Campanha contra os leilões do petróleo divide a UNE
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- Andrea
- 27/06/2008
O petróleo voltou a ser tema de debate no movimento estudantil brasileiro. No Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (Coneg da UNE), realizado de 19 a 22 de junho, na Universidade de Brasília (UnB), mais de 300 lideranças de 154 entidades estudantis resgataram a histórica luta do "Petróleo é nosso!". Só que, diferente da mobilização dos anos 1940 e 50, o movimento estudantil está dividido quanto aos rumos da campanha.
A resolução defendida pela direção majoritária da UNE e aprovada na plenária final ressalta a importância da exploração dos poços de petróleo para o desenvolvimento do Brasil e a soberania nacional. Aponta a necessidade da criação de uma nova lei de petróleo, que garanta a soberania nacional sobre as reservas brasileiras, sua extração, seu refino e distribuição. Entende como uma afronta à soberania qualquer tentativa de ingerência de outra nação na exploração de riquezas brasileiras.
A resolução ainda atrela a questão energética e a educação, propondo que a UNE paute com o governo a ampliação das verbas para educação pública através de investimentos públicos oriundos dos recursos do setor nacional petrolífero.
Presidente da UNE nega entrada no Fórum contra a Privatização do Petróleo e Gás
Ao ser questionada pela equipe da Agência Petroleira de Notícias se tal resolução significaria a entrada da UNE na campanha contra os leilões das áreas promissoras de petróleo e gás e sua adesão ao Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, a presidente nacional da entidade, Lúcia Stumpf, foi taxativa. "Não. A resolução que aprovamos não diz isso. Não entramos nesse Fórum. Vamos sim lutar pelo novo marco regulatório e para atrelar os rendimentos do petróleo com a educação", enfatizou a estudante de jornalismo das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo, que ao ser perguntada se a UNE defendia a recuperação do monopólio para Petrobrás 100% estatal, respondeu também sem titubear. "Não! Não é isso que aprovamos no Coneg. Não é essa nossa resolução".
Oposição acusa direção majoritária de atrelamento ao governo
O campo de oposição à direção majoritária da entidade pleiteou durante o encontro a entrada da UNE no Fórum Nacional Contra a Privatização do Petróleo e Gás, mas teve sua proposta derrotada. A resolução aprovada tem uma base muito semelhante à política defendida publicamente por Haroldo Lima (PC do B), presidente da Agência Nacional do Petróleo.
A ANP é a responsável pela organização dos leilões das áreas promissoras de hidrocarbonetos e, conseqüentemente, pela privatização dessas riquezas. A Frente de Oposição de Esquerda (FOE-UNE), que já vem participando do Fórum, mesmo assim avalia que o saldo no movimento estudantil da questão do petróleo é de relativo avanço.
"Pelo menos conseguimos pautar a discussão do combate à privatização de nossas riquezas naturais para um grande número de estudantes. Foi um avanço diante da política da direção majoritária, ligada ao PC do B, mesmo grupo que está à frente do processo de entrega do nosso petróleo. E vamos seguir pressionando para que a UNE entre de cabeça nessa luta e se integre ao Fórum. Os universitários precisam se unir ao MST, aos Sindipetros e às demais entidades sindicais e populares que vêm travando essa luta central para garantia da soberania popular", ressalta Vinicius Almeida, diretor de escolas públicas da UNE pelo FOE e integrante do coletivo ‘Nós Não Vamos Pagar Nada’.
Universidades Públicas se reúnem dentro do Coneg e organizam carta alternativa
O estudante de história da Universidade Federal Fluminense ainda destaca a realização, durante o Coneg, da Plenária de Universidades Públicas da UNE, que não ocorria desde 2005, e reuniu 15 instituições de ensino superior federais e estaduais. Os diretórios centrais dos estudantes destas escolas aprovaram uma carta bastante crítica à direção majoritária, que pedia a extinção das fundações privadas dentro das universidades públicas, rejeitava o Programa do Governo de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e exigia democracia interna.
No último dia do encontro, a plenária encaminhou, além da moção de apoio "O Petróleo é nosso", uma série de outras resoluções e planos de ação para o movimento estudantil brasileiro. Destaque para a aprovação do novo projeto de Reforma Universitária da UNE, que pontua dez eixos fundamentais para a consolidação de uma universidade que atenda às demandas dos estudantes e para o desenvolvimento do país, como a autonomia universitária. Essa proposta inclui entre outros pontos, a indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão; financiamento com 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e o fim da Desvinculação dos Recursos da União (DRU); democracia, com eleição direta para reitor nas universidades com eleição paritária e pelo fim da lista tríplice; implementação imediata do PL 73/99, que garante reserva de vagas para estudantes de escola pública, cotas e assistência estudantil que contemple alimentação, transporte e moradia estudantil.
Publicado originalmente no site da Agência Petroleira de Notícias.
Website: http://www.apn.org.br/