Correio da Cidadania

Para além da corrupção: “os próximos tempos serão de intensificação da política e das disputas ideológicas”

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As investigações da Lava Jato continuam na ordem do dia, ora atingindo um espectro mais amplo de partidos e caciques, o governo Temer não emplaca saídas à crise e o clima de greve permanece. Sobre toda a prostração que vive o Brasil, entrevistamos o sociólogo Léo Lince, estudioso de temas como Reforma Política.

“Muita coisa faliu definitivamente, mas seus escombros ainda não foram removidos (...) O tal ‘acordão’ sugerido, por exemplo, já foi por água abaixo. Não existe mais. Seus inventores já devem estar maquinando outros simulacros. Os artífices da crise não possuem legitimidade para formular saídas. Tudo o que foi tentado neste sentido não prosperou”, analisou.

Dessa forma, Léo Lince traz a boa e má notícia: estamos vivendo tempos de transição, mas ela ainda não foi capaz de se realizar. Enquanto isso, os velhos donos do jogo tentam reorganizar sua dominação. Como em suas tradicionais colunas neste Correio, o sociólogo destaca a relação umbilical entre Estado e capital no Brasil, muito à frente dos debates que ilustram uma oposição histórica. Quanto à atualidade, não poupa o PT de uma parcela especial de responsabilidade para a debacle brasileira.

“Carlito Maia, o gênio que inventou os mais contundentes slogans da fase heroica do petismo, dizia, talvez com outras palavras, o seguinte: quando a esquerda começa a contar dinheiro é porque já virou direita. Aliás, o símbolo maior da desgraça do PT foi a troca de Carlito Maia por Duda Mendonça. Ao invés de ajustar o poder aos impulsos do poderoso movimento político que lhe levou ao governo, o partido foi tomado pela lógica do poder dominante. Delfim Netto, com seu sarcasmo habitual, chamou a ‘Carta aos Brasileiros’ de ‘Carta de Ribeirão Preto’. Ele se referia, na realidade, não à cidade, mas ao Palocci, aquele segundo o qual ‘não se dá cavalo de pau em transatlântico’”.

Apesar do quadro de desencanto, que não chega a ser exclusividade do país, Leo vislumbra possíveis saídas positivas, em especial se pautadas pela população mobilizada, dado que o grau de metástase sistêmica é elevadíssimo e o ajuste fiscal pretendido talvez já tenha encontrado seu teto.

“Se as investigações da Lava Jato ampliarem o seu foco, com o grupo da ‘moral homogênea’ do PMDB como bola da vez, e o tucanato entrar na alça de mira, o sistema partidário se desmorona, com larga repercussão sobre os rumos da disputa eleitoral. Embora não admitam abertamente, todas as forças políticas em ação no cenário atual têm plano A e plano B. Ninguém está seguro da projeção futura de sua própria força. O ressurgimento de protestos de rua volumosos é outra variável que pode determinar mudanças bruscas no quadro político. O governo postiço do golpista não resiste a uma sequência de grandes manifestações”.

A entrevista completa com Léo Lince pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: O país está estupefato e sem reação, tamanho o acúmulo de casos de corrupção e promiscuidade público-privada, tendo a Operação Lava Jato à frente, mas não sozinha. O que o atual momento sintetiza de nossa democracia, e talvez de nosso próprio processo da redemocratização?

Leo Lince: Sem dúvida, há uma impressionante sequência de escândalos que deixa qualquer um espantado e confuso. É natural. Até porque essa fieira de escândalos se articula com um feixe de crises. Crises que se retroalimentam e nos remetem para o tipo mais desconcertante de incerteza, a incerteza estrutural. Desde aquela espantosa, difusa e confusa explosão de descontentamento acontecida em 2013, o povo brasileiro vive as agruras de um gigantesco fim de ciclo. Além da crise crônica, resultante das nossas tradicionais “transições intransitivas” (cooptação, saída negociada “de cima”, rearranjo no interior das elites patrimoniais), passamos a conviver com a manifestação aguda de um tipo singular de irrupção contestatória, ainda sem rumo político definido, mas reveladora de um profundo mal-estar com os mais variados aspectos do modelo dominante.

