Correio da Cidadania

Comunicado dos estudantes da USP à sociedade

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O Correio publica abaixo o comunicado à sociedade dos estudantes da USP que ocupam a reitoria da Universidade desde o dia 3 de maio.

 

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Os estudantes da USP que ocupam a reitoria desde o dia 03/05, reunidos  em plenária, decidiram vir a público prestar esclarecimentos com relação  às informações veiculadas na imprensa sobre o movimento, assim como  nossas resoluções sobre as reuniões propostas pela reitoria e a Polícia  Militar. Nosso movimento defende a educação pública contra os ataques do  governador José Serra e a conivência das reitorias das Universidades
Estaduais paulistas. É por isso que somos contra os decretos assinados  pelo governador no início deste ano, que ferem não somente a autonomia  de gestão financeira, mas principalmente comprometem o caráter reflexivo  e crítico que deve caracterizar ensino, pesquisa e extensão, na medida  em que privilegiam as "pesquisas operacionais" - aquelas que favorecem o  lucro privado em detrimento dos interesses da maioria da população.

 

Exemplo claro disto é a alocação da FAPESP na Secretaria de Desenvolvimento, separada das Universidades. Reiteramos que estes decretos vieram agravar o processo de sucateamento da educação pública, já manifestado nos vetos ao aumento de verbas para as Universidades.

 

Ocupamos a reitoria em protesto contra seu silêncio e omissão, para sermos escutados e abrirmos o debate com a sociedade. Fomos acusados de "vândalos" e "violentos" por termos danificado uma porta. Violentos não seriam os governos que impedem a maioria da população de ter acesso à Universidade Pública, que é elitista e racista por responsabilidade dos mesmos que hoje nos criminalizam? Violentos não seriam os que têm punido juridicamente manifestações políticas, como esta ocupação? Violentos não seriam os que destroem a educação pública e reprimem os que querem defendê-la? Violenta não seria a polícia que reprime, dia a dia, a população pobre, negra, os trabalhadores e os movimentos sociais?

 

Frente a toda essa violência, uma porta não é nada. José Serra nos chamou de "mentirosos e desinformados" e declarou que a autonomia não foi ferida. É um ataque lamentável, como os que ele mesmo desfere contra o ensino público e que devem ser repudiados pela população. A respeito da gestão das verbas da Universidade, Pinotti em entrevista à Folha de São Paulo declarou: "Suponha que haja um remanejamento maluco. Cabe ao governador
dizer não". Isso fere claramente a autonomia, pois deixa a critério do governo o que é "maluco". E sabemos que "maluco" para eles é investir na Universidade Pública, gratuita e de qualidade.

 

É falsa a afirmação de que somos contra a transparência das contas da Universidade. defendemos a publicização de toda a movimentação financeira interna da Universidade, o que também deve incluir as contas das fundações de direito privado, que usurpam o dinheiro e a estrutura da Universidade Pública para beneficiar um punhado de grandes empresas privadas e a burocracia acadêmica. Porém, a mera prestação de contas é insuficiente. A USP já disponibiliza os dados de seus gastos para toda a população
na internet. O Siafem (Sistema Estadual de Controle e Registro de Gastos), ao contrário, não é aberto ao público (é necessária uma senha para acessá-lo, disponível apenas para o Judiciário e o Legislativo). O argumento da transparência é falso, trata-se de uma centralização das decisões e informações.

 

O mesmo governo que se declara a favor da transparência não publicou a previsão e a arrecadação do ICMS dos meses de março e abril, argumento dado para a não definição do reajuste salarial dos servidores. E mais, queremos que o destino das verbas seja definido não somente por uma minoria de professores, como é hoje, mas democraticamente, pela comunidade universitária em diálogo com a população, para que não esteja de acordo somente com os interesses de uma minoria. Combatemos a concepção que trata como "privilégios" direitos sociais inalienáveis, como educação, saúde e previdência. O
resultado deste processo é que direitos sociais que deveriam ser garantidos para todos são transformados em mercadoria que só alguns podem adquirir.

 

É por isso que dizemos à população que o discurso do governo "contra o elitismo da Universidade" é oportunista. Não somos nem "privilegiados" nem "corporativistas". Defendemos a universidade dos ataques que vem sofrendo e lutamos para transformá-la, para que seja de fato pública, tanto em seu acesso e permanência à população que mais
necessita, quanto no caráter do conhecimento nela produzido. É por isso que chamamos a sociedade para lutarmos juntos pela real democratização das Universidades Públicas.

 

Frente a isso, declaramos que:

 

1 - Apoiados por professores, pela Assembléia de estudantes e de funcionários da USP, dentre outros segmentos da sociedade civil, diversas Universidades e movimentos sociais reiteramos nosso repúdio a qualquer punição, seja ela de caráter administrativo ou judicial, contra qualquer integrante do movimento de ocupação da reitoria da USP, sobre o
qual recaia qualquer implicação processual em razão deste movimento político.

 

2 - Com relação à reunião com a PM: o que está sendo proposto não se trata de uma negociação. A única negociação possível é com a reitoria. Defendemos a autonomia da Universidade e negociar com a PM seria um ataque a esta autonomia que estamos defendendo. Por isso, não participaremos da reunião e mandaremos apenas representantes jurídicos para entregar oficialmente este comunicado e defender nosso movimento e
nossas reivindicações. É importante lembrar que reintegrações de posse com uso de força policial não ocorrem na USP desde os obscuros anos da ditadura militar, quando centenas de pessoas foram presas e torturadas por lutar pela democracia na Universidade e no país. Não vamos compactuar com uma intervenção que reinstitui práticas ditatoriais e, se
houver uso da força policial, resistiremos.

 

3 - Com relação à negociação com a reitoria e nossa pauta: sempre estivemos abertos à negociação. Esperamos que a reitoria avance no atendimento às nossas reivindicações, que não são somente moradia e autonomia como a imprensa tem veiculado. Temos uma pauta com 17 pontos.  Esperamos que a reitoria avance com relação à proposta do dia 08/05, já rejeitada em Assembléia Geral dos Estudantes da USP, que contou com mais de 2000 estudantes.

 

4 - Chamamos toda a população a participar das nossas atividades, pois nossa luta é em defesa da educação pública.

 

Contamos com o apoio dos que se o opõem à repressão e defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.

 

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