Dez dias que não abalaram o New Brazil
- Detalhes
- Raphael Sanz, da Redação
- 18/06/2020
Cronicavírus in Brazil (8)
Créditos: Charge de Vitor Teixeira – capa o livro Quer que eu desenhe?, dele mesmo, lançado pela Autonomia Literária
Soam as sirenes no New Brazil! Reluzem os giroflex do reich tropical! Os grupos de fake news também avisaram que era pra correr. E as pessoas olham para o alto procurando o sinal sem nada encontrar. Sem saber por quê, poucas miram adiante, na direção onde talvez possam enxergar alguma coisa.
E não é por causa dos mais de 900 mil casos de cronicavírus registrados na noite da última terça-presa (16), a mesma em que registramos 1500 mortos no dia. Nem mesmo dos totais 45 mil mortos pela mesma pandemia, a grande maioria pobres trabalhadores indesejados. Nada disso importa mais no New Brazil! Só importa mesmo ao Frankenstein de Wall Street (veja últimos episódios) que já festeja a queima de capitais junto do Palhaço Bozo.
Tampouco são os fogos de comemoração, por atingirmos a metade dos pontos da Terra da Liberdade, seguindo o líder como nunca, e apesar da subnotificação, no mundial da categoria. A taxa de 15 mil novos infectados por dia nos levará ao Hexa! Mas não! Não é por nada disso.
E por falar na seleção, ela vai tão bem na mão do interino, que o Palhaço Bozo sequer se preocupou em anunciar sua efetivação ou um outro treinador. Preferiu reabrir um velho quadro humorístico e nomeou o genro de um dos seus principais doadores como o palhaço da vez.
Não foi por nada disso que o alarme soou. Foi por puro e simples horror. O terror gerado pelo medo do fim do sonho do reich tropical. E nesta semana, tudo começou com uma estátua. Sim, uma estátua.
Ainda no domingo retrasado, derrubaram uma estátua numa longínqua terra. A cerca de duas horas de ônibus da província de Londres, da enorme república da Oceania (*1), Those Who Cheer Against (Aqueles que Torcem Contra, no idioma local, em tradução exclusiva do Eduxinho Embaixador direto para nosso relato), derrubaram a estátua de uma figura histórica local, conhecida por haver enriquecido a partir da insuspeita atividade de comercializar escravos. Pois é. Derrubada, a estátua foi rolada pelas ruas, até ser jogada em um rio.
E como não poderia deixar de ser, zé povinho (SIC) que somos, a notícia correu o New Brazil. Acertadamente, Aqueles que Torcem Contra apontavam que em nosso reich tropical sobram estátuas semelhantes, de escravocratas, genocidas, torturadores e todo tipo de mito fundador que mereça tal atenção.
Por outro lado, como mandam os bons manuais de jornalismo, os raivosos súditos do New Brazil ficaram paralisados e em movimento. Ao mesmo tempo que não sabiam o que dizer, apenas grunhiam.
Viva o mau comportamento das cidades que negam o silenciamento (*2)
E bastou uma breve guerra narrativa nas redes antissociais para que as autoridades do New Brazil enviassem tropas. Não para distribuir cestas básicas aos doentes e seus familiares, não para levantar mais hospitais de campanha e jamais para contrariar o alaranjado Rambozo e exigir testes, equipamentos e o que mais fosse necessário internacionalmente para combater uma grave pandemia da qual o New Brazil está se tornando o maior expoente mundial.
Nunca! As ilustradíssimas autoridades do New Brazil, incluindo os palhaços-estaduais marcados pelo nosso ‘ursomem’(ver últimos episódios), colocaram suas tropas nas ruas para proteger as estátuas desses tristes senhores newbrazilians. E diante desses monumentos à barbárie, os milicianos do nazismo tropical mostraram suas caras feias e olhares raivosos a quem passasse por ali.
Mas além disso, e sob comando direto do Palhaço Bozo, as SSs estaduais apontaram suas armas e botas para os bairros onde vivem a maioria Daqueles que Torcem Contra. E nas últimas semanas, foram centenas de vídeos, fotos e relatos de torturas, espancamentos, assassinatos e muitos outros crimes cometidos pela linha de frente do New Brazil. Afinal, é pra isso que servem. E tem inocente por aí acreditando em SS antifascista. É uma piada que nem essas crônicas sem-vergonha conseguiriam reproduzir, mas que o programa do Palhaço Bozo adora. “Baita oportunidade de rebranding”, diriam os gurus econômicos.
E bem, todos já sabemos porque o novo regime não tomou o mesmo cuidado com algumas instituições de saúde, como hospitais de referência no tratamento de cronicavírus no Rio (lembre-se do sotaque green-go na hora de pronunciar o novo nome da nossa Wonderful Town). Como veremos a seguir, fãs do Palhaço Bozo escolheram um local como este para suas lives nas redes.
