações contra as justas manifestações dos servidores para que se restabeleçam as mínimas condições de diálogo e debate dentro da instituição.
SindiTest-PR, Central de Agendamentos - HC/UFPR
Websites: http://www.sinditest.org.br/ e http://www.fopspr.wordpress.com/
'Saúde não se vende
Louco não se prende
Quem tá doente é o sistema social'
(samba do Bloco Suvaco do Cristo - 1990)