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O jornal "O Globo", de 7 de maio, estampou a manchete de maior cretinismo da atual campanha de apoio às medidas ditatoriais do governo FHC: Radicalização do MST preocupa governo e PT. Pouco interessa o corpo da matéria. O que fica gravado nos que a leram é que governo e PT estão com a mesma preocupação. Governo e PT não têm, nem podem ter, em hipótese alguma, preocupações idênticas. Tal identidade podia até ser explicável, em 1994, quando FHC ainda enganava petistas ao fingir o plágio do programa do PT. Agora, porém, ela é inexplicável e injustificável. PT e governo têm preocupações antagônicas, inconciliáveis. FHC vende o Brasil a preços de liquidação e torna o país um paraíso para as multinacionais, enquanto o PT se opõe a isso. O governo faz tudo para manter em dia o pagamento dos juros das dívidas externa e interna, mesmo que isso signifique estagnação econômica e degradação social. O PT, ao contrário, busca elaborar um projeto nacional de desenvolvimento econômico e social que inverta o quadro de miséria do país, mesmo que seja necessário enfrentar a ira de grupos econômicos e financeiros poderosos. FHC tem fingido que faz a reforma agrária, mas na prática vem destruindo não só os pequenos agricultores familiares, como a própria agricultura. Enquanto com uma mão admite o assentamento de um sem-terra, com a outra permite a expulsão de mais de uma dezena. Estimula a concentração fundiária, de tal modo que, em poucos anos, poderá reimplantar as capitanias hereditárias. O PT, em oposição, luta para que a reforma agrária seja massiva e rápida, única forma de quebrar o monopólio agrário, democratizar a propriedade da terra e criar as bases para um verdadeiro mercado interno de massas no país. FHC tem, de forma crescente, radicalizado sua ofensiva contra a democracia. Começou com o estelionato do Real. Continuou com a corrupção para aprovar a reeleição. Tem avançado com o uso indiscriminado das Medidas Provisórias, um discurso típico do regime ditatorial e crescentes medidas repressivas. Já não se envergonha de dizer, como os presidentes militares, que o assassinato de combatentes do povo é um alerta para evitar futuras resistências. Seu recente pacote de medidas não é apenas contra o MST e a reforma agrária. É contra a esquerda, o PT, o povo e a democracia. Assim, o que preocupa ao PT, à esquerda e a nós todos não é a radicalização do MST, mas a radicalização direitista, ditatorial e golpista do governo. A reação dos pobres do campo e das cidades é resultado da radicalização econômica, social, política, policial e militar dos grupos que dominam o poder. Mesmo que os pobres também se radicalizem, no desespero da miséria e da luta pela sobrevivência, isto será sempre conseqüência, não causa. Por isso, preocupa-nos que haja quem confunda os dois aspectos e aceite como verdadeira a manchete de "O Globo". No grau de sufoco a que estão submetidos os brasileiros pelas políticas de FHC, só com um esforço inaudito será possível levar os pobres e miseráveis a manterem uma tática de luta que tenha a razão e os limites políticos como parâmetros. Não entender isso e aceitar as versões de FHC é o mesmo que abrir caminho para a ditadura. Depois de reprimir os que chama de radicais, como o MST, essa ditadura em processo de institucionalização chamará os católicos de radicais e os reprimirá. Depois serão os evangélicos, os pacifistas, os ecologistas, os petistas, os comunistas e todos os que não se curvarem ao pensamento único. Se, a cada vez, nos curvarmos àquelas versões, aceitando que o baderneiro geral acuse os demais de radicalização, chegará o dia em que não haverá mais a quem apelar.
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