Tensão e medo na iminência de mais um despejo Guarani Kaiowá
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- João Zanela, Brasil de Fato
- 28/08/2009
No dia 26 de agosto expirou o prazo de 90 dias dado pela Desembargadora do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Marli Ferreira, em São Paulo, para que a comunidade Nhanderu Laranjeira, de 35 famílias (em torno de 130 pessoas, das quais 60 são crianças e adolescentes) deixasse os 420 hectares que atualmente ocupam. "Se sairmos daqui, não sei para onde ir. "Não temos para onde ir", reclamou o Cacique Faride Kaiowá da terra indígena Laranjeira Nhande Ru, acampamento Guarani Kaiowá, situado no município de Rio Brilhante.
Além da ordem de despejo, não foram realizados ainda os estudos antropológicos de identificação da terra por força de outra decisão dada pelo TRF3 que suspendia as Portarias da FUNAI do Grupos de Trabalho no MS. Decisão essa que só foi suspensa recentemente, no dia 26 de agosto.
Na tarde desta quinta feira, dia 27, rostos pintados e tensos demonstravam a apreensão em esperar chegar a ordem de despejo. Um grupo de indígenas esperava na beira da rodovia, notícias que pudessem aliviar a tensão.
Na entrada da fazenda onde se encontram, uma grande corrente e um cadeado fecha a porteira que abre a passagem para o acampamento, que fica há 3,5 km da estrada, cercado por plantações de milho recém colhidas e canaviais existentes nesta região por todos os lados.
A comunidade indígena Guarani-Kaiowá de Laranjeira Nhande Ru retornou à sua terra de origem no final do ano de 2007 e reivindicam 3.666 hectares como sendo terra tradicional de seus antepassados. Vieram da aldeia Panambi, que tem 1.240 hectares onde vivem cerca de 350 famílias, na região de Douradina, que se tornou mais um confinamento pelo crescente aumento da população.
Vivendo em condições miseráveis e sem condições de produzir seus próprios alimentos, eles sobrevivem das cestas básicas da Fundação Nacional do Índio (Funai), que a cada 15 dias chegam no acampamento. Não podem plantar nada no local, vigiado constantemente por seguranças armados contratados pelo fazendeiro, que mantinham os indígenas em constante ameaça e tensão.
Segundo a liderança Ilda Barbosa de Almeida, duas crianças já morreram no local por que o socorro esperado da Funasa não pôde entrar na propriedade. Um menino de 8 anos teve uma complicação pulmonar e precisava ser levado ao hospital, mas os seguranças armados não deram permissão para que o carro pudesse entrar. O mesmo aconteceu com um bebê de 1 ano e 7 meses, que teve que ser removido pelos indígenas até a beira da rodovia pelo meio do mato em estado grave de desidratação. Ambos vieram a falecer no hospital.
Neste período de ocupação, outras quatro mortes trágicas no acampamento entram para as tristes estatísticas do povo Guarani Kaiowá, sendo um atropelamento e três suicídios. Dois deles aconteceram antes de dois pedidos de reintegração de posse do fazendeiro. O medo, a constante tensão e a perspectiva de ainda ter condições piores de vida levam muitos deles a preferir a morte. O índice de suicídios entre os Guarani Kaiowá está entre os piores do planeta.
Enquanto isso, a comunidade indígena Guarani Kaiowá de Laranjeira Nhande Ru, com muita tensão e medo na iminência de serem despejados para a beira da estrada e mais indígenas cometerem o suicídio, aguardam com muita reza e cantos antigos em língua própria o recurso do Ministério Público Federal e pela Advocacia Geral da União para reverter a sua atual situação.