Correio da Cidadania

Fraude, corrupção e métodos ditatoriais marcam agenda privatista de Tarcísio em SP

0
0
0
s2sdefault

Privatização da Sabesp. Tarcísio impõe privatização da Sabesp após covarde  repressão e comemora como "dia histórico"

Numa sessão parlamentar marcada por extrema violência policial, após dias de farra na distribuição de dinheiro de emendas para parlamentares, o governo do bolsonarista Tarcisio Gomes de Freitas conseguiu aprovar a privatização da Sabesp. A decisão vai na contramão da tendência mundial de manter serviços de água e saneamento nas mãos do poder público. Mas, como destaca a entrevista que o Correio realizou com Diego Vitello, diretor do sindicato dos metroviários, não se trata de um debate baseado em evidências técnicas e científicas. A agenda de privatização das maiores empresas estatais de São Paulo é um descarado jogo de cartas marcadas, a mais velha lógica do toma lá dá cá entre empresários financiadores de campanhas e parlamentares alheios às necessidades sociais.

“Agora, Tarcisio entrega milhões para esses grupos, que depois lhe dão dinheiro para financiar sua campanha, seja em 2026, seja quando for candidato novamente. Eu diria, inclusive, que é uma corrupção legalizada pelo capitalismo, um verdadeiro absurdo o que acontece nas privatizações de empresas públicas onde os empresários beneficiados com as privatizações depois retribuem somas de dinheiro para os políticos que privatizaram as empresas públicas”, resume.

Como demonstrado em outras matérias, a agenda neoliberal capitaneada pela extrema-direita traz elementos de uma cartilha econômica surrada com métodos políticos explicitamente autoritários, quando não mafiosos, como no caso das ameaças que dirigentes dos metroviários sofreram ao longo do ano. Outra faceta que se evidencia desta dinâmica é o total desprezo pelas posições dos trabalhadores que serão diretamente afetados pela troca de propriedade das empresas em questão. Dessa forma, o acirramento dos conflitos entre representantes do mundo do trabalho e um Estado instrumentalizado pelo Capital parece inevitável, a exemplo da greve de 28 de novembro, que juntou funcionários da Sabesp, do Metrô e das linhas de trem da CPTM.

“E temos certeza de que existem mais setores com os quais podemos ampliar a luta. Os professores se somaram aos nossos atos, o que foi bastante positivo. E nós achamos que o estado de São Paulo tem de organizar uma grande greve geral contra as privatizações e todos os ataques contra os direitos dos trabalhadores. Nesse sentido, nós achamos necessário fazer um chamado às grandes centrais sindicais, à CUT, à CTB, à Força Sindical, para que impulsionem esse movimento, pois com uma greve geral é possível derrotar o projeto de privatizações do Tarciso e também diversos ataques que os patrões estão fazendo contra os trabalhadores atualmente”.

Quanto às consequências das privatizações, se concretizadas, Vitello bate na tecla de sempre dos que se opõem a tais projetos e se baseia em exemplos do próprio presente das cidades brasileiras. “Para a população é muito categórico: piora da qualidade do serviço e o aumento da tarifa. É isso. Basta olhar o caso do Rio de Janeiro: passagens de transportes custam cerca de 50% mais, a conta mínima da água mínima é mais que o dobro de SP. Teremos aumento da tarifa para que a população custeie com o suor do seu esforço, com o suor do salário que ganha, salários em geral muito baixos, os mais novos bilionários no Brasil. E também haverá uma diminuição de direitos e salários, porque hoje os trabalhadores das linhas de metrô privado ganham mais ou menos metade dos salários dos trabalhadores da empresa pública”.

Leia a entrevista completa com Diego Vitello a seguir.


Correio da Cidadania: Como analisa a agenda de privatizações de grandes empresas públicas, prestadoras de serviços essenciais, do governador Tarcisio de Freitas, praticamente a única pauta que mobiliza seu primeiro ano de governo?

