Correio da Cidadania

'Intelectualidade' tenta encobrir estrutura fundiária nefasta e defender agronegócio

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O mês de abril, em que tradicionalmente se intensificam as manifestações de movimentos sociais desde o episódio de Eldorado dos Carajás, e que neste ano teve a maior onda de protestos e ocupações do MST desde a chegada de Lula ao poder, trouxe à baila a polêmica sobre a reforma agrária em nosso país.

 

Viu-se despontar, com particular destaque, nas análises veiculadas pela grande mídia, algo mais sofisticado que a velha criminalização do MST quando este promove as suas “ondas vermelhas”. Boa parte de estudiosos e da intelectualidade do país emitiu suas opiniões sobre a viabilidade histórica e a efetividade da reforma agrária na atual conjuntura, bem como sobre a oportunidade de um movimento como o MST.

 

Dentre as noções ventiladas com maior peso, chegou-se mesmo a negar à reforma agrária qualquer sentido atualmente, em função de algumas circunstâncias, nessa visão, decisivas: a conclusão da urbanização, fazendo desnecessária a reforma agrária como propulsora do mercado interno; a diversificação do mundo rural, incrementando a oferta de alimentos de forma a suprir a demanda; e a difusão da informação, tornando inócua a justificativa política quanto à democratização no campo.

 

Viram-se, por outro lado, leigos e leitores mediante análises paradoxais no que se refere à relação do movimento dos sem terra com o governo: enquanto os setores mais à esquerda enxergam um evidente distanciamento do atual governo relativamente às demandas dos sem terra quanto à execução de uma autêntica reforma agrária - a partir de uma grande ambigüidade em suas relações recíprocas -, os críticos mais à direita acusam o MST de se utilizar dos próprios recursos públicos para “simular” um ataque à política federal.

 

Para comentar essa esquizofrênica realidade, conversamos com o geógrafo aposentado da USP, um dos mentores do I Plano Nacional de Reforma Agrária do governo Lula, Ariovaldo Umbelino.

 

Umbelino destaca, a partir de uma argumentação baseada em uma série de exemplos e dados concretos, que está em curso “um discurso puramente ideológico, neoliberal, para tentar encobrir um quadro de defesa do agronegócio, um quadro contrário aos movimentos sociais e à sua reivindicação histórica da reforma agrária”. Discurso que tenta, ademais, se fazer valer por si mesmo, a partir de sua repetição sem fundamentação – mas, uma vez alicerçado em poderosos interesses econômicos e políticos, encontra pronta divulgação em nossa imprensa, pervertendo a imaginação do público em geral.

 

E como estaria situado o governo nessa realidade? Na medida em que definitivamente não adotou a reforma agrária como uma política de desenvolvimento econômico e social, mas apenas como uma política social, cuja finalidade é a de resolver localmente o problema da fome, não é descabido inferir que a sua concepção vai praticamente de encontro ao discurso ideológico da intelectualidade que tenta justificar a não importância da reforma agrária.

 

Um “cruel” paradoxo de nossa realidade, já que essa intelectualidade é historicamente inimiga do presidente-operário. Felizmente, no entanto, após um longo processo de conscientização, os movimentos sociais começam a perceber que, sem enfrentamento, não haverá reforma agrária, nem mesmo no governo Lula.

 

Leia a entrevista exclusiva.

 

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