Mas é claro que as fariam por ali, afinal de contas que outros usos poderiam ter estes inchados edifícios? Tais instituições se tornaram inúteis e obsoletas no New Brazil, como nos mostra a realidade, uma vez que descobrimos, através de um recado direto de Nosso Senhor Jesus Cristo a uma fã aleatória do Palhaço Bozo. Disse o filho de Deus a ela, com exclusividade, que podemos curar o cronicavírus mascando alho.
Pra quê medicina, OMS, ciência, pesquisa e debates ligados à área médica se temos uma tia aleatória que conversa diariamente com o altíssimo e nos conta tudo no programa do Palhaço Bozo?
Inclusive, é a partir de recomendação dessa senhora que no importantíssimo jogo entre Flamengo x Bangu, no New Maraca, nesta quinta, haverá distribuição de cabeças de alho nos portões da Arena (ler ‘ar-rina’, com o R gringo) e em todo o bairro da New Tijuca. Os Jogos Olímpicos foram cancelados, mas o mundo não pode ficar sem esse jogaço da Taça New Rio.
New Brazil Papers e Aqueles que torcem contra: os terrores do Palhaço Bozo
Neste hiato de dez dias entre este e o último capítulo, o cerco ao programa do Palhaço Bozo se acirrou. E sobrou para os 299 do New Brazil, que recentemente perderam a Loira do Banheiro Nazista e acabaram tornando-se Os Meia Dúzia do New Brazil (sigla: 6NB).
Mas antes disso, tiveram seu pedido de intervenção militar atendido pelo governo de Brazilia DC. E sob uma chuva de chororôs e mimimis – como costumam dizer os próprios – tiveram o seu acampamento removido. Logo em seguida, diversas figuras receberam PFs em casa, pratos feitos diretamente entregues pelos aplicativos da startup de entregas do Final Boss. E só depois disso tudo foi que a Loira do Banheiro Nazista saiu de cena, e se juntou ao Sargento Bigode na lata do lixo da história. Mas diferente do sargento, ela não contraiu cronicavírus. Ainda.
Acontece que após muito pedir, ela acabou sendo presa pelo Final Boss do sistema. Nossa lenda urbana mais retardada fez de tudo: xingou, chamou pra porrada, soltou fogos de artifício na frente dos Estúdios Final Boss, contou pra imprensa soviética (o que no velho Brasil costumávamos chamar de ‘caô’) que estava armada, além de fake news e ameaças digitais aos borbotões.
Foi uma rinha e tanto!
E agora resta a nossa Loira do Banheiro Nazista evitar seu desaparecimento jogando na posição de vítima imaginária do sistema e voltar com maestria daqui 10 anos pleiteando um carguinho de um virtual e futuro Domingão do Centrão, debaixo de discursos arrependidos e muitos holofotes da imprensa dita soviética.
Quem se incomodou com o iminente triste fim da porta-voz dos 299 do New Brazil foi justamente a Inominável Palhaça da Familícia e Humanos Direitos, que então perderia – e ACABou perdendo mais tarde – uma importante assessora. E fica mais exposto ainda de onde vinha o dinheiro que mantinha as contas de nossa personagem enquanto brincava de ser lenda urbana escolar em Brazilia DC. Que linda a dimensão lúdica do New Brazil!
Mas nossa Inominável Palhaça ficou tão revoltada, mas tão revoltada, que subiu na maldita goiabeira para planejar sua vingança, porém dessa vez não conseguiu encontrar Jesus. Ele estava conversando naquele momento com a tia do alho, e reproduziu aquela mania chatíssima de onipotência seletiva. E sem um guia que a acalmasse, a Inominável Palhaça resolveu canetar pela extinção de 275 processos, anulados na sexta (12) e publicados na segunda seguinte (15), que buscavam reconhecer processos de vítimas do Regime de 64, o mesmo que inspira o nosso Palhaço Bozo atual.
Não foi a única estripulia da Inominável Palhaça como birra pela perda da Loira do Banheiro Nazista, mas foi a mais significativa. Enquanto isso, o Diretor Scheisse (ver episódios anteriores) caía no New Brazil Papers. E com o Palhaço Bozo reclamando da PF (“pratos feitos, porra!”), foi a vez dele, Scheisse, tentar intervir onde mais se incomodava: no que sobrou das universidades do velho Brasil. Ele pretende transformar todas em Igrejas, plantações de soja ou centros de treinamentos de coaches, como retaliação por ter seu nome no New Brazil Papers.
