Marina Silva define novos dirigentes para MMA e Ibama
- Detalhes
- Maurício Thuswohl
- 02/05/2007
A ministra Marina Silva já definiu todas as
mudanças que fará na cúpula do Ministério do Meio Ambiente e na direção
do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). As alterações na estrutura das secretarias do ministério,
assim como os novos nomes, estão sendo confirmados publicamente ao
longo desta semana, mas as mudanças já foram submetidas à aprovação do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite de terça-feira (24). O
presidente, segundo pessoas presentes ao encontro, gostou muito do que
ouviu, e disse "esperar inaugurar uma nova etapa em sua relação com o
setor ambiental do governo".
As mudanças anunciadas pela ministra de fato agradaram a Lula, mas
engana-se redondamente quem pensa que elas foram empurradas goela
abaixo de Marina, como quer fazer crer boa parte da grande imprensa. Na
verdade, Marina e as pessoas politicamente mais próximas a ela no MMA
vêm tentando emplacar mudanças na estrutura do ministério desde 2005,
quando Lula teve seu primeiro momento de grande irritação pública com o
setor ambiental. Ao mesmo tempo em que sempre se mostrou incomodada e
procurou contestar as críticas do presidente ao "entrave ao
desenvolvimento" que ele acredita ser provocado pelo Ibama, Marina
também trabalhou em silêncio para promover as mudanças que pudessem
trazer os resultados concretos exigidos por Lula, como, por exemplo, a
liberação dos grandes projetos hidrelétricos.
Do ponto de vista político, a principal transformação na estrutura do
MMA será a mudança do perfil da Secretaria-Executiva, que passará a ter
atuação mais voltada para dentro. Até então ocupada por Claudio Langone
- que é um quadro histórico do PT -, a Secretaria-Executiva sempre teve
atuação política destacada e influiu nos rumos do ministério, mas agora
centrará seu trabalho em questões administrativas internas consideradas
estratégicas pela ministra, como a gestão dos instrumentos econômicos.
O Fundo Nacional de Meio Ambiente, por exemplo, será transformado em
departamento que ficará sob a alçada da Secretaria-Executiva.
O novo secretário-executivo do MMA, já anunciado, é João Paulo
Capobianco, que até semana passada ocupava a Secretaria de
Biodiversidade e Florestas. Oriundo do movimento socioambientalista,
Capobianco foi, durante anos, dirigente do Instituto Socioambiental
(ISA) e da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA). No governo, manteve o
diálogo com os movimentos e consolidou-se como um dos principais
auxiliares da ministra. Agora, terá o desafio de azeitar a máquina para
essa nova etapa do ministério.
Uma fonte do MMA, que prefere manter o anonimato, conta que já faz
algum tempo que Marina fez o "diagnóstico de que as estruturas do
ministério e do Ibama, na forma em que estavam, não teriam condições de
responder aos grandes desafios colocados pelo segundo mandato de Lula".
Além da mudança no perfil da Secretaria-Executiva, a ministra avaliava
que "algumas secretarias se sobrepunham, outras não tinham foco e
outras eram pequenas demais". A principal intenção de Marina com a
reestruturação seria dar maior agilidade e eficiência ao ministério.
Nesse ponto, as idéias da ministra, segundo a fonte, "sempre encaixaram
direitinho com as de Lula".
Novas secretarias
Entre as novidades, a principal talvez seja a criação da Secretaria de
Recursos Hídricos e Meio Ambiente Urbano, que será responsável por duas
tarefas da maior importância nesses tempos de PAC: dialogar com os
governos estaduais e municipais em questões nevrálgicas como saneamento
e tratamento de lixo e coordenar os projetos de revitalização das
bacias hidrográficas (leia-se ajudar a descascar o pepino da
transposição do São Francisco). Marina convidou Langone para assumir
essa nova secretaria, mas o ex-secretário-executivo recusou. A escolha,
então, recaiu sobre outro petista: o ex-deputado federal Luciano Zica,
que não conseguiu se reeleger nas últimas eleições. Com essa mudança,
foi extinta a antiga Secretaria de Recursos Hídricos, que era comandada
por João Bosco Senra.
