Correio da Cidadania

“Prefeitura e câmara progressistas podem fazer de São Paulo exemplo de combate a desigualdades”

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Seremos trincheira de luta em defesa da população negra”, diz Simone  Nascimento

Coordenadora do Movimento Negro Unificado e integrante do mandato coletivo da Bancada Feminista da Câmara dos Deputados, Simone Nascimento busca uma cadeira numa câmara de vereadores que encerra uma legislatura marcada por imensos retrocessos. Da redução dos serviços públicos ao descuido generalizado com a cidade, o ciclo que começou comandado por Bruno Covas e prosseguiu com Ricardo Nunes foi mais uma catástrofe da agenda privatista. Por trás da gritaria moralista sem a qual a direita parece não mais saber viver, a corrupção. Nesta entrevista, Simone Nascimento resume a importância da eleição de mais progressistas para a Câmara.

"A maioria da juventude brasileira é negra, mas entre idosos são minoria no Brasil. Eu defendo a construção do programa 'Pacto Municipal de enfrentamento à violência contra a juventude negra', a ser articulado com a prefeitura e o governo federal. Defendo 3% do orçamento da cidade para cultura. Chega de apagões, enchentes e empresas que lucram com a vida. É preciso prevenção, acesso a água e saneamento básico nas quebradas. No transporte, tarifa zero geral e mais frota elétrica. São Paulo também precisa levar a sério a reciclagem, a coleta seletiva e preservação do meio ambiente. A cidade precisa trabalhar para frear as mudanças climáticas!”, enumerou.

Para ela, a cidade mais rica do Brasil pode ser laboratório de uma política que volte a se orientar pela lógica de bem estar social e da participação do Estado na promoção de interesses não submissos ao mercado e aos capitalistas da cidade, marca indelével das gestões Doria, Covas e Nunes. Para além da ação do poder público, também é o caso de ampliar e recriar espaços de participação social e oportunidades reais de acesso à cidade e suas riquezas.

No entanto, não é possível falar da democracia liberal representativa sem abordar sua própria crise, que se expressão globalmente e não consegue contornar um profundo desencantamento popular, explicação central da ascensão de políticos autoritários e demagógicos que só aprofundam esta mesma lógica. Desse modo, não seria hora de esquerdas como a que tenta vencer as eleições em São Paulo retomarem discursos mais críticos ao próprio capitalismo?

“O movimento negro brasileiro defende o fim do racismo de maneira permanente. Há algo mais pós-capitalista que isso? Esse sistema nasceu da nossa exploração e desumanização. Quando avançamos em direitos sociais, fortalecemos nosso povo para construir outro mundo possível. As eleições são uma oportunidade de apresentar nossas ideias e propostas para o maior número de pessoas possível. Mas a luta continua após as eleições”, explicou.

Confira a entrevista completa com Simone Nascimento.

Correio da Cidadania: Como está o cenário eleitoral de São Paulo? Há possibilidades de avanço de figuras progressistas na Câmara de Vereadores?

Simone Nascimento: A bancada do Psol tem tudo para crescer na Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo, bem como os partidos progressistas que estão conosco nessas eleições elegerem vereadores. Estamos batalhando para eleger a maior bancada progressista da história da cidade de São Paulo, será muito importante para enfrentar a bancada da extrema direita e defender o programa da prefeitura de Boulos e Marta quando eleitos.

Correio da Cidadania: Como sua candidatura se insere no processo político recente e o que ela representa?

Simone Nascimento: Eu sou uma das vozes na nova geração da esquerda brasileira, que na última década enfrentou nas ruas o governo Temer, Bolsonaro e a pandemia. Minha candidatura representa essa renovação à esquerda. Sou coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado e isso representa a possibilidade de avançarmos por direitos na cidade de São Paulo para maioria do nosso povo.

Correio da Cidadania: Quais seriam as áreas onde uma Câmara dos Vereadores poderia atuar positivamente, de forma inclusive independente do poder executivo?

