Nobel de Economia Joseph Stiglitz diz que resgate aos bancos espanhóis "não vai funcionar"
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- 13/06/2012
O mais recente “pinchacarneiro” do capitalismo europeu para tentar que os povos arquem com a crise do sistema, a intervenção de apoio aos bancos espanhóis em falência, não vai dar certo, segundo Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001.
O apoio mútuo entre os bancos e os seus representantes oficiosos na institucionalidade capitalista, os governos burgueses, não é a solução para ultrapassar a crise estrutural do sistema, que não deixa de aprofundar-se.
Não o dizemos os e as "radicais" do Diário Liberdade. São palavras de um economista do sistema, o Nobel Joseph Stiglitz, que denomina "economia vudu" a forma como se produz a ajuda constante entre grandes capitalistas financeiros e governos "democráticos". O mais recente capítulo desta novela sem fim é a intervenção da troika na economia espanhola, com um empréstimo de até 100 bilhões de euros destinados a financiar os buracos dos principais bancos espanhóis.
O economista norte-americano, da Universidade de Columbia, afirmou numa entrevista que, uma vez que os bancos são os principais compradores de dívida soberana, o governo poderia ver-se obrigado a pedir ajuda aos bancos aos quais agora chegarão fundos europeus. "Se o governo espanhol resgata os bancos e a banca resgata o governo, o sistema converte-se numa economia vudu. Não vai funcionar e não está funcionando", disse, enfaticamente.
As receitas de Stiglitz, como se sabe, ficam longe de representarem uma solução para os povos, que deveria ser acorde com a imprescindível ruptura com o capitalismo. Unicamente defende outras fórmulas, dentro do capitalismo, que não estão sendo ensaiadas na atualidade na Europa. Nomeadamente, fala de "acelerar a discussão sobre um sistema bancário comum", porque, acrescenta, "não há maneira de que, quando uma economia entra em queda, seja capaz de sustentar políticas que restaurem o crescimento sem uma forma de sistema europeu".
Stiglitz é um economista pró-capitalista que foi conselheiro econômico do antigo presidente democrata dos EUA Bill Clinton, mas é crítico com os pacotes de austeridade como solução anti-crise. O Nobel de 2001 afirma que o que a UE fez até agora foi "mínimo e numa direção errada", porque as medidas de austeridade para diminuir o risco da dívida têm como resultado diminuir o crescimento e fazer aumentar o peso da dívida, disse ainda.
Voltar ao crescimento é possível? É desejável?
De fato, não há já praticamente crescimento no capitalismo europeu, norte-americano e japonês, o que indica, segundo diferentes economistas marxistas, um esgotamento final do sistema. Porém, Stiglitz mantém esperanças de retomar o crescimento e salvar o capitalismo, mas afirma que "ter extintores de incêndio quando se está jogando gasolina na fogueira não vai adiantar. Vai ser preciso enfrentar o problema de base, que é o de promover o crescimento", disse.
Stiglitz situa na Alemanha a máxima responsabilidade para uma retificação: "A Alemanha vai ter de enfrentar a questão: quer pagar o preço que se seguiria a uma dissolução do euro, ou quer pagar o preço de manter vivo o euro?". "Penso que o preço que eles vão pagar se o euro se desintegrar será maior do que o preço que vão pagar para manter o euro. Espero que percebam isso, mas podem não perceber", arrematou.
Ainda que no fundo todos eles coincidam no desejo de manter vivo um sistema intrinsecamente injusto e abocado às crises, não deixa de ter interesse observar as contradições dos diferentes gurus do capitalismo senil atual.
Debates como esse deixam em evidência tanto a incapacidade de uns e outros para conterem a crise em curso como a possibilidade certa de que, na sua eventual voragem autodestrutiva final, o capitalismo possa vir a derivar em formas ainda piores do que o terrível pesadelo que já representa para maioria da humanidade.
Fonte: Diário Liberdade.