Um ciclo finda quando a hegemonia que o alimentava entra em colapso definitivo. Ou seja, começa a experimentar o tempo turbulento da sua falência histórica. Nada funciona mais como funcionava antes: o modelo econômico, o sistema partidário, o padrão de política, o formato de financiamento das campanhas e tudo mais. Mas a falência histórica não significa, automaticamente, falência política real. Ela só se consuma quando, no plano da ação política e social, se consolidam os polos de condensação de uma outra hegemonia. É no interior deste hiato, ou seja, no intervalo entre a falência histórica e a efetiva construção de outra alternativa que estamos vivendo nos dias de hoje.

É um tempo perigoso e carregado de desafios fascinantes. Muita coisa faliu definitivamente, mas seus escombros ainda não foram removidos. Tempos bicudos, esses que nos cabem viver. Outras épocas conheceram tempos assim e foram analisadas por observadores argutos. Hannah Arendt, por exemplo, os situava “entre o não mais e o ainda não”. Ou, como definiu Antônio Gramsci, tempos do “interregnum”, onde tudo pode acontecer, inclusiva nada. Enquanto perdurar tal situação, estaremos condenados a viver no patamar do impasse.
 
Correio da Cidadania: Como você enxergou a declaração do patriarca dos Odebrecht, Emílio, a sugerir uma hipocrisia generalizada diante da corrupção escancarada pelas delações, dado que todos saberiam há muito tempo como a roda gira?

Leo Lince: Declaração importantíssima, não apenas pelo que revela dos bastidores das tenebrosas transações. Mas, principalmente, por nos mostrar o perfil psicológico do grande corruptor. Sorridente e bonachão, ele distribui piadinhas e comentários próprios de quem ainda se considera acima da lei. Como Pilatos, ele distribui sentenças e julga que é alheia a culpa que é principalmente sua. Lava as mãos, mas pode quebrar a cara. Ainda não se deu conta de que está em curso uma mudança na cultura relacionada ao tema.

Antigamente, só o passivo da relação era considerado corrupto e, como tal, submetido à execração geral. O ativo da corrupção, o corruptor, era visto como um realista que foi “obrigado” a jogar as regras do jogo. Aos poucos, na rotatória da crise e na sequência de escândalos, tal mentalidade vai se alterando. Cada dia fica mais claro: o corruptor é o grande responsável pelo funcionamento das engrenagens da corrupção sistêmica. O fato novo, gente endinheirada indo para cadeia, é a principal razão do apoio popular à Lava Jato. Mas não foi a Lava Jato que determinou essa inversão. Pelo contrário, ela própria foi determinada por tal mudança cultural. O grande corruptor ainda faz gracejos, mas a tornozeleira já enfeita o seu “calcanhar de Aquiles”.

Afora tal consideração geral, as revelações do patriarca da Odebrecht ainda podem ser de grande utilidade para ulteriores investigações. Vale ressaltar duas delas. A mais importante foi o puxão de orelhas na mídia grande. Sempre souberam como a roda toca e agora simulam espanto. A mídia oligopolizada sempre foi associada dos grandes negócios e atas devem existir deste conúbio mais que carnal. Um filão para investigação do Ministério Público, caso haja interesse e coragem para a tarefa.

Outra revelação preciosa é a que fala da propina que corre solta entre as empresas. Não apenas no interior do cartel, mas também fora dele, no opaco mundo do dia a dia das grandes corporações. Essa seria uma linha de investigação que nos levaria ao fabuloso mundo da sonegação fiscal, da elisão fiscal, dos subsídios. Os milhões que passaram pelo caixa 2 dos políticos são apenas a parte menor e descoberta do gigantesco “iceberg”, o do caixa dois que corre solto no mundo das empresas.

Ninguém gosta de pagar imposto e, no Brasil, os muito ricos conseguem não pagar. Teríamos, caso tal linha de investigação prosperasse, um outro tipo de ajuste fiscal, que sacrificaria privilégios para garantir direitos. Não este, patrocinado pelo governo golpista, que sacrifica direitos para garantir privilégios.  

