A primeira manifestação realizada pelos militantes de
diversos movimentos sociais envolvidos na organização da Marcha foi um ato ecumênico.
Na praça onde foi queimado o índio pataxó Galdino de Jesus, os marchantes foram
recebidos por bispos e pastores, que realizaram um "lava-pés". A cerimônia se
estendeu por todo o período da manhã.
À tarde, os marchantes organizaram um novo ato, desta vez em frente ao
Banco Central, em protesto contra a presença do FMI no local (o Fundo mantém um
escritório dentro do BC) e no Brasil.
O ato no BC foi tenso. Do lado de dentro, funcionários do banco jogavam
papel picado, saudando os manifestantes. O presidente do BC, Armínio Fraga, relutava em
receber uma comissão de representantes da Marcha. Para a surpresa dos manifestantes, os
funcionários, do lado de dentro, ergueram pelas janelas uma faixa onde se lia claramente:
Fora FMI.
Pouco depois, Armínio cedeu e aceitou receber a comissão, com a
condição de que fossem todos deputados federais. Nova negociação e Fraga aceitou um
sem-terra entre os deputados. Durante o encontro, o constrangimento foi total. O
representante dos sem-terra, Ezequiel dos Santos, presenteou o presidente do BC com a
bandeira do Brasil e com uma caixa contendo a bandeira norte-americana. Nervoso, Armínio
apenas disse que a sua bandeira era a do Brasil.
Encerrando o ato, o líder do MST, João Pedro Stédile, fez um discurso
exaltado, no qual propôs atos de quebra-quebra nos pedágios e ocupações nos
latifúndios. Os repórteres dos jornais conservadores cercaram João Pedro após o
discurso, procurando confundir suas palavras com uma tática violenta. O líder sem-terra
esclareceu que o seu jeito de falar, que é mesmo dasabrido, não tem outro propósito que
não o de chamar atenção de modo dramático para a tragédia pela qual passa o Brasil.
"Não estou incitando quebra-quebra. O pessoal sabe que esta é a minha maneira de
falar", afirmou.
A deputada federal Luci Choinacki (PT-SC) ficou emocionada com a
aceitação da marcha por parte dos moradores do Distrito Federal. "Isso demonstra
que a marcha traz esperança para o povo brasileiro, com os pés no chão. É muito
emocionante ouvir os aplausos da população", destacou Luci, que acompanhou o
percurso da marcha em Brasília desde as 6 horas.
Após as manifestações, os governadores do Rio Grande do Sul, Olívio
Dutra (PT), e do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, reuniram-se com os manifestantes da
Marcha Popular pelo Brasil, no clube da Asfub (Associação dos Funcionários da
Universidade de Brasília), onde os marchantes ficaram hospedados na capital federal.