Correio da Cidadania

Fazendeiros no Paraná tentam intimidar bispo por apoio a trabalhadores sem terra

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A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), preocupada com o clima de tensão social que se registra, sobretudo na região de Cascavel, no Paraná, vem manifestar sua apreensão diante da violência que ocorre no local e seu apoio e solidariedade a Dom Mauro Aparecido dos Santos, arcebispo metropolitano de Cascavel, que tem se manifestado em apoio às organizações do sem terra na região.

 

Para hoje à tarde, 16 de maio, os ruralistas programaram uma carreata que, segundo informações recebidas, vai se encerrar diante da Catedral metropolitana, numa clara expressão de pressão contra o arcebispo. Este ato é uma culminância de uma série de ações violentas que se registraram nos últimos dias contra os sem terra e os que os apóiam. A região de Cascavel já é conhecida pela violência contra camponeses praticada por milícias privadas. Certas da impunidade, as ações têm se tornado mais ousadas e planejadas, inclusive com o uso de instrumentos mais sofisticados.

 

No dia 14 de março, o Reverendo Luiz Carlos Gabas, da Igreja Anglicana (pároco da Paróquia da Ascensão, Jardim Alvorada, em Cascavel), por ter manifestado seu apoio à luta dos sem terra, teve seu carro abordado por outros dois veículos, numa demonstração de intimidação. O reverendo também tem recebido telefonemas estranhos em que a pessoa que chama permanece muda do outro lado da linha.

 

Na madrugada de 8 de maio, o acampamento Primeiros Passos, do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), com mais de 150 famílias, localizado na BR 369, entre os municípios de Cascavel e Corbélia, foi atacado por uma milícia privada. Homens fortemente armados invadiram o acampamento com tratores, retro-escavadeiras e um caminhão com uma grade de ferro, conhecida como quebra-mato, e com a carroceria blindada, de onde os pistoleiros efetuavam os disparos, uma espécie de "caveirão" (o  caveirão do agronegócio). Toda a plantação e as estruturas do acampamento, inclusive uma escola e uma igreja que o reverendo Luiz Carlos construíra, foram destruídas. Dez pistoleiros foram presos em flagrante. Entre os presos, estava Luciano Gomes Resende, um dos seguranças da empresa NF, presente na Estação Experimental da Syngenta, em outubro de 2007, quando foi assassinado Valmir Mota de Oliveira, o Keno. Num ato que soa como afronta, mais de 20 fazendeiros foram à delegacia pressionar a polícia contra a prisão dos pistoleiros.

 

Ontem, uma semana depois, os pistoleiros já foram libertados. Lideranças do acampamento receberam informações de fontes seguras de que haveria pessoas infiltradas no acampamento com a missão de matar Joaquim Ribeiro da Silva, do MLST e Celso, do MST. Ontem mesmo, ao final da tarde, uma moto parou em frente à casa de Joaquim, que estava fechada, e o motoqueiro perguntou aos vizinhos sobre ele e seus hábitos, a que horas chegava, quando saia etc. Hoje pela manhã, um carro suspeito também passou lentamente na frente da casa de Joaquim observando o movimento do acampamento. Segundo alguns acampados, o carro seria o mesmo utilizado para intimidar o reverendo anglicano.

 

A carreata de hoje tem o objetivo de mostrar a força dos ruralistas

 

A Coordenação Nacional faz suas as palavras de Dom Mauro, ao se confrontar com a violência e a destruição que as milícias provocaram: "Não podemos deixar que esse fato de desrespeito à pessoa humana e às leis seja esquecido. Não podemos permitir que o Paraná se torne uma terra onde o que vale é a lei da bala e funcionários de empresa de segurança escondem a cara dos verdadeiros mandantes".

 

Publicado no site da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

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