Diego Vitello: As privatizações realmente são o centro total do governo porque se trata de atender grupos econômicos, meia dúzia de grandes empresários interessados em lucrar com os serviços públicos de São Paulo. Um exemplo muito interessante se viu na revista Forbes: cinco dos novos bilionários brasileiros em 2022, que viraram bilionários em 2022, são acionistas do grupo CCR, a empresa que comanda as linhas 4, 5, 8 e 9 do metrô e da CPTM, respectivamente.
Isso nos dá a noção de que o governo está a serviço de tais interesses, está focado em fazer meia dúzia de multimilionários ganhar ainda mais dinheiro com os serviços públicos de São Paulo.

Obviamente, a qualidade do serviço, como se vê em qualquer parte do país, decai muito. Mas é evidente que este governo não está nem aí para o povo de São Paulo, não está nem aí para a população que necessita de uma Sabesp funcionando bem, de um metrô funcionando bem, de uma CPTM funcionando bem.

O que o governo quer é aumentar o lucro dos grandes empresários, que vão ganhar com a privatização dessas empresas, caso se concretizem, pois tem a ver com o financiamento das campanhas futuras do Tarcísio. Assim, agora ele entrega milhões para esses grupos, que depois lhe dão dinheiro para financiar sua campanha, seja em 2026, seja quando for candidato novamente.

Eu diria, inclusive, que é uma corrupção legalizada pelo capitalismo, um verdadeiro absurdo o que acontece nas privatizações de empresas públicas onde os empresários beneficiados com as privatizações depois retribuem somas de dinheiro para os políticos que privatizaram as empresas públicas.

Correio da Cidadania: O que pensa do embasamento teórico dessas privatizações, a exemplo dos estudos encomendados pelo governo a fim de validá-las?

Diego Vitello: Esse embasamento teórico na verdade foi um esquema em que o governo pagou para uma empresa apresentar supostas bases técnicas, já dizendo que pagaria mais caso a conclusão fosse favorável à privatização dos serviços públicos de São Paulo, no caso, a Sabesp, o metrô e a CPTM. Uma fraude que o governo monta para atender os interesses mencionados no início, de meia dúzia de atores privados financiadores de campanha.

Correio da Cidadania: Como foi o processo de diálogo com os trabalhadores das empresas que estão na mira dessas privatizações?

Diego Vitello: O “diálogo” conosco foi só na base das ameaças. Primeiro o governo falou iria privatizar até 2025, sem nenhuma negociação com o sindicato, com nenhum dos sindicatos, mas até 2025 ele fala que as três empresas já estarão privatizadas.

Não há nenhum diálogo, e pelo contrário, ameaça quem vai lutar contra. Nós, por exemplo, estamos com oito metroviários e metroviárias demitidos por lutar contra a privatização. Dentre eles, a maioria é diretor do sindicato. É assim que funciona, na base da ameaça e da perseguição contra trabalhadores que lutam contra a privatização.

Além disso, na greve do dia 28 de novembro, o governo lançou uma lista de trabalhadores que não poderiam aderir à greve. Ele lançou uma lista de pessoas que deveriam entrar para trabalhar no dia que as assembleias já tinham decretado a greve. Ele fez isso tanto no Metrô quanto na CPTM e na Sabesp. E falando, inclusive, que iria demitir caso não entrassem para trabalhar. Mesmo assim, os trabalhadores não se dobraram perante essa ameaça ilegal, antissindical e covarde contra mães e pais de família que o Tarcísio fez.

Correio da Cidadania: O que descreve da sessão parlamentar desta quarta, que forçou a votação da venda da Sabesp e terminou com sua aprovação por 62 votos a 1, dada a ausência da oposição, em noite marcada por repressão policial contra os trabalhadores presentes à Alesp?

Diego Vitello: Na quarta-feira, São Paulo viu as cenas aterrorizantes da PM espancando manifestantes. Prenderam vários, e ainda temos quatro companheiros e companheiras presos nesse momento. Tudo para defender os interesses desses grupos privados. Tarcísio não só não dialoga como manda a PM bater os manifestantes, prender os manifestantes.

Essa sessão na Assembleia Legislativa da privatização da Sabesp mostrou também que a maioria dos deputados também está a serviço dos grupos privados que depois, muito provavelmente, financiarão suas campanhas eleitorais de reeleição. Portanto, são deputados que não se preocupam com a população e vendem os seus votos para a iniciativa privada, nesse esquema de corrupção legalizada que existe no parlamento brasileiro.