Correio da Cidadania: Como sair de toda essa encalacrada, considerando o descrédito de todas as instituições tomadoras de decisão? O que pensa do “acordão” sugerido após encontro entre FHC, Lula e Temer?

Leo Lince: Quando a crise é geral, a encalacrada também é geral. Todos nós estamos, de uma maneira ou de outra, envolvidos nas malhas da incerteza estrutural. Em tais condições, não há saída fácil. Tampouco se vislumbra, levando em conta a atual correlação de forças, alternativa de mudanças no curto prazo. E os simulacros de mudança, padrão “gatopardo” do famoso livro de Lampedusa (mudar tudo para que nada mude), não duram uma semana. O tal “acordão” sugerido, por exemplo, já foi por água abaixo. Não existe mais. Seus inventores já devem estar maquinando outros simulacros.

Os artífices da crise não possuem legitimidade para formular saídas. Tudo o que foi tentado neste sentido não prosperou. Lá atrás, o tal “Projeto Brasil”, da dupla Renan-Jucá, não chegou a sair do papel. A “pinguela” para o futuro, da quadrilha Temer-Cunha-Moreira-Geddel, obteve o apoio dos donos do poder econômico para desfechar o golpe do impeachment, mas agora desmorona no pântano de uma coalizão de investigados pela Lava Jato.

Vez por outra se ouve uma voz vinda do coral dos contentes: felizmente, as instituições estão funcionando. Os funcionários que abrem e fecham as portas no início e final dos expedientes, acendem a luzes, ligam os computadores estão operando regularmente. Os titulares de todos os poderes estão recebendo normalmente os seus salários, jetons e emolumentos. Mas estão funcionando mal, em completa dissintonia com os anseios da cidadania, desesperada e desesperançada com as agruras de uma crise que se agrava a cada dia.

O titular do poder executivo, os atuais e os anteriores presidentes das duas casas do Congresso Nacional, os presidentes e principais líderes dos maiores partidos da ordem estão todos no propinoduto da corrupção sistêmica. No Judiciário, a direita togada se articula cada vez mais na lógica do esforço para conter a “sangria desatada”. A ninguém é permitido nutrir esperanças de que mudanças possam ser gestadas nestes endereços. Há quem lute por mudança no interior de algumas das nossas instituições, mas sem pressão de fora, vinda do espaço livre das ruas, nada mudará.
 
Correio da Cidadania: Os simpatizantes do lulopetismo batem há anos na tecla da seletividade com que alguns protestam contra a corrupção e da própria forma como ela é midiaticamente apresentada. De toda forma, considerando que se tratava de um partido que jactava seu caráter ideológico, não há realmente uma responsabilidade maior no esfacelamento da República? Não há uma cegueira de boa parte da esquerda nesse sentido?

Leo Lince: Por suposto, não foi o PT que inventou a corrupção. Muito menos, é mais do que claro, a corrupção sistêmica, como querem fazer crer os inimigos de classe da esquerda em geral. O poder corrosivo do dinheiro e o sistema larvar que aprisiona a política aos ditames da plutocracia econômica são mais velhos do que a Sé de Braga. O PT pegou esse bonde andando. Seu erro foi sentar na janelinha e acreditar que poderia fazer, impunemente, o que os outros já faziam. Carlito Maia, o gênio que inventou os mais contundentes slogans da fase heroica do petismo, dizia, talvez com outras palavras, o seguinte: quando a esquerda começa a contar dinheiro é porque já virou direita.

Aliás, o símbolo maior da desgraça do PT foi a troca de Carlito Maia por Duda Mendonça. Foi uma mudança de eixo, não apenas relacionada ao trato dos valores comezinhos do metal sonante. Outros valores, maiores, relacionados aos princípios da luta ideológica transformadora também foram deslocados. De “pequeno insolente” na planície, o partido foi aos poucos se transformando em “grandalhão indolente” no Planalto. São expressões também de Carlito Maia. Ao chegar ao governo da República, o PT resolveu praticar o que não predicava na oposição. Desaprendeu as práticas que lhe davam forças e aprendeu outras práticas, que lhe provocaram a ruína. Uma espécie de corrupção programática, que termina por ser a mãe de todas as outras corrupções.