Simone Nascimento: O vereador precisa estar à disposição para ouvir e atender as necessidades da população na cidade, atuar para fiscalizar e articular avanços em serviços públicos nos territórios.

Eu defendo algumas propostas como candidata, tais como: a maioria da juventude brasileira é negra, mas entre idosos são minoria no Brasil. Eu defendo a construção do programa "Pacto Municipal de enfrentamento à violência contra a juventude negra", a ser articulado com a prefeitura e o governo federal.

A nossa cidade pulsa cultura e a quebrada dá o tom nesse cenário. O samba, as batalhas, slam, hip hop, reggae e funk representam juventude e precisam ser valorizados. Defendo 3% do orçamento da cidade para cultura, com mais oportunidades e editais simplificados. Além disso, terei um olhar atento para destinar emendas impositivas a projetos periféricos.

Chega de apagões, enchentes e empresas que lucram com a vida. É preciso prevenção, acesso a água e saneamento básico nas quebradas. No transporte, tarifa zero geral e mais frota elétrica. São Paulo também precisa levar a sério a reciclagem, a coleta seletiva e preservação do meio ambiente. A cidade precisa trabalhar para frear as mudanças climáticas!

A violência sexual é outra bandeira de meu mandato. Por exemplo, 4 em cada 10 vítimas de estupro são crianças e adolescentes negras. E criança não é mãe, não pode ficar sem acesso ao serviço de aborto legal, como aconteceu no Hospital da Vila Nova Cachoerinha por perseguição da prefeitura. Temos de fortalecer a rede de proteção e acolhimento e pelo direito ao aborto legal já. Tolerância zero para violência doméstica!

Correio da Cidadania: Como avalia a atuação desta mesma câmara nos últimos anos e nesta legislatura?

Simone Nascimento: Infelizmente, a última legislatura aprovou a privatização da Sabesp, uma marca horrível na história da cidade de São Paulo. Precisamos derrotar nas urnas os vereadores que liquidaram nosso direito à água e saneamento básico na cidade de São Paulo.

Correio da Cidadania: Como observa essas eleições municipais no meio do mandato de um presidente eleito pela esquerda em um contexto social, econômico, ambiental, institucional tão duro como o que se vive hoje no Brasil?

Simone Nascimento: Eleger uma prefeitura de esquerda em São Paulo pode ser um novo passo de combate às desigualdades sociais no Brasil. Estamos na maior e mais rica cidade da América Latina. Abrir espaço para participação social, aprofundar o SUS, fazer programa de habitação com reforma urbana, ampliar o direito à educação e à cidade, em articulação com o governo federal, pode ser decisivo e um exemplo à esquerda em todo o mundo.

Correio da Cidadania: Ainda é possível modificar a realidade das desigualdades estruturais do país por meio das instituições no atual estágio de predomínio do capital sobre os sistemas políticos tradicionais?

Simone Nascimento: Só a luta muda a vida, podemos avançar em políticas públicas de combate à desigualdade ao mesmo tempo em que avançamos no fortalecimento dos movimentos sociais e partidos de esquerda. Esse horizonte de sonhos sempre deve nos guiar.

Correio da Cidadania: Pensando além das eleições, e diante de toda a complexidade do quadro político geral pelo mundo inteiro, com crises econômicas e climáticas permanentes, não é hora de as esquerdas voltarem a levantar bandeiras pós-capitalistas de forma clara?

Simone Nascimento: O movimento negro brasileiro defende o fim do racismo de maneira permanente em todas as relações sociais. Há algo mais pós-capitalista que isso? Esse sistema nasceu da nossa exploração e desumanização. Quando avançamos em direitos sociais, fortalecemos nosso povo para construir outro mundo possível. As eleições são uma oportunidade de apresentar nossas ideias e propostas para o maior número de pessoas possível. Mas a luta continua após as eleições.

Gabriel Brito é jornalista, repórter do site Outra Saúde e editor do Correio da Cidadania.

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