Correio da Cidadania: Existe diálogo com os parlamentares? O que comenta sobre a distribuição de emendas pelo governador às vésperas da votação da venda da Sabesp?

Diego Vitello: Existem os parlamentares da oposição ao governo, que são contra a privatização da Sabesp. Eles mostraram compromisso, é importante, valorizamos a unidade com esses parlamentares. Mas, de fato, o governo utilizou também da distribuição de emendas, dias antes da votação da privatização, para comprar os parlamentares, porque o Tarcísio está disposto a fazer de tudo para entregar o patrimônio do povo de São Paulo na mão desses grandes grupos econômicos que vão lucrar milhões com a piora do serviço prestado à população. As emendas foram só mais uma faceta dessa política.

Correio da Cidadania: Por que trabalhadores dos metrôs e trens se unificaram aos da Sabesp? Quais as convergências entre eles?

Diego Vitello: Nós temos uma luta em comum contra as privatizações em defesa dos serviços públicos que são prestados ao povo de São Paulo. Nós sabemos que com a privatização vai piorar muito a qualidade do serviço e vão aumentar muito as tarifas. É só a gente olhar para o lado, por exemplo, no Rio de Janeiro, onde infelizmente o metrô e o trem são privados, a passagem de trem custa R$ 7,40 e a de metrô R$ 6,90.

A conta mínima na empresa de águas no Rio de Janeiro privatizada é R$ 45,00, em São Paulo é R$ 20,00. Os trabalhadores estão unificados contra esse projeto, que prejudica a população como um todo e também ameaça os empregos de milhares e milhares de trabalhadores e trabalhadoras.

Portanto, essas são as nossas convergências. E temos certeza de que existem mais setores com os quais podemos ampliar a luta. Os professores se somaram aos nossos atos, o que foi bastante positivo. E nós achamos que o estado de São Paulo tem de organizar uma grande greve geral contra as privatizações e todos os ataques contra os direitos dos trabalhadores.

Nesse sentido, nós achamos necessário fazer um chamado às grandes centrais sindicais, à CUT, à CTB, à Força Sindical, para que impulsionem esse movimento, pois com uma greve geral é possível derrotar o projeto de privatizações do Tarciso e também diversos ataques que os patrões estão fazendo contra os trabalhadores atualmente.

Correio da Cidadania: Em sua visão, quais as consequências, tanto para trabalhadores como usuários dos serviços, de eventuais privatizações do metrô e da Sabesp?

Diego Vitello: Para a população é muito categórico: é a piora da qualidade de serviço e o aumento da tarifa. É isso. Basta olhar o caso do Rio de Janeiro, que é categórico: passagens de transportes custam cerca de 50% mais e a conta da água mínima é mais que o dobro de SP. Teremos aumento da tarifa para que a população custeie com o suor do seu esforço, com o suor do salário que ganha, salários em geral muito baixos, os mais novos bilionários no Brasil.

Para os trabalhadores sobra desemprego em massa, são dezenas de milhares de famílias que podem perder seu sustento nos próximos anos caso o Tarciso consiga privatizar todas as empresas públicas. E também haverá uma diminuição de direitos e salários, porque hoje os trabalhadores das linhas de metrô privado ganham mais ou menos metade dos salários dos trabalhadores da empresa pública, de maneira que eles querem tirar o couro do trabalhador mesmo, pagar baixos salários e maximizar os lucros dos empresários. Essa é a desgraça toda do projeto: demitir, retirar direitos da nossa classe e também piorar a qualidade do serviço, ainda por cima com aumento de tarifas.

Gabriel Brito é jornalista, repórter do site Outra Saúde e editor do Correio da Cidadania.

*Gostou do texto? Sim? Então entre na nossa Rede de Apoio e ajude a manter o Correio da Cidadania. Ou faça um PIX em qualquer valor para a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática; a chave é o CNPJ: 01435529000109. Sua contribuição é fundamental para a existência e independência do Correio.

*Siga o Correio nas redes sociais e inscreva-se nas newsletters dos aplicativos de mensagens: Facebook / Twitter / Youtube / Instagram / WhatsApp / Telegram 

0
0
0
s2sdefault