Ao invés de ajustar o poder aos impulsos do poderoso movimento político que lhe levou ao governo, o partido foi tomado pela lógica do poder dominante. Delfim Netto, com seu sarcasmo habitual, chamou a “Carta aos Brasileiros” de “Carta de Ribeirão Preto”. Ele se referia, na realidade, não à cidade, mas ao Palocci, aquele segundo o qual “não se dá cavalo de pau em transatlântico”.

Essa escolha inicial errada está na raiz dos desacertos posteriores. A desconstrução da mística radical e da vitalidade política do partido como instrumento transformador, seu efeito desmobilizador e despolitizante do ativismo militante nos movimentos sociais. O erro em política, muitas vezes, é pior do que crime, inclusive porque propicia crimes. Não faltou, nas esquerdas, quem criticasse de maneira imediata, em tempo real e de forma substanciosa, tal desvio de rota. E não foi apenas entre aqueles que saíram do partido para fundar o PSOL. Dentro do próprio PT sempre houve e ainda há os que formulam o mesmo tipo de crítica. Tais críticas não foram, é óbvio, suficientes para evitar o descalabro que arrastou o partido para a sua condição atual: uma portentosa ruína.

Correio da Cidadania: É possível enxergar algo de positivo em volta de tudo, a despeito das sequelas na vida do trabalhador brasileiro que a atual crise provoca? Acredita que há ou haverá um processo de amadurecimento político da população?

Leo Lince: Os trabalhadores sempre moeram no áspero. Não há novidade nesta condição. E, como falou Guimarães Rosa pela boca do jagunço Riobaldo, “quem moi no áspero não fantaseia”. Sem dúvida, a crise e a onda regressiva patrocinada pelos donos do poder são um desastre para os que vivem do próprio trabalho. O pessimismo da razão manda avisar que atravessamos tempos de grandes dificuldades. Mas o otimismo da vontade, ancorado na experiência histórica, ensina que o difícil é sempre estimulante. Quando o “aparato total” da institucionalidade política se torna impermeável para os anseios e insensível para as agruras que agitam as bases da sociedade, essas mesmas bases passam a buscar outros caminhos. Quando o beco é sem saída, sair do beco é a saída.

Em situações como a atual, marcada pela falência histórica de um padrão de hegemonia, as primeiras manifestações de mal-estar adquirem a forma da irrupção contestatória. Difusa e confusa, como foi em 2013. Ninguém hegemoniza, ninguém se sente inteiramente interditado. São explosões localizadas em camadas tectônicas “abaixo da base”, expressões fragmentárias do “mal-estar geral”, uma miríade não hierarquizada de postulações que não se encaminham para um vetor unitário, capaz de interferir na correlação de forças.

A busca de nexos entre os mais variados movimentos e a construção de agendas comuns entre as diferentes culturas críticas em ação na cena política é o passo seguinte deste processo. O que se moveu “abaixo da base” interfere e pode regenerar a “base” e contaminar algumas das “estruturas intermediárias” de poder. São pequenos motores que podem, articulados, acionar o motor maior que produz mudanças de qualidade no ordenamento da vida política e social.

Não se trata, no descrito acima, de um roteiro abstrato. Há muita luta em curso. E, na construção delas, amadurecimento político. O agravamento dos conflitos provocados pela investida regressiva já tem provocado resistência. Indígenas, quilombolas, sem-terra, sem-teto, os mais variados movimentos, preservacionistas, identitários, a luta contra as opressões, o novo feminismo, o movimento juvenil, as ocupações das escolas secundaristas, a lista pode ser interminável. O nexo entre estes diferentes movimentos pode levar o processo para um novo patamar.

Nesse sentido, o manifesto conjunto da CNBB, OAB e Federação dos Economistas, que critica demolição de direitos praticada pelo atual governo, é um dado novo e extremamente positivo. Assim como o sucesso da greve geral do dia 28 de abril. Foi assim nos tempos heroicos da luta contra a ditadura civil-militar. O processo de construção de uma nova hegemonia, tarefa de longo prazo, recorre ao mesmo caminho: novos movimentos, novas lideranças e envolvimento das estruturas intermediárias de poder da sociedade.

