A
ofensiva do governo e da mídia contra o MST perdeu o ímpeto, mas não foi detida. Houve
recuo no enquadramento na Lei de Segurança Nacional dos sem-terra presos por ocupação
de prédios públicos. Mas os despejos feitos ao arrepio da Constituição continuam no
Paraná e a audiência do MST com o presidente da República está em ponto morto, porque
este a suspendeu, a pretexto de que os sem-terra bloquearam a entrada de agências
bancárias na região do Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo.
A fúria de FHC deve-se ao estrago que a repercussão internacional da
repressão aos protestos dos sem-terra causa na imagem de pessoa civilizada que ele busca
manter a todo custo. FHC teme também que a combatividade do movimento contamine os outros
segmentos da sociedade, que começam a dar mostras de insatisfação com a deterioração
de seus padrões de consumo. Durante a semana, o presidente reuniu-se com o ministro da
Justiça e com o ministro chefe da Segurança Institucional, General Alberto Cardoso, para
preparar um pacote de medidas repressivas destinadas a impedir a explosão do
descontentamento popular.
O MST fez um recuo tático nas ocupações de prédios públicos, mas não
foi abatido pela repressão. Pelo contrário, demonstrou uma vitalidade tão grande que
causou surpresa em vários observadores internacionais. Eles ficaram admirados pelo fato
de que, durante o período mais duro do ataque que o movimento sofreu, seus dirigentes
tiveram calma e tranqüilidade para se recolher em um mosteiro beneditino, em Vinhedo, no
estado de São Paulo, para refletir, durante dois dias, sobre os problemas estruturais da
nação. A ameaça de devassas e de suspensão de crédito para as cooperativas de
assentados será rebatida com medidas jurídicas tomadas com o apoio de advogados que se
dispuseram a trabalhar gratuitamente nessas ações. Outra equipe de advogados estuda a
propositura de ação para exigir direito de resposta e cobrar da revista Veja
indenização por danos morais. O conselheiro da Ouvidoria da Polícia, professor Fabio
Comparato, enviou carta ao Ouvidor solicitando informações sobre a violência cometida
pela polícia de São Paulo, que raspou a cabeça dos 14 sem-terras presos no presídio do
Carandiru, em São Paulo, como medida prévia para análise das punições cabíveis aos
responsáveis por esse atentado aos direitos constitucionais das pessoas presas.
No próximo dia 2 de junho, várias entidades da sociedade civil e das
igrejas do Paraná realizarão três grandes atos públicos para receber os sem-terra que
foram impedidos de entrar em Curitiba, no dia 2 de maio passado, em razão da repressão
violenta da polícia do governador Jaime Lerner. As principais figuras nacionais da
oposição já anunciaram presença no ato de protesto na tradicional "Boca
Maldita", no centro da capital paranaense.
Para atenuar o impacto negativo da repressão aos sem-terra na opinião
pública interna e internacional, FHC mandou o ministro Jungman anunciar a
desapropriação de 11.000 hectares de terras, confirmando, desse modo, a tese do MST, de
que a reforma agrária do governo só avança quando os sem-terra conseguem vencer a
muralha da mídia e falar à opinião pública.