Correio da Cidadania

Soberba e covardia - a propósito de uma hidrelétrica que já morreu duas vezes

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O projeto Belo Monte, no rio Xingu, já morreu duas vezes. Em 1989, quando o I Encontro dos povos indígenas, em Altamira, repudiou o projeto e afastou os possíveis financiadores internacionais; morreu de novo em 2001, quando a corrupção na Eletronorte, com uma equipe da UFPA, de Belém, foi desmascarada pela Procuradoria da República e o estudo de impacto ambiental foi interrompido por decisão judicial.

 

Hoje a tarde, no ginásio poliesportivo que foi batizado com o nome de um deputado conhecido por ser um fundamentalista defensor do projeto hidrelétrico, mais de mil pessoas, brancos e negros, estudantes e adultos, índios e índias de várias etnias, presenciaram a exibição arrogante do gerente da Eletrobrás, Paulo Rezende, e em seguida a agressão covarde que sofreu por parte de vários índios e índias armados de bordunas e facões .

 

O engenheiro desconsiderou o risco que corria ao insistir com a exibição de novos estudos sobre barragens e represas que de algum modo prejudicariam os índios e deu o recado claro de que a sua empresa prosseguirá com os estudos e tentará fazer as obras, ou pelo menos uma delas, a malfadada Belo Monte.

 

Foi vaiado várias vezes, viu as evoluções da mesma índia Kaiapó Tuíra, com o filho num braço e o terçado reluzente no outro. Enfrentou o que não podia enfrentar, a segurança do evento inexistiu e foi descamisado, jogado ao chão, bordunado, tendo um corte profundo no braço.

 

Jornais e TVs daqui de Belém e de vários países registraram a cena. Concluam conforme suas consciências, lembrando, claro, que muitas hidrelétricas já empobreceram e infernizaram um milhão de brasileiros nas últimas décadas e que, nos cinco séculos de conquista branca, milhões de índios já foram escravizados, torturados, violados e assassinados nesse nosso berço esplêndido mal resolvido.

 

Oswaldo Sevá, em Altamira, onde na sessão da tarde da terça-feira, 20, falei no ginásio poliesportivo, antes do engenheiro Rezende. Por conta disso, apareci nos telejornais da Globo e outros uma fração de segundo no meio da quadra com o microfone.

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