Correio da Cidadania: Como enxerga o atual contexto brasileiro em comparação com outros regimes que podemos chamar “democracias de mercado”, considerando os quase 10 anos de crise econômica e suas políticas de austeridade?

Leo Lince: A nossa crise é parte integrante de uma crise maior que afeta, hoje, os quatro cantos do mundo. Ela tem aqui muitas particularidades, mas guarda uma ligação essencial com o processo mais amplo. A nova ordem mundial, marcada pela invasão dos espaços públicos pela lógica privatista do ideário neoliberal, ostenta cada vez mais as feições trágicas da barbárie. Nunca como agora, o impulso de destruição, sempre embutido na lógica da acumulação capitalista, se mostrou tão visível. É a era do totalitarismo financeiro globalizado. Nela, a saúde do capital e a doença da sociedade são verso e reverso da mesma moeda. Essa onda regressiva gigantesca, que avassalou o mundo no pós-queda do Muro de Berlim, começa a gerar resistências originadas a partir de diferentes culturas críticas.

Aquele impulso arrogante da ideologia de restauração pura e dura do capitalismo começa, aos poucos, a percorrer sua escala descendente. A história não acabou e, tudo indica, se prepara para ministrar novas “lições”. Esse processo geral adquire no contexto brasileiro um ritmo próprio. Assim como foi tardia a implantação entre nós do receituário neoliberal, o mesmo retardo se observa nas lutas pela sua superação.

As chamadas políticas de austeridade, que sacrificam direitos para manter privilégios, começam a fazer água por toda a parte. No Brasil da integração subalterna ao cassino financeiro, o que deve ser chamado pelo nome correto de “austericidio” segue na ordem do dia. É a lógica do “ajuste” aos desígnios do totalitarismo financeiro. O governo postiço resultante do golpe, a coalizão conservadora que tem maioria no parlamento e a mídia oligopolizada martelam todos os dias na mesma tecla.

Por outro lado, começa a tomar corpo, na base da sociedade, a luta de resistência contra o desmonte dos direitos. Uma nova onda? Uma recomposição de forças no interior do mundo do trabalho capaz de inverter a lógica dominante? Só o ulterior desenvolvimento da luta política poderá dar respostas para tais perguntas.

Correio da Cidadania: O que vislumbra para os próximos tempos? É possível prever algo para 2018?

Leo Lince: Os próximos tempos serão de intensificação da política e das disputas ideológicas. A eleição de 2018 é uma miragem posta além da linha do horizonte. O tempo que nos separa dela será marcado pela turbulência da mais profunda crise da história brasileira recente. Neste quadro, qualquer previsão sobre as condições em que se dará a próxima eleição geral é temerária. Até a data prevista no calendário ou a própria realização do pleito, vistos com os olhos de hoje, podem ser postos em questão. Quando a incerteza é a única coisa certa, é preciso se preparar para o surgimento súbito de novas encruzilhadas, novos desafios, alternativas até então inesperadas.

Se as investigações da Lava Jato ampliarem o seu foco, com o grupo da “moral homogênea” do PMDB como bola da vez, e o tucanato entrar na alça de mira, o sistema partidário se desmorona, com larga repercussão sobre os rumos da disputa eleitoral. Embora não admitam abertamente, todas as forças políticas em ação no cenário atual têm plano A e plano B. Ninguém está seguro da projeção futura de sua própria força.

O ressurgimento de protestos de rua volumosos é outra variável que pode determinar mudanças bruscas no quadro político. O governo postiço do golpista não resiste a uma sequência de grandes manifestações. Há nos escaninhos e gavetas do Congresso Nacional propostas de antecipação das eleições gerais ou de eleição solteira para este ano. Dependendo dos rumos assumidos pela rotatória da crise, tudo isso pode acontecer de uma hora para outra. “Fora Temer”, “Diretas Já”, “Assembleia Constituinte” são slogans que começam a agitar a superfície das águas. Tudo isso e mais alguma coisa – que não se sabe qual – pode acontecer antes de 2018.

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