Também extinta será a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, que
era comandada por um outro petista histórico, Gilney Viana. Uma das
secretarias consideradas "fora de foco", por Marina, será substituída
pela Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Sustentável Rural.
Seu titular será o ex-vice-governador do Mato Grosso do Sul, o também
petista Egon Krakhecke, que durante o governo de Zeca do PT esteve à
frente da secretaria estadual de Meio Ambiente. Segundo fontes do MMA,
Krakhecke ganhou a confiança da ministra ao se mostrar "absolutamente
solidário ao ministério no combate às usinas que queriam construir no
Pantanal". Essa nova secretaria englobará também a antiga Secretaria de
Coordenação da Amazônia, que era comandada por Muriel Saragoussi.
Outra nova secretaria, de Cidadania Ambiental e Articulação
Institucional, terá a missão, segundo o determinado pela ministra, de
"dialogar com os movimentos sociais, o empresariado e outras esferas de
governo". Ela será assumida por um outro petista de carteirinha,
Hamilton Pereira, que foi secretário de Cultura no governo de Cristovam
Buarque no Distrito Federal e foi o primeiro secretário-geral da
história da CUT.
A Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental substituirá a
antiga Secretaria de Qualidade Ambiental, outra considerada sem foco. A
nova pasta vai incorporar a tarefa de acompanhar as importantes
discussões internacionais sobre o aquecimento global, e será comandada
por Thelma Krug, que ocupava um posto na direção do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integra a equipe de cientistas
brasileiros no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC,
na sigla em inglês) da ONU.
Completa o time de novos secretários do MMA a engenheira agrônoma Maria
Cecília de Brito, convida para substituir Capobianco na Secretaria de
Biodiversidade e Florestas. Ela já era próxima ao ministério, pois, nos
últimos cinco anos, foi coordenadora do Programa de Preservação da Mata
Atlântica. Ex-coordenadora da Aliança para a Conservação da Mata
Atlântica, Maria Cecília também trabalhou na secretaria estadual de
Meio Ambiente de São Paulo em governos do PSDB.
Muda estrutura do Ibama
Marina Silva também anunciou mudanças na estrutura da Ibama, mas não
confirmou os novos nomes da direção do órgão, que deverão ser
anunciados nos próximos dias. Em todo caso, é dada como certa a saída
do atual presidente, Marcus Barros, que é mais um petista histórico
colocado na "barca" que zarpou do MMA. Seu sucessor será o atual
diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, que já foi autorizado por
Lula e pelo ministro Tarso Genro (Justiça) a aceitar o convite feito
pela ministra.
A escolha foi a da preferência de Marina, que ficou amiga de Lacerda
devido à convivência proporcionada pelas diversas e bem-sucedidas
operações realizadas em conjunto pela PF e o MMA nesses últimos quatro
anos. Nesse caso, a ministra resistiu a pressões do PT, que tinha um
leque de nomes a oferecer, e também do PMDB, que tentou convencer Lula
a impor o nome do ex-deputado paraense José Priante, que é ligado a
Jader Barbalho e teria ajudado na eleição da petista Ana Júlia Carepa
para o governo do Pará.
Outro que deve ser substituído nos próximos dias é o diretor de
Licenciamento Ambiental do Ibama, Luiz Felipe Kunz, ainda sem
substituto confirmado. Essas alterações de nomes da direção devem se
juntar às mudanças anunciadas par dar ao Ibama o desempenho desejado
por Lula. As mudanças anunciadas são a criação de uma
Corregedoria-Geral, que será diretamente ligada à presidência do Ibama,
e a criação do Instituto Brasileiro de Conservação da Biodiversidade,
que vai tirar do Ibama a responsabilidade pela gestão das Unidades de
Conservação do país.
Fonte: Agência Carta Maior (http://www.agenciacartamaior.com.br)