Especial |
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Há cerca de um mês, fomos surpreendidos por uma carta que circulou pela internet e acabou publicada neste espaço (edição de número 220), de autoria do Sr. Rodolfo Salm, que faz uma série de críticas a um evento sobre Manejo Florestal Comunitário realizado em Boa Vista do Ramos no final de outubro, com críticas bastante duras ao projeto desenvolvido pelo IMAFLORA e uma série de parceiros no mesmo município. Em seu artigo, o Sr. Rodolfo apresenta uma leitura distorcida e preconceituosa da realidade de Boa Vista do Ramos e dos projetos de manejo florestal comunitário da Amazônia. Basicamente, acusa os projetos de manejo florestal comunitário de estarem promovendo a destruição da floresta amazônica. Os projetos a que o Sr. Rodolfo se refere são uma mostra rara de iniciativas que têm lutado por vários anos para fomentar alternativas de uso do solo, que promovam um desenvolvimento ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável para a região. A Amazônia tem vocação florestal não apenas para estrita preservação, mas para a produção sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros (resinas, frutas, cascas, óleos, sementes) e serviços como turismo, conservação dágua e fixação de carbono. Durante anos, iniciativas de manejo florestal vêm sendo desenvolvidas junto a comunidades de ribeirinhos, caboclos, quilombolas, indígenas e extrativistas, para viabilizar a geração de renda de forma sustentável, evitando assim as ameaças do desenvolvimento destrutivo tradicional. Estes projetos envolvem produção de madeira, açaí, castanha do pará, buriti, copaíba, arumã e uma infinidade de outros produtos. Em todos os projetos, a premissa é utilizar as técnicas e métodos de extração que maximizem a conservação dos ecossistemas, bem estar social e a geração de renda. As dificuldades destes projetos são extremamente acentuadas. Faltam recursos e capacitação para gerenciamento da produção, as condições de transporte e logística são extremamente complicadas (chega-se, por exemplo, a remar por 7 dias no Acre para o produtor entregar a castanha no entreposto da cooperativa), o acesso a financiamento é precário. Existem dificuldades extremas de regularização fundiária e a legislação que regulamenta o manejo é inadequada para a escala comunitária. Para enfrentar as dificuldades e trocar experiências que pudessem garantir a sobrevivência e o sucesso destas iniciativas, as organizações de apoio e as comunidades começaram a se reunir nas Oficinas de Manejo Florestal Comunitário, iniciadas em 1998. A cada encontro, um tema definido pelos projetos, como um entrave para o sucesso do manejo florestal comunitário, é discutido. Como resultado do primeiro encontro, por exemplo, o IBAMA emitiu uma portaria que regulamenta o Manejo Florestal Simplificado para projetos comunitários, o que viabilizou a regularização de um grande número de projetos. A Amazônia está sendo destruída rapidamente, mas existe esperança, e muita. Ela está nas mãos daqueles que fazem da floresta o seu sustento e a sua vida. O IMAFLORA, assim como outras dezenas de instituições, acreditam que somente fortalecendo e dando apoio para as pessoas que vivem e trabalham na floresta é que poderemos promover conservação na região. Para conhecer mais dos projetos de manejo florestal comunitário na Amazônia, os interessados podem entrar em contato com: Projeto Pró-Manejo: pmanejo@supes-am.ibama.gov.br, IIEB/SUNY: mjgontijo@iieb.org.br, ou IMAFLORA: imaflora@imaflora.org. Para ler a resposta do IMAFLORA ao artigo de Rodolfo Salm, acesse a página www.imaflora.org/artigobvr.htm Tasso Rezende de Azevedo é Secretário Executivo do IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola |
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