Após 7 anos em funcionamento, terminal da Cargill tem estudo ambiental debatido
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- Andrea
- 16/07/2010
No Pará, um exemplo clássico mostra o poder que as empresas multinacionais têm sobre governos. Com sete anos em funcionamento no Porto de Santarém, o terminal graneleiro da Cargill só agora teve o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) discutido numa audiência pública, ocorrida no último dia 14. Ou seja, o terminal da Cargill, segundo aponta o Greenpeace, foi inaugurado sem a apresentação do EIA e a realização de debates em audiências públicas.
De acordo com Raquel Carvalho, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, a audiência é uma parte do processo de licenciamento e serve para a Secretaria do Estado de Meio Ambiente (Sema) colher subsídios que ajudarão no parecer que concederá ou não o licenciamento do projeto.
Raquel destaca que a audiência sobre o estudo do terminal contou com pessoas a favor e contra o empreendimento. "A comunidade está bem polarizada. De um lado, tem os sojeiros atraídos pelas terras baratas e a infra-estrutura de escoamento do grão; de outro, há as comunidades que já ocupavam o local, pessoas ligadas à agricultura familiar, para as quais a expansão da soja é uma ameaça", afirma.
A integrante do Greenpeace comenta ainda que o Ministério Público do Pará apresentou, na ocasião, uma análise revelando várias falhas no estudo. "O MP vai entrar com inquérito policial para investigar fraude nos dados. Os dados apresentados no Estudo de Impacto Ambiental não correspondem à realidade", destaca.
Para Raquel, o importante é verificar os efeitos da obra. "Agora é analisar a extensão
dos impactos para ver como podem ser mitigados ou recompensados", declara. Além disso, a agrônoma mostra preocupação com os impactos que a ampliação do terminal poderá causar. Isso porque a Cargill, cujo terminal de Santarém já possui um armazém com capacidade para 60 mil toneladas de grãos, anunciou que ampliará o empreendimento com um novo armazém para mais 30 mil toneladas.
Segundo informações do Greenpeace, a construção do terminal da Cargill em Santarém aumentou a procura por terras para a produção de soja na região. Prova disso é que, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de soja no Pará não ocupava mais do que 2,3 mil hectares em 1999-2000. Em 2003-2004, quando o terminal já estava em operação, o número de hectares para o plantio da soja saltou para 35 mil.
"Dois anos depois, ela estava sendo plantada em 79 mil hectares - prova que o Porto da Cargill de fato contribui para a conversão desenfreada do uso do solo", apontou a organização em reportagem divulgada na última quarta-feira.
Na matéria, Greenpeace ainda destacou a relação da expansão da soja na região com o desmatamento. "Entre 1999 e 2006, o desmatamento no estado pulou de 510 mil para 880 mil hectares anuais. Em Santarém e Belterra, municípios onde a ocupação da soja não passava dos 50 hectares em 2000 e onde crescia tanto mata virgem como floresta secundária em avançado estágio de regeneração, tombaram árvores em pouco mais de 80 mil hectares", afirmou.
Por Karol Assunção, Adital.