Inépcia da gestão Bush no Oriente Médio fortalece grupos terroristas
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- Virgílio Arraes
- 22/08/2007
Diante do insucesso militar e político no Iraque, o que havia motivado a ascensão de um governo xiita, a gestão Bush anunciou, há apenas poucos dias, a possibilidade de vendas significativas de armamentos de alto teor tecnológico para países aliados no Oriente Médio – basicamente Arábia Saudita, Israel, avaliado como a única democracia da região, e Egito -, sob a justificativa de oposição ao terrorismo e de contraponto ao Irã. Apenas para o governo saudita, a quantia está em torno de 20 bilhões de dólares.
Na esfera muçulmana, é possível apontar que o auxílio à monarquia saudita é para fortalecê-la diante do Irã, mesmo em decorrência da ineficiência ou, quiçá, do desinteresse governamental local em reprimir as movimentações fundamentalistas.
Registre-se que quinze dos seqüestradores dos quatro aviões do 11 de setembro de 2001 eram de nacionalidade saudita e haviam sido financiados a partir de seu próprio país – todos eles obtiveram seus passaportes e receberam seus vistos norte-americanos normalmente, sem nenhum tipo de aviso ou de intercâmbio entre os respectivos serviços de espionagem de ambos os governos. Ademais, a Arábia Saudita foi um dos poucos países a manter relações diplomáticas regulares com o Afeganistão, no período em que era administrado pelo Taleban.
Embora não haja apoio da monarquia saudita, atribui-se a naturais de lá boa parte do auxílio à insurgência iraquiana de extração sunita. No fundo, a tática norte-americana no Iraque é atualmente estimular a contraposição de grupos – observados por Washington como radicais -, de modo que se minimizem as investidas contra as forças armadas da coligação anglo-americana.
Na visão dos planejadores estadunidenses, o comércio bilateral de armas reiteraria os bons vínculos políticos entre os governos, de maneira que haveria melhores condições para conter a movimentação fundamentalista de teor anti-americano em território saudita e, por conseguinte, refrear o apoio à oposição de permanência de tropas estrangeiras.
Todavia, a venda de armamentos de última geração não aplacará a sanha dos fundamentalistas saudistas porque sua motivação advém, dentre outros motivos, exatamente do relacionamento próximo entre Estados Unidos e Arábia Saudita, aprofundado a partir da I Guerra do Golfo, no início dos anos 90. Ao mesmo tempo, proporciona um fato inabitual:
A despeito de o governo saudita não ter tido êxito até o momento em estancar o extremismo, ele será premiado com uma modernização tecnológica em seu setor bélico, o que, por sua vez, poderá desembocar em uma corrida armamentista regional vigorosa e de longo prazo, em função da alta contínua dos preços do petróleo desde o início da segunda versão da Guerra do Golfo.
Além do mais, a inépcia norte-americana na região tonifica politicamente a Al Qaida, ao conceder-lhe, ainda que involuntariamente, maior prestígio por combater a invasão do Iraque e dificultar a presença duradoura da coligação anglo-americana na região. Paradoxalmente, a organização fundamentalista havia sido adversária da ditadura secular de Saddam Hussein, que limitou severamente a sua atuação no país, porém o regime autoritário terminaria por ser punido, dentre outros motivos, por supostos vínculos com o extremismo religioso.
Quanto ao Egito, é factível indicar que o apoio ao governo Hosni Mubarak ocorre em face da repressão aos grupos extremistas, diferentemente da Arábia Saudita – lá, desde 1981, em função do assassínio do Presidente Anwar Al Sadat, administra-se o país, de maneira praticamente ininterrupta, por meio do estado de emergência, o que permite reforçar o poder Executivo em detrimento do Judiciário na execução de determinadas medidas, como a efetivação de prisões por tempo indeterminado, se ligadas a suspeitas de terrorismo. Em muitos casos, são meros opositores da gestão Mubarak.
Acrescente-se que há outros fatores como o livre acesso ao canal de Suez e o relacionamento regular com Israel. Democracia e direitos humanos, de modo similar à Arábia Saudita, são minimizados pela diplomacia norte-americana, ao valorizar a estabilidade. Nesse sentido, o modelo egípcio pode inspirar vários formuladores norte-americanos com vistas a esboçar uma saída menos vexaminosa do Iraque e do Afeganistão.
Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais na UnB
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