E deu errado, como pudemos ver, nos mais diversos chiliques das inserções semanais do seu quadro de humor nas redes goebbels espalhadas por todo o New Brazil. E agora, com o Final Boss na cola e a bunda suja, o Diretor Scheisse pode até perder a cabeça, digamos, de uma forma figurada. Ou seja, entrar no seu fusquinha com outros 43 palhaços nazistas que o acompanham e voltar à Lata do Lixo da História, a dimensão paralela de onde veio.
Mas, infelizmente, o mais provável é que caia pra cima. Jornalistas soviéticos apuraram que o Diretor Scheisse poderá se abrigar em algum carguinho do outro lado do Atlântico, na casa de algum filhote de Salazar que tem por lá...
E não foram apenas esses os personagens atingidos nesses dez dias que ainda não abalaram o New Brazil. O New Brazil Papers chegou a diversos militantes pró-New Brazil e dão a impressão que em breve devem chegar à familícia do nosso Palhaço Bozo, que teme pela sorte dos três bozinhos, donos das Fábricas de Água Sanitária – ver últimos episódios. Aguardemos os próximos.
Rodizio de protesto em Saint Paul City: dia sim e dia sim, as ruas são daqueles que torcem contra
No último domingo, e em números cada vez maiores, afinal, muitos estão obrigados a trabalhar para os necroburgueses do New Brazil e já não lhes importa ficar de quarentena no domingo se já estão debaixo de açoite de segunda a sábado. Aqueles que Torcem Contra voltaram a tomar as ruas de todo o reich tropical. Voltaram a exigir o fim do programa do Palhaço Bozo e de outras tristes palhaçadas nazistas.
E novamente, com muita força, tomaram as ruas de todas as cidades do New Brazil. De Joy Port a Fortress Town, de Brazilia DC a Saint Paul City. Os súditos do New Brazil que compõem a audiência bovinizada do Palhaço Bozo ficaram em casa. Apenas meia dúzia foram às ruas. Entre eles três adolescentes que vestiam suásticas e acabaram protegidos pela cinzenta SS Paulistaner, uma das principais milícia pró-Palhaço Bozo que temos notícia.
Também foram bem tratados pelo portal da Rede Goebbels, que outrora divulgava até CPF e endereço daqueles que torcem contra detidos no passado, hoje escondeu os rostinhos nazistinhas do público. Um bom filhote da ditadura à casa torna. E que lindinhos os fãs de Burzum. Juan Brujo mandou um abraço (*3).
Mas não adiantou nem o ‘Rodízio de Protestos’ promovido pela oligarquia Paulistaner – aquela que quando Johnny Dólar decretou feriados por conta da pandemia foi injustamente expulsa dos “seus litorais”, como reclamaram em vídeos raivosos, bem como impedidos de entrar na Isla Argentina, pobres vítimas que são esses sofridos empreendedores que falam com o queixo preso.
“Faz um rodízio, meo”, disseram. ‘Não haverá rodízio’, respondemos todos nós, os torcemos contra. E as ruas são nossas.
Conforme-se, audiência bovinizada! Siga ligada no seu programa de palhaçadas preferidas, pois ele está com os dias contados. Aproveite ao máximo, enquanto ainda dá. Espero vê-los em Haia em um futuro próximo.
*
E, desesperado, o Palhaço Bozo relinchou mais uma vez. Na sexta anterior a mais essa tomada das ruas, e dias depois de manipular dados sobre o cronicavírus, o Palhaço Bozo pediu a sua audiência que gravasse esquetes de humor para seu programa nos hospitais e não bastou um dia para começarem os ataques a hospitais.
A fila indiana, superordeira, composta por senhoras e senhores de bem, ao ritmo de uma marchinha de carnaval, contrastou com a quebra de equipamentos médicos e perturbação de doentes. Mas até essas manifestações e outras que têm feito o Palhaço e sua audiência estão indo parar no New Brazil Papers.
Será o começo do fim? Aguardemos os próximos episódios.
Nota de rodapé: Amazônia Viral e mais ataques do ursomem soviético
Como mandam os manuais do bom jornalismo que aprendemos nas universidades e nos veículos de comunicação ilustrados, os mesmos que hoje posam de boa gente mas que trabalharam em prol da anomia newbrazilian, dedicaremos uma pequena nota ao final desta crônica ao programa Amazônia Viral e aos novos ataques do ursomem soviético (ver últimos episódios).
Comecemos pela Amazônia Viral: o programa da nossa Inominável Palhaça da Familícia e Humanos Direitos teve enorme sucesso em sua missão quase evangelizadora de levar o cronicavírus para as tribos mais afastadas da região amazônica. Afinal de contas, as maravilhas da civilização devem ser democratizadas, não é mesmo?
