Folha reage às revelações de ombudsman
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Da redação

 

A campanha que a Folha de São Paulo está movendo contra o MST está dando dor de cabeça para a Ombudsman do jornal. No dia 28 de outubro passado, ela recebeu carta reclamando contra a cobertura jornalística de uma entrevista coletiva em que o repórter omitiu completamente o motivo do evento, as pessoas presentes, o texto entregue aos jornalistas, centrando seu relato exclusivamente em duas perguntas que fez com a finalidade evidente de desviar o foco do evento – a falta de execução do orçamento Incra – para um aspecto no qual a Folha e o Ministério da Reforma Agrária têm interesse: a contribuição voluntária que os assentados fazem ao Movimento (Correio da Cidadania n.218).

No dia 12 de novembro, a Ombudsman teve de voltar ao entrevero Folha/MIRAD versus MST, desta vez por causa da representação feita pela CPT do Paraná contra o Incra e baseada em documento comprobatório de que a viagem do repórter que investigou a cobrança da contribuição dos assentados ao MST foi feita em veículo do Incra. As respostas envergonhadas da Folha e do jornalista não convenceram à Ombudsman porque se desviaram da questão central: o descumprimento evidente do Manual da Redação da própria Folha, que autoriza o jornalista a utilizar meios que não os do próprio jornal para realizar uma reportagem, mas, que fica obrigado, neste caso, a declarar expressamente esta circunstância no texto. O jornal procurou desviar a atenção do leitor com a citação da primeira parte da regra: a de que o jornalista pode usar meios não fornecidos pelo jornal para executar seu trabalho. Mas não era isso o que se discutia e sim o fato de que o jornalista omitiu que sua reportagem foi realizada com a ajuda de um veículo do órgão que está litigando contra o MAST.

A brava Ombudsman assinala ainda outro aspecto no mínimo suspeito a respeito das relações entre o jornal e o Ministério da Reforma Agrária: "Ele (o fato de que Josias de Souza e o fotógrafo Alan foram transportados em veículo do Incra) merecia especial atenção em uma reportagem que, não obstante seu propósito informativo, encaixou-se à perfeição no interesse do patrocinador do traslado. No texto de sexta feira, o próprio Superintendente do Incra no Paraná se encarregou de lembrar que a matéria possibilitou colocar 1.300 técnicos (acusados pelo jornal de irregularidades) para fora dos assentamentos. Embora publicada num domingo, a reportagem provocou imediato anúncio do governo de que os créditos estavam suspensos para apuração da denúncia. Manchete do dia seguinte, a pronta reação fez com que leitores falassem em operação casada."

As palavras da Ombudsman devem ter causado muito rebuliço na redação da Folha, porque, na mesma edição, o jornal publicou escandalosa reportagem a respeito das contribuições não contabilizadas regularmente nas contas da campanha de FHC. Não é coincidência demais que uma reportagem preparada com dois meses de antecedência seja publicada no mesmo dia em que a Ombudsman põe a nu a coincidência entre a reportagem sobre o MST e o interesse do governo? Talvez por isso muitos estão supondo que a data de publicação da reportagem denunciando o "caixa 2" da campanha FHC foi fixada com vistas a convencer o público que o jornal não tem "rabo preso" com o governo.

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