Mídia distorcedora
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- Paulo Metri
- 18/03/2016
Segundo o dicionário, “distorcedor” é um positivo utilizado para produzir distorções intencionais no som de instrumentos musicais, de gravações ou em reprodução sonora. A mídia convencional distorce os fatos para satisfazer aos interesses de poderosos, detentores de poder político, prepostos do capital e representantes de nações e empresas estrangeiras. Aquele que se informa somente pela mídia convencional vive em um mundo irreal. Trata-se de um ingênuo útil, que, com sua ignorância, permite a exploração do capital, a eleição de corruptos e o roubo de nossos recursos naturais por estrangeiros.
Para o leitor poder avaliar o que tento transmitir, sugiro a participação em um teste. Procure se lembrar de quando foi a última vez que você viu um sindicalista da ativa (Lula, hoje, não é mais um sindicalista) dando uma entrevista na televisão. Não é possível responder o Paulinho da Força Sindical, pois este nunca foi um genuíno sindicalista. Quando foi a última vez que você viu o representante de algum movimento social de esquerda sendo entrevistado? Não vamos longe, João Pedro Stédile é invariavelmente não citado, a não ser quando o seu “exército”, no sentido do conjunto de seus seguidores, é lembrado. Entretanto, os políticos da bancada ruralista vivem dando entrevistas.
Por que são sempre mencionados os integrantes desta bancada no Congresso, da bancada da bala, os representantes dos planos de saúde, os das escolas privadas, os evangélicos etc.? Inclusive, a soma dos integrantes destas bancadas deve atingir quase 594 congressistas, significando que restam poucos representantes do povo. Com a divulgação de versões incorretas dos fatos pela mídia corrupta, com o interesse de manipulação da sociedade, esta pode vir a tomar decisões contrárias aos seus próprios desejos. Por estes fatos, se pode dizer que esta mídia distorce a própria vida.
Por que quando se bate panelas nos bairros da classe abastada da sociedade a mídia não transmite o silêncio dos bairros mais pobres. A manipulação consiste em buscar vender uma “realidade” não existente, filmando só o que embasa fatos supostos. Desta forma, é uma mídia antidemocrática, que não cumpre seu papel, enquanto concessionária de serviço público. Por que será que todas as manifestações veiculadas por esta mídia deixam a tela sempre com uma amostra não representativa do universo da nossa sociedade? Só aparecem pessoas brancas ou queimadas de praia e piscina, com roupas de grife, camisas da seleção caras para o povo em geral, cheias de dentes, saudáveis, sem a camisa do seu time de futebol preferido. Obviamente, a mídia insufla o movimento desta elite, porque ela é também agente da dominação do povo, tal qual a mídia.
O fim do dia de 16 de março foi trágico. No passado, golpistas sonhavam com sitiar Getúlio no palácio do Catete. O tempo caminhou um pouco e os golpistas de Jacareacanga deviam sonhar com soltar bombas onde Juscelino estivesse. Os tanques do general Olympio Mourão desceram a serra para enfrentar eventuais forças leais ao presidente Jango no Rio. Ou seja, os fascistas do passado não disfarçavam suas lutas pelo poder. O que se constata hoje é um golpe travestido de ação legal. O conluio, usando fatos com significativos, porém inflados, vazamentos seletivos e versões não confirmadas, englobando integrantes da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal e a irrecuperável mídia, busca transparecer que não são simples fascistas com gana de poder.
Vivemos, nesta semana, o perigo imenso de uma camada não representativa da sociedade, no qual um mundo virtual parece ser o conjunto dos brasileiros e, assim, a mídia tenta até convencer os militares a se sublevarem para depor Dilma por algo que ela não fez. Os militares comportaram-se exemplarmente, mas a pressão irá continuar e eles são humanos, passíveis de contaminação pelo vírus fascista.
Perguntei-me o porquê de os integrantes do conluio terem, ontem, exacerbado suas ações. Creio ter descoberto, pois se trata simplesmente do medo da nomeação de Lula como ministro dar certo, no sentido de que este fato, seguido de uma possível vitória eleitoral em 2018, pode significar a recuperação da economia, a recomposição das forças políticas de apoio ao governo, o retorno da política externa de aproximação com os BRICS, os países do MERCOSUL e os demais países em desenvolvimento, a recuperação do Pré-Sal para o povo brasileiro, com o veto ao projeto do José Serra, se ele for aprovado na Câmara, o retorno dos investimentos para a recuperação do poder de dissuasão das nossas Forças Armadas.
Enfim, todas aquelas atitudes que humilham FHC, que, de tão magoado, partiu para a vergonhosa agressão que “um iletrado não pode ser presidente”. Só espero, agora, após todo este sufoco, que haja o apoio da presidência da República a uma lei de democratização da comunicação de massas até sua aprovação.
Se existiram escutas nas comunicações da presidente, quantos assuntos sigilosos foram ouvidos por pessoas, que, pelo que podemos constatar, não são exemplos de integridade? Isto porque estas pessoas aceitaram participar de um conluio que, com um mínimo de seriedade, poderia ser identificado como uma monumental luta de classes. Em uma sociedade democrática, esta só pode ser sanada através de diálogo e eleições. Assim, informações sigilosas e eventualmente ouvidas por representantes do conluio, que tratavam de ações sobre a economia, que podem significar muitos ganhos na Bolsa de Valores, vão ser colocadas na lixeira?
A possível estratégia da Presidência para conter o projeto entreguista do Pré-Sal do senador José Serra, que deve ter sido muito bem recebida pelos nossos representantes dos interesses estadunidenses, vai ser esquecida? O despacho da presidente com os ministros militares em que a estratégia militar brasileira foi tratada, não é relevante? Isto é o que acontece quando um juiz de primeira instância acha que tem poder de grampear a presidente da República.
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Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania.
Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br