Pipocam reportagens, notícias, pesquisas e denúncias de contaminação exponencial dos povos indígenas de todo o país, em especial os amazônicos, ao passo que o desmatamento e a devastação ambiental avançam ao lado da grilagem ilegal e das milícias de fazendeiros.
E se todas as escrituras de terras do New Brazil estiverem corretas, com toda certeza o reich tropical possui um território duas vezes maior que o da antiga União Soviética. Mas trataremos melhor do programa Amazônia Viral na Gambiarra da Destruição: o futuro documentário sobre o New Brazil. Por enquanto, respeitemos os manuais e cartilhas, afinal, não somos terroristas. Ainda...
Já o nosso Ursomem Soviético saiu marcando o número 17 nas testas de diversas pessoas. Desde acomodados ex-roteiristas do programa, até palhaços-estaduais, como o de Saint Paul e o do Rio (lembre-se do sotaque green-go). Mas dessa vez tivemos duas personagens que merecem destaque. A primeira delas, é uma das apresentadoras do programa Dead Plain (Planície Morta, na língua dos coaches).
Na gaze que o próprio Ursomem lhe deixou como curativo, veio escrito: “Senhora Arev, (ela é de ascendência russa), a senhora precisa ser lembrada como alguém que ajudou o Palhaço Bozo a chegar onde chegou”. E além dela, também foi marcado um desses contadores formados na Terra da Liberdade, na cidade que nós, que torcemos contra, conhecemos como a dos mártires do primeiro de maio. Neste segundo caso, o bilhete dizia: “Esse senhor acabou de ser demitido da diretoria do programa do Palhaço Bozo e alguns democratas-de-plantão do Instituto Mises já abanam seus rabinhos. Não pude me conter. Assinado: Ursomem”.
E enquanto vamos, em parte trancados em casa, e em parte ainda maior obrigados a trabalhar pelos necroburgueses vitimizados do New Brazil, somos obrigados a assistir a tudo isso. E agora nos olhamos, como quem realmente não aguenta mais, e, apesar de termos nos acostumados, vamos juntos enviar o New Brazil e seu Palhaço direto para os tribunais de Nuremberg da atualidade e posteriormente para o esgoto da história.
Nossa força de vontade contrasta com o vitimismo e o mimimi (repito, como eles próprios definiram em sua novilíngua) dos necroburgueses, que dizem que “é muito difícil ser empreendedor nesse país”, como reclamou um Paulistaner nas redes antissociais. Ele é CEO de uma empresa que não produz nada: nem tecnologia, nem transporte, nem comida, mas explora todas as três em nome do dinheiro mais fácil e do crime mais perfeito que se tem notícia. Mas os entregadores também torcem contra e estão conosco. Prometem uma greve que vai matar muito necroburguês vagabundo que não sabe fritar um ovo de fome!
Domingão tem mais. Comprem algum papel higiênico, pois os fãs do Palhaço Bozo e necroburgueses súditos do New Brazil devem esgotá-los até a próxima sextada (SIC).
Notas:
*1: Referência ao 1984, do George Orwell. É exatamente este o mundo em que se situa o New Brazil. Alguns anos depois do Não Verás País Nenhum, de Inácio Loyola de Brandão, e um pouco antes da destruição total do planeta Terra. É uma história dentro de algumas histórias.
*2: Aqui, a referência é de música genuinamente antifa. A Ferramenta – Estátuas (Sementes 2012). Mais adiante, a referência é aos Monumentos à Barbarie, da banda Desacato Civil.
*3: Agora a referência é da cena do metal e envolve duas subcenas: grindcore e blackmetal. O Grindcore tem uma origem mais próxima da esquerda e do antifa, enquanto no Black Metal existe a disputa. Até hoje, muitas bandas Black Metal com posturas antifascistas, como a Necrogosto (que tem uma música chamada Crush Salomons Temple, sobre a IURD) lutam contra o crescimento de bandas neonazis e seus fãs, como os famigerados adolescentes filmados em Saint Paul City no último domingo a que nos referimos.
*Por fim, espero que o fantasma de John Reed não me puxe meus pés esta noite por conta deste título
Leia os outros episódios da série:
Cronicavírus in Brazil: tudo do pior que podemos apresentar
Cronicavírus in Brazil (2): milicianos, terraplanistas e outros seres da lata de lixo da história rumo ao Hexa!
Cronicavirus in Brazil (3): com vocês, a Namoradinha de Auschwitz - e outras histórias
Cronicavírus in Brazil (4): Tiros, compras e água sanitária
Cronicavírus in Brazil (5): Segue o líder!
Cronicavírus in Brazil (6): Aqueles que torcem contra
Cronicavírus in Brazil (7): New Brazil Papers, campeão moral, maninfestações e o relincho do Palhaço
Raphael Sanz é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.