EUA e Israel têm novo plano para dividir e submeter o Oriente Médio
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- Valéria Nader
- 29/06/2007
Vitória dos democratas nos EUA, com pedidos insistentemente divulgados de retirada das tropas norte-americanas do Iraque; um crescente repúdio da opinião pública frente à ocupação e às constantes baixas entre os soldados; e, até mesmo, um ligeiro esboçar de reação do presidente Bush rumo à aquiescência com esses crescentes clamores.
Ao mesmo tempo, do outro lado do mundo, notadamente no ano de 2006, presenciávamos os discursos decididos do presidente iraniano em defesa da autonomia de seu programa nuclear; a notoriedade alcançada pelo Hezbolá em um país dividido como o Líbano, ao mesmo tempo em que derrotava o exército israelense; a escalada da insurgência iraquiana; e a vitória, por vias democráticas, do Hamas na Palestina - movimentos que, à exceção do Iraque, têm em suas fileiras uma maioria xiita.
Estaríamos diante de uma escalada do poderio oriental frente ao ocidental no mundo do “choque de civilizações” descrito por Samuel P. Huntington?
Ainda que não se apresentasse no horizonte a atual e evidente nova “comunhão de interesses” entre os Estados Unidos, Israel e Palestinos - os últimos representados pelo Fatah do presidente Abbas -, em sua tentativa de isolamento do Hamas, a hipótese anterior já pareceria quase fantástica. Nenhuma análise mais precisa deixaria sugerir que a potência americana cedesse, ainda que minimamente, qualquer que fosse o propósito.
“Não somente os palestinos são irrelevantes, do ponto de vista israelense, mas a atual ‘tomada de poder’ de Gaza pelo Hamas é até uma evolução positiva, uma vez que promove o processo de apartheid”. Essa apreciação de Jeff Halper - coordenador do Comitê contra Demolições de Casas (ICAHD) e ex-candidato, com o ativista palestino pela paz Ghassan Andoni, ao Prêmio Nobel da Paz - é sugestiva da dimensão daquilo que está realmente em curso no Oriente Médio desde que começaram a se insinuar, em 2006, as reviravoltas para os EUA.
Segundo o próprio Halper, “o objetivo final de Israel, explícito e não perturbado pela recente confusão no local, está claro. Foi apresentado em detalhe no ‘Plano de Convergência’, que Olmert apresentou para uma sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos em maio 2006”: criar um “Estado” palestino truncado, formado por quatro cantões desconectados. Se esta estratégia falhar, e Israel não conseguir encontrar um líder palestino “pelego”, apela-se então à reivindicação de uma declaração unilateral pelos EUA de um Estado palestino “provisório”, sem fronteiras definidas e sem qualquer soberania.
O colunista e analista de questões internacionais Luiz Eça reforça essa visão, ao narrar as advertências de vários estudiosos, segundo os quais, em função dos reveses de 2006, “o governo de Washington decidiu mudar sua estratégia no Oriente Médio. Agora, pela chamada ‘Redirection’, os sunitas, inimigos seculares dos xiitas, receberiam apoio financeiro, militar e logístico, sendo incentivada a guerra civil entre as duas seitas, para impedir a todo custo sua união, tida como desastrosa para os interesses americanos”.
Estamos assim, mais uma vez, diante do velho plano imperial, nesse caso ditado pelos EUA e Israel, de impor governos títeres, leais a seus interesses e contra as populações locais.
O alvo atual, Gaza, em poder dos “terroristas” do Hamas, será provavelmente vítima de uma brutal agressão israelense, em futuro bem próximo. Somente a organização de protestos e da solidariedade mundiais poderá evitar uma nova onda de refugiados. Refugiados estes que, segundo Mateus Alves, jornalista do Correio da Cidadania e que esteve recentemente no Oriente Médio, já somam quase 2 milhões de palestinos somente na Jordânia.
Veja as análises completas dos autores Jeff Halper, Luiz Eça, Michel Warshawski e Mateus Alves.
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.
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