Rede Ecumênica da Juventude Sudeste: o sonho e a realidade se beijaram
- Detalhes
- Andrea
- 24/09/2008
No dia 20 de setembro de 2008, jovens de diferentes Igrejas e Movimentos Sociais se reuniram para partilhar suas inquietações e suas experiências extra-muros dos diversos templos. Antes de tudo, é preciso que se diga: se engana quem pensa que os jovens de hoje não mais estão preocupados com os problemas do mundo. Estão! Que os jovens não têm mais utopia. Têm! Não somente no que diz respeito a eles, mas a todas as pessoas que habitam este imenso planeta, que McLuhan definiu como sendo uma imensa aldeia global – "global village".
O encontro deste dia foi tomado por uma única preocupação: o que estamos fazendo para construir um "outro mundo possível e necessário". O mais interessante deste encontro foi o ponto de partida. Pouco a pouco as discussões e partilhas evidenciaram que devemos partir daquilo que nos une. E o que nos une são os problemas comuns: alimentação, educação, saúde, transporte, moradia, trabalho, formação política, políticas públicas, lazer e cultura. Resumindo, uma melhor qualidade de vida, que a juventude do Brasil e do mundo têm direito.
Quanto ao que nos divide, achamos que podemos ir resolvendo à medida que vamos aproximando mais uns dos outros. Existe muita intolerância religiosa por parte das igrejas. Muitas vezes nos perdemos nos ritos litúrgicos e esquecemos que existem problemas que transpõem os "assuntos puramente religiosos". Não que não devemos discuti-los, devemos sim, mas desde que sinalize para um ponto de unidade, e isto ficou evidente em cada colocação. Contudo, em nosso primeiro encontro preferimos começar pelo que chamamos de ecumenismo-prático. Ou seja, se meu irmão ou minha irmã está com fome, não importa de qual Igreja ele ou ela seja, importa primeiro saciar-lhe a fome, e somente depois podemos discutir a melhor maneira de celebrar. Afinal, o que é mais importante na celebração: os ritos litúrgicos ou a vida?
A meu ver, as partilhas de experiências e as discussões caminharam para um ecumenismo que torna possível a vida. E foi com este pensamento que demos início no dia 20/09/2008 à constituição da Rede Ecumênica da Juventude Sudeste. A juventude que ali se encontrou nem parecia que pertencia a esta ou àquela nigreja, tal o grau de proximidade, de abertura e de interesse na solução de problemas comuns a todos e todas. No horizonte, um ecumenismo construído de baixo para cima. Da solução dos problemas para a celebração da vida.
Com muito mais certeza, os jovens hoje têm conhecimento de que está em curso um processo de "extermínio de jovens". Sem contar os que são tragados pelo tráfico sexual e pelo tráfico de drogas. Diante de necessidades tão urgentes as respostas também precisam ser urgentes. E a juventude reunida neste dia deu provas de que no que depender do seu empenho e da sua vontade o mundo poderá ter outro rumo, muito diferente deste para o qual estamos caminhando.
Os jovens da Rede Ecumênica da Juventude Sudeste também deixaram uma mensagem que muito bem pode ser expressa nas palavras do bispo anglicano Dom Sebastião Armando Gameleira Soares: "Nosso dever de pastores do povo nos obriga a não nos refugiar nos ‘assuntos da religião’, mas a ter ‘visão religiosa’ dos assuntos da vida humana". Da mesma forma expressa o teólogo Hans Küng: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões! Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões".
Para mim, que estive presente neste fértil e promissor momento, vejo que a Rede Ecumênica da Juventude Sudeste lançou a primeira semente neste sentido. E como costumamos afirmar: a juventude não é o futuro da humanidade, ela é o presente e é no presente que ela constrói o seu futuro e o futuro de toda a humanidade.
Os frutos deste momento tão rico somente o tempo e a história mostrarão. Mas se depender da maneira como está sendo plantada a semente não há dúvidas de que serão promissores. E as palavras de um dos organizadores evidenciam bem esta promessa. Disse ele: "Para nós, este encontro foi uma brisa que nos ajuda e nos sara de muitas feridas causadas pela intolerância religiosa. Para a caminhada ecumênica, em meio ao conservadorismo e ao fundamentalismo de muitas das nossas igrejas, foi o alimento para a nossa esperança!"
Ao final do encontro, um único pensamento: "tanto nesta jornada como em outras que participamos, o sonho e a realidade se beijaram". Um passo a mais na direção do amor entre os seres humanos!
Wilson Aparecido Lopes é missionário.