Organizações da região de Carajás ampliam mobilização por justiça nos trilhos de operação da Vale
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- Rogério Almeida
- 20/08/2008
A região de Carajás passa por profundas reorientações em seu território por conta do avanço da fronteira de grandes corporações sobre as reservas minerais e o agronegócio. Algo similar ao que ocorreu com a implantação do Projeto Grande Carajás na década de 1980. No pólo de Açailândia, a oeste do Maranhão, registra-se a ampliação do mesmo através da construção de uma aciaria e uma termoelétrica. É conhecido o caráter poluente do modelo de geração de energia a partir de termelétricas.
No vizinho Pará, no município de Marabá, uma aciaria da Vale também será construída. Além da ampliação da produção e verticalização do pólo de gusa, outros municípios passam a ter os territórios pressionados por conta da exploração mineral, como as tensões que se desenvolvem em Ourilândia do Norte, Tucumã, Xinguara e São Félix do Xingu.
A fábrica da Vale em Marabá tem sido motivo de festejo do governo petista em várias propagandas. A ação do governo petista em relação do grupo Vale tem sido orientada pelo aceno positivo às demandas da corporação, e mesmo com a prestimosa presença do presidente da República em inaugurações de projetos, como o registrado no município de Barcarena, por ocasião da ampliação da produção da fábrica Alunorte, do setor de alumínio.
A ferrovia de Carajás foi inaugurada na década de 1980, e que se encontra em fase de ampliação, corta 22 municípios nos estados do Pará e Maranhão. A via escoa o minério de ferro extraído na maior reserva do mundo, localizada a sudeste do Pará, no município de Parauapebas. O minério percorre 893 km até chegar ao porto do Itaqui, na capital do Maranhão, São Luís. Hoje, 12 trens com 330 vagões fazem chegar a vários cantos do mundo o minério sugado das terras amazônicas.
Por toda a extensão do projeto, há passivos sociais e ambientais, cidades inchadas por conta da migração, narrativas de tragédias de mortes de gente e animais, como os registros realizados em assentamentos da reforma agrária em Parauapebas cortados pelos trilhos da companhia.
E são esses passivos sociais e ambientais já conhecidos de alguns e ampliados por outras frentes que interessam a um conjunto de movimentos sociais articulados numa frente denominada ‘Justiça nos trilhos: a Companhia Vale do Rio Doce e a violência sócio-ambiental’.
A ação do coletivo iniciou em 2007 e tem entre os articuladores Missionários Cambonianos Brasil, Fórum Carajás, Fórum Reage São Luís, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Caritas Maranhão, Sindicato dos Ferroviários do Pará, Maranhão e Tocantins e a CUT Maranhão.
O objetivo da frente em primeiro plano é o acúmulo de informação e forças no Pará e Maranhão e exterior para a realização de grande debate sobre os impactos da ferrovia de Carajás. Nesse sentido, a partir de uma parceria com universidades do Maranhão e Pará, vem construindo uma base de dados jurídicos e sócio-econômicos. Uma outra ação da frente tem sido a mobilização em municípios impactados pela ferrovia e nas capitais dos estados, São Luís e Belém. A reunião da capital do Pará ocorreu no dia 19 de agosto na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O encontro foi o momento de apresentar a frente Justiça nos Trilhos, divulgar o site (http://www.justicanostrilhos.org/), informar sobre a agenda e definir algumas ações visando um grande painel durante o Fórum Social Mundial, a ser realizado em janeiro do ano que vem em Belém.
Incrementar a comunicação sobre os impactos sociais e ambientais a partir da ferrovia da Vale para o exterior e as comunidades originárias foi um dos pontos indicados na reunião. A ocasião ganhou o apoio da coordenação do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) e do regional do Fórum Social Mundial. Até se alcançar o FSM, a frente deseja realizar reuniões nos municípios de Marabá, São Luís, entre outros.
Os municípios de Açailândia e Bom Jesus da Selva já realizaram rodadas de debates sobre a frente que deseja a partir da mobilização garantir indenizações para as famílias afetadas pelos impactos da ferrovia, garantir compensações na região e reimplantar o Fundo de Desenvolvimento, extinto com a privatização ocorrida em 1997.
Rogério Almeida é colaborador da rede http://www.forumcarajas.org.br/, articulista do IBASE e Ecodebate.