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O governo federal está modificando sua estratégia em relação ao movimento social brasileiro, especialmente em relação ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A repressão aos índios e sem-terra durante os festejos de 500 anos do descobrimento do Brasil parece ter sido o marco inicial de uma nova fase da gestão FHC. Uma semana depois da pancadaria de Porto Seguro, o governo decidiu reprimir com inédita violência as manifestações da Jornada Nacional de Lutas do MST, um evento que os sem-terra organizam todos os anos no início de maio. Até a Lei de Segurança Nacional a mesma aplicada pela ditadura militar e a censura dos meios de comunicação foram utilizadas na tentativa de estigmatizar o MST. Para o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, a nova estratégia é "preventiva". "O governo sabe que o grau de insatisfação do povo está aumentando como conseqüência da política econômica e procura intimidar e amedrontar o movimento social usando expedientes autoritários, antidemocráticos e inaceitáveis, como a LSN e a censura", diz o líder petista. Como era de se esperar, boa parte da grande imprensa comprou a versão do governo de que os sem-terra estão "passando dos limites". A revista Veja e o jornal O Globo, entre outros, esforçaram-se para mostrar que o MST não é mais um movimento reivindicatório, mas possui também um caráter político, como se a reforma agrária não fosse sobretudo uma bandeira política. Enquanto a Veja utilizou oito páginas de sua edição 1648 para apresentar o MST como um movimento que prega a "revolução socialista", o jornal da família Marinho preferiu usar o velho expediente de tentar intrigar os sem-terra com seus aliados, apontando o isolamento do MST em relação ao PT. Ou seja, a revista escreve para assustar a classe média e o jornal, para dividir o movimento social. O presidente do PT, no entanto, refuta as acusações de que o partido não apóia os sem-terra: "A mídia está apoiando o governo e tenta isolar o MST. Nós, do PT, somos totalmente solidários com a luta dos sem-terra. Apenas achamos que o MST tem que se articular no Fórum Nacional de Lutas, não pode agir sozinho. Também já manifestamos nossa opinião de que o MST deve evitar a depredação do patrimônio público e a manutenção de funcionários públicos nos prédios durante as manifestações", observa Dirceu. Apesar do apoio da mídia, a estratégia do governo FHC começa a enfrentar opositores em campos tradicionalmente simpáticos ao tucanato. Depois que o ministro Andrea Matarazzo censurou uma entrevista com o líder sem-terra João Pedro Stédile na TVE, o curador da Fundação Padre Anchieta mantenedora da TV Cultura, que não aceitou a pressão e transmitiu a entrevista, Jorge Cunha Lima, mostrou-se indignado com a atitude de Matarazzo. "O problema para o governo é que o repúdio da sociedade ao autoritarismo é muito grande", analisa o presidente do PT |
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