Violência em Raposa Serra do Sol
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- 20/06/2007
O Conselho Indígena de Roraima encaminhou, no dia 18 de junho de 2007, uma representação ao Ministério Publico Federal em Roraima, à Polícia Federal e à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da Republica denunciando o novo ataque às lideranças indígenas e comunidades da região Surumu, TI Raposa Serra do Sol.
No dia 14 de junho de 2007, integrantes das comunidades indígenas da Região de Surumú, TI Raposa Serra do Sol, começaram a reocupar pacificamente um lugar tradicional chamado Parawani. Durante o trabalho receberam ameaças de pessoas que trabalham em lavoura de arroz próxima.
No dia 17, um carro dirigido pelo Tuxaua Anselmo Dionísio Filho, da comunidade do Barro, foi seguido por uma caminhonete L 200 de cor branca e que fazia filmagem, num claro sinal de intimidação.
Quando a caminhonete parou, deu-se conta que os ocupantes eram o rizicultor Paulo César Quartiero (ex-prefeito de Pacaraima), Márcio Junqueira (Deputado Federal de Roraima), e uma equipe de televisão.
O tuxaua Anselmo perguntou o porque daquele da perseguição. Com ele estavam dois alunos do Centro Indígena de Formação, que ficaram bastante assustados com a perseguição.
Anselmo pediu-lhes para que parassem de filmar, mas elas não atenderam. Ao contrário, o deputado Marcio Junqueira acusou os três indígenas de serem invasores, e manipulados por terceiro.
Depois horas do incidente com o deputado, o ex-prefeito Paulo César Quartiero e ex-vice-prefeito Anísio Pedrosa (sem capuz) foram até a comunidade Parawani. Eles entraram na área em um carro L 200 cor branca, observaram a movimentação e depois retornaram para a estrada, onde o estavam estacionados dois veículos , sendo um caminhão vermelho e outro branco.
Minutos depois, a L 200, seguida pelos caminhões, invadiram a comunidade. Dos veículos desceram homens encapuzados e armados com armas de fogo, paus e terçados (facões). Eles cercaram os indígenas e disseram para ninguém correr e ordenaram que derrubassem o barracão.
Os encapuzados apontavam as armas para os indígenas e os ameaçavam dizendo que quem corresse levaria um tiro na cabeça. Alguns tentaram correr, porém, foram impedidos pelo disparo de arma de fogo. Uma criança de 12 anos, Lírio Andrade da Silva, correu assustada e até o presente momento está desaparecida.
Os índios foram obrigados a subir no caminhão branco, sob a ordem de manterem as cabeças abaixadas para não serem baleados. Os homens encapuzados quebraram o barracão, cortaram a lona, quebraram telhas, derramaram óleo diesel nos mantimentos e embarcaram as ferramentas dos indígenas no caminhão.
Após a violência cometida, os homens encapuzados não deixaram os indígenas descerem do caminhão e os levaram para a rodovia federal que dá acesso ao município de Uiramutã. No caminhão, os homens encapuzados derramavam os mantimentos pelo caminho, chamavam os índios de invasores e malandros. Ainda os ameaçavam dizendo que “se eles retornarem não iam contar mais estória. Que não tinham mais irmão e nem parente lá “. Então, chegados à rodovia, fizeram os índios descerem e foram embora.
Para o Conselho Indígena, este novo ataque foi possível graças ao clima sem-lei e de impunidade que permanece em Raposa Serra do Sol, devido à omissão do Estado em tomar as medidas necessárias para proteger a vida e integridade física dos povos indígenas, inclusive devido a não retirar os invasores da área.
Passados mais de dois anos da homologação da terra indígena, os povos da Raposa Serra do Sol seguem impedidos de gozarem seus direitos territoriais e enfrentam dias de desumana insegurança frente às constantes ameaças e aos severos ataques de violência, perpetrados por ocupantes não-índios que se recusam a sair da terra indígena.
O apoio de políticos locais e nacionais às ações de resistência e aos ataques contra os indígenas constitui sério agravante. Munidos de poder político e econômico, que lhes asseguram impunidade, além de atentarem contra as vidas de indígenas da Raposa Serra do Sol, esses indivíduos cultivam na sociedade roraimense um forte sentimento anti-indígena que afeta a reputação do Estado brasileiro como estado democrático e multicultural.
Fonte: CIMI