A mídia e o Estado laico na visita do papa
- Detalhes
- Raphael Tsavkko
- 09/08/2013
Após milhões de reais gastos com a preparação para a visita do papa, Francisco finalmente chegou. E logo o Estado laico fugiu com pavor de seu poder e influência.
Milhões de reais continuaram sendo gastos com sua segurança, transporte e preparação de locais para seus cultos e caminhadas para "contato com o povo". Grandes vias do Rio de Janeiro foram fechadas, causando prejuízos e, em meio a tudo isto, a cidade dá um show de desorganização e total falta de capacidade em lidar com grandes eventos.
De quebra, milhares de pessoas são espancadas e criminalizadas nas ruas enquanto protestam contra a vinda do papa, os gastos abusivos e contra o governador do Rio e grande responsável pela situação, Sérgio Cabral.
Em meio a tudo isto, ligamos a TV na Globo e Globonews e nos deparamos com 24h de programação voltada para o papa. Abrimos os principais portais da internet e somos inundados por carolice transbordante. O resto merece nota de rodapé. Se muito.
Estado laico
O Estado brasileiro é laico. Ou deveria ser. E concessões públicas, como os canais de TV, também são. Em tese.
O papa Francisco é um chefe de Estado, é verdade, assim como é um líder religioso. Governa uma teocracia, o Vaticano, mas para nossa Constituição é preciso distinguir funções, mesmo que na prática (na prática vaticana/católica) a distinção não exista.
Se veio como chefe de Estado, não poderia pregar, ainda mais com dinheiro do contribuinte brasileiro. Se veio como líder religioso, não pode ser recebido como chefe de Estado e ter todo o aparato de segurança do Rio a seu dispor, nem poderia fechar as principais vias da cidade. O Estado é laico e não pode estar a serviço da religião.
E o papel prestado pela grande mídia não contribui com o respeito ao Estado laico. Pelo contrário.
Direitos Humanos em questão
São horas e mais horas de cobertura ao vivo até dos espirros do papa, e não seria de surpreender se descobríssemos que a Globo tentou colocar uma câmera no banheiro do líder religioso, uma espécie de Big Brother Santo...
Nos portais, o máximo destaque é dado à cobertura de eventos que desrespeitam abertamente os direitos humanos, pregando homofobia e machismo.
A Globonews, por sua vez, parece ter esquecido de tudo que não se relacione com o papa, em uma cobertura que beirou as quase 24 horas de missas e louvações à presença do líder obscurantista.
Não há espaço para crítica, mas tão somente para a exaltação de um megaevento; é a mercantilização da religião, agora da católica, aos moldes do que fazem os evangélicos e a Record. Todos querem seu espaço para praticar proselitismo... E conseguem. Inclusive com apoio e financiamento estatal.
Contraponto
Do outro lado, o movimento social utiliza todas as ferramentas de mídia social que pode para escapar não só do costumeiro bloqueio midiático, mas também para contornar a pauta única de boa parte da mídia desde a chegada do papa.
A Mídia Ninja, grupo ligado ao coletivo Fora do Eixo, tem transmitido ao vivo horas e horas de manifestações em frente à casa do governador Cabral e em outras partes do Rio de Janeiro. Manifestações muitas vezes reprimidas com extrema violência pela PM, com ajuda de provas plantadas, criminalização e agentes infiltrados.
Novidade, porém, nas últimas manifestações foi também a presença de delatores, majoritariamente no Twitter e Facebook. São apoiadores do governo Cabral e Dilma dispostos a tudo para sustentar governos cada vez mais impopulares, mesmo que para isto tenham de entregar ativistas de esquerda, ou seja, da mesma posição ideológica que dizem reivindicar, apesar das provas práticas em contrário.
Enfim, enquanto a pauta única midiática se concentrou no papa, coube às redes sociais desmascararem agentes infiltrados, os conhecidos P2, e denunciar a criminalização do direito ao protesto. Foi através das redes sociais e da cobertura da Mídia Ninja que diversos agentes infiltrados e prisões arbitrárias foram denunciados, e desta forma a pressão contra os governantes só cresce.
Um novo tempo?
De um lado, as pesadas denúncias do péssimo uso do dinheiro público (não apenas com a visita do papa, mas com outros megaeventos, como Copa e Olimpíadas, e mesmo o uso de helicópteros para lazer por parte do governador do Rio), do outro lado, a mobilização popular contra as violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro e pelo país, além dos direitos sociais.
A certeza, enfim, é que, enquanto o desrespeito ao Estado laico e aos direitos humanos é sistemático por parte de governos e da grande mídia, a mídia alternativa se mobiliza não apenas para se opor, mas para ser a própria mídia, nova, popular e social, como forma não só de furar o bloqueio, mas de ser uma alternativa real e de longo prazo.
Raphael Tsavkko Garcia, jornalista e blogueiro, formado em Relações Internacionais (PUC-SP), é mestre em Comunicação (Cásper Líbero).
Comentários
presidente da republica, governador de estado, prefeito de grandes capitais,senadores,dep federal e estadual,e vereadores, so o povo brasileiro o elegeu como é verdade, por o proprio povo não exige que eles teriam de ganhar ajuda de custo no maximo de quinhe mil reais, por mes, sem mais nada, nem decimo terceiro, ferias uma por ano, assim, nos dois poderemos discutir o assunto acima. Deus de abençõe.
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