Correio da Cidadania

Política de segurança vê periferia como o inimigo a ser combatido

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Depoimentos revelam que polícia ainda não aprendeu a se relacionar com as comunidades de baixa renda. Moradora da Rocinha relata que Estado chega com as armas e ignora carências de todos os tipos.

 

Durante as manifestações pela redução das tarifas, uma declaração do poeta Sérgio Vaz, fundador da Cooperifa, ganhou destaque na imprensa alternativa. Ele defendia maior organização dos coletivos culturais frente ao momento político vivido pelo país. “Nós sabemos que quando o bicho pega, sempre sobra primeiro para a periferia. E o que sobra aqui para nós não é bala de borracha”, alertou o poeta.

 

Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) confirmam a denúncia. Entre janeiro de 2010 e junho de 2012, quase 2,9 mil (2.882) pessoas foram mortas em supostos confrontos com policiais em quatro estados brasileiros: Santa Catarina (137), Mato Grosso do Sul (57), Rio de Janeiro (1590) e São Paulo (1098).

 

Débora Maria, coordenadora do movimento Mães de Maio, que organiza familiares de jovens mortos por policiais, aponta as contradições das políticas de segurança.

 

“Nós vivemos num suposto país democrático, mas temos essa truculência numa instituição policial, onde pagamos o seu salário e pagamos a bala que mata os nossos filhos”.

 

Segundo a Anistia Internacional, em 2011, o número de mortes em autos de resistência apenas no Rio de Janeiro e São Paulo foi 42,16% maior do que todas as penas de morte executadas – após o devido processo legal – em 20 países.

 

Polícia pacificadora

 

Michele Silva, moradora da Rocinha, maior favela do país, conhece bem a postura de uma polícia que ainda não aprendeu a se relacionar com as comunidades de baixa renda. A Rocinha é uma das favelas onde foram instaladas as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Para Michele, não basta apenas trocar a arma do traficante pela do policial.

 

“O defeito das UPPs é o Estado vir com as armas e não trazer o que as pessoas precisam. São carências de todos os tipos, saúde, educação e atenção do Estado de alguma maneira”.

 

Quando a mãe de Michele soube que a UPP chegaria em breve à Rocinha, se apressou em juntar todas as notas fiscais e boletos dos aparelhos eletrônicos mais caros. Muitos deles comprados em 24 vezes no crediário.

 

“O clima de insegurança aumenta muito e você fica com medo. Tudo é motivo para eles abordarem. Se você tem um relógio mais caro, eles querem saber como você conseguiu. Se eles entram na sua casa e veem que você tem algum bem, eles acham que você tem algum tipo de envolvimento porque o pobre não pode ter televisão de plasma e computador”.

 

“Extermínio”

 

Débora explica que a desmilitarização das polícias no Brasil, defendida pelos movimentos sociais, já foi recomendada por diversas organizações internacionais. Todas as sugestões foram ignoradas.

 

“As polícias devem ser preventivas e comunitárias. Não ser inimigas da população, principalmente da periferia. Os inimigos maiores deles são os pobres e negros, tendo em vista os rankings do extermínio”.

 

O Mapa da Violência 2012 indicou os homicídios como a principal causa da mortalidade juvenil no Brasil. Entre outros destaques, o Mapa revela que um negro com idade entre 15 e 24 anos corre risco 127% maior de ser assassinado do que um branco da mesma faixa etária.

 

Jorge Américo, da Radioagência NP.

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