Comunicado dos estudantes da USP à sociedade
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- 24/05/2007
O Correio publica abaixo o comunicado à sociedade dos estudantes da USP que ocupam a reitoria da Universidade desde o dia 3 de maio.
Os estudantes da USP que ocupam a reitoria desde o dia 03/05, reunidos em plenária, decidiram vir a público prestar
esclarecimentos com relação às
informações veiculadas na imprensa sobre o movimento, assim como nossas resoluções sobre as reuniões propostas
pela reitoria e a Polícia Militar. Nosso
movimento defende a educação pública contra os ataques do governador José Serra e a conivência das
reitorias das Universidades
Estaduais paulistas. É por isso que somos contra os decretos assinados pelo governador no início deste ano, que ferem
não somente a autonomia de gestão financeira,
mas principalmente comprometem o caráter reflexivo e crítico que deve caracterizar ensino,
pesquisa e extensão, na medida em que
privilegiam as "pesquisas operacionais" - aquelas que favorecem o lucro privado em detrimento dos interesses da
maioria da população.
Exemplo claro disto é a alocação da FAPESP na Secretaria de Desenvolvimento, separada das Universidades. Reiteramos que estes decretos vieram agravar o processo de sucateamento da educação pública, já manifestado nos vetos ao aumento de verbas para as Universidades.
Ocupamos a reitoria em protesto contra seu silêncio e omissão, para sermos escutados e abrirmos o debate com a sociedade. Fomos acusados de "vândalos" e "violentos" por termos danificado uma porta. Violentos não seriam os governos que impedem a maioria da população de ter acesso à Universidade Pública, que é elitista e racista por responsabilidade dos mesmos que hoje nos criminalizam? Violentos não seriam os que têm punido juridicamente manifestações políticas, como esta ocupação? Violentos não seriam os que destroem a educação pública e reprimem os que querem defendê-la? Violenta não seria a polícia que reprime, dia a dia, a população pobre, negra, os trabalhadores e os movimentos sociais?
Frente a toda essa violência, uma
porta não é nada. José Serra nos chamou de "mentirosos e
desinformados" e declarou que a autonomia não foi ferida. É um ataque
lamentável, como os que ele mesmo desfere contra o ensino público e que devem
ser repudiados pela população. A respeito da gestão das verbas da Universidade,
Pinotti em entrevista à Folha de São Paulo declarou: "Suponha que haja um
remanejamento maluco. Cabe ao governador
dizer não". Isso fere claramente a autonomia, pois deixa a critério do governo
o que é "maluco". E sabemos que "maluco" para eles é
investir na Universidade Pública, gratuita e de qualidade.
É falsa a afirmação de que somos
contra a transparência das contas da Universidade. defendemos a publicização de
toda a movimentação financeira interna da Universidade, o que também deve
incluir as contas das fundações de direito privado, que usurpam o dinheiro e a
estrutura da Universidade Pública para beneficiar um punhado de grandes
empresas privadas e a burocracia acadêmica. Porém, a mera prestação de contas é
insuficiente. A USP já disponibiliza os dados de seus gastos para toda a
população
na internet. O Siafem (Sistema Estadual de Controle e Registro de Gastos), ao
contrário, não é aberto ao público (é necessária uma senha para acessá-lo,
disponível apenas para o Judiciário e o Legislativo). O argumento da
transparência é falso, trata-se de uma centralização das decisões e
informações.
O mesmo governo que se declara a
favor da transparência não publicou a previsão e a arrecadação do ICMS dos
meses de março e abril, argumento dado para a não definição do reajuste salarial
dos servidores. E mais, queremos que o destino das verbas seja definido não
somente por uma minoria de professores, como é hoje, mas democraticamente, pela
comunidade universitária em diálogo com a população, para que não esteja de
acordo somente com os interesses de uma minoria. Combatemos a concepção que
trata como "privilégios" direitos sociais inalienáveis, como
educação, saúde e previdência. O
resultado deste processo é que direitos sociais que deveriam ser garantidos
para todos são transformados em mercadoria que só alguns podem adquirir.
É por isso que dizemos à
população que o discurso do governo "contra o elitismo da
Universidade" é oportunista. Não somos nem "privilegiados" nem
"corporativistas". Defendemos a universidade dos ataques que vem
sofrendo e lutamos para transformá-la, para que seja de fato pública, tanto em
seu acesso e permanência à população que mais
necessita, quanto no caráter do conhecimento nela produzido. É por isso que
chamamos a sociedade para lutarmos juntos pela real democratização das
Universidades Públicas.
Frente a isso, declaramos que:
1 - Apoiados por professores,
pela Assembléia de estudantes e de funcionários da USP, dentre outros segmentos
da sociedade civil, diversas Universidades e movimentos sociais reiteramos
nosso repúdio a qualquer punição, seja ela de caráter administrativo ou
judicial, contra qualquer integrante do movimento de ocupação da reitoria da
USP, sobre o
qual recaia qualquer implicação processual em razão deste movimento político.
2 - Com relação à reunião com a
PM: o que está sendo proposto não se trata de uma negociação. A única
negociação possível é com a reitoria. Defendemos a autonomia da Universidade e
negociar com a PM seria um ataque a esta autonomia que estamos defendendo. Por
isso, não participaremos da reunião e mandaremos apenas representantes
jurídicos para entregar oficialmente este comunicado e defender nosso movimento
e
nossas reivindicações. É importante lembrar que reintegrações de posse com uso
de força policial não ocorrem na USP desde os obscuros anos da ditadura
militar, quando centenas de pessoas foram presas e torturadas por lutar pela
democracia na Universidade e no país. Não vamos compactuar com uma intervenção
que reinstitui práticas ditatoriais e, se
houver uso da força policial, resistiremos.
3 - Com relação à negociação com a reitoria e nossa pauta: sempre estivemos abertos à negociação. Esperamos que a reitoria avance no atendimento às nossas reivindicações, que não são somente moradia e autonomia como a imprensa tem veiculado. Temos uma pauta com 17 pontos. Esperamos que a reitoria avance com relação à proposta do dia 08/05, já rejeitada em Assembléia Geral dos Estudantes da USP, que contou com mais de 2000 estudantes.
4 - Chamamos toda a população a participar das nossas atividades, pois nossa luta é em defesa da educação pública.
Contamos com o apoio dos que se o opõem à repressão e defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.