A mídia em 2000: um balanço
em quatro atos (2)

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Por Luiz Antonio Magalhães

 

Na edição de número 225, tratamos nesta coluna de algumas coberturas que marcaram o ano 2000 no campo da mídia. As eleições no império e a "explosão" da internet brasileira foram os temas dominantes. Neste segundo artigo da série, vamos lembrar a "comemoração" dos 500 anos, o tratamento que o MST recebeu dos órgãos de comunicação e o nascimento de um novo jornal econômico no contexto da cartelização da imprensa brasileira.

500 anos na Nau Capitânia - Em abril do ano 2000, como não podia deixar de ser, a comemoração dos 500 anos do Brasil foi a principal pauta. Noves foras o estranhamento de um país celebrar o seu "nascimento" na data errada (ou o Brasil não começa em 1822?), o fato é que a mídia – principalmente a impressa – cobriu razoavelmente bem o vexame.

Os brasileiros foram informados corretamente sobre o que aconteceu, das agressões aos índios e sem-terra ao inacreditável episódio da Nau Capitânia, passando ainda pelas estripulias do encarregado em organizar as festividades, o então ministro Rafael Greca. A Nau Capitânia, aquela réplica da caravela de Cabral, que, ao contrário da original, não conseguiu sequer navegar entre Salvador e Porto Seguro, acabou virando o símbolo do estilo tucano-pefelista de celebrar o glorioso passado do país.

Sobre a cobertura da mídia "não-impressa", destaque negativo apenas para a TV Globo, que omitiu a antipatia da população e as flechadas dos índios aos relógios "comemorativos" que a própria Globo instalou em todas as capitais.

MST: tratamento de sempre - Ao longo de todo o ano 2000, o MST freqüentou as primeiras páginas de jornais e revistas. O saldo final, como de hábito, não é bom. A imprensa – especialmente a revista semanal de maior circulação no país – tratou o movimento com mais parcialidade do que o "normal".

A edição de Veja que saiu com a capa "A tática da baderna" e trouxe, nas páginas internas, uma montagem fotográfica em que o líder do MST João Pedro Stédile aparecia travestido de James Bond, pistola em punho, é uma das peças mais ridículas do jornalismo brasileiro contemporâneo. Foi difícil, aliás, achar neste ano um número de Veja que não apresentasse alguma crítica ou ironia sobre os sem-terra.

Se o semanário da Abril, com o seu antiquado anticomunismo, deu o tom, a cobertura dos grandes jornais não ficou atrás. Em 2000, não faltaram editoriais alertando para o radicalismo do MST no jornal O Estado de S. Paulo, enquanto a Folha rasgou seu manual ao não informar seus leitores sobre as condições em que foram apuradas as denúncias de irregularidades envolvendo o movimento: o repórter havia visitado assentamentos utilizando um carro do Incra, órgão em permanente litígio com o MST...

Valor: cartelização da imprensa - Ainda no primeiro semestre, foi lançado um novo jornal de alcance nacional destinado ao público especializado em negócios – o Valor Econômico. Até aí, nada demais. O que surpreendeu a todos foi o fato de a nova publicação nascer de uma parceria entre os grupos Folha e Globo, velhos rivais.

Para muitos analistas, a parceria entre os dois gigantes significa o início da cartelização do segmento de mídia e antecipa um futuro a cada dia mais próximo. A abertura do mercado brasileiro para investimentos estrangeiros está em vias de acontecer, com a votação das mudanças no artigo 222 da Constituição Federal, que proíbe a participação de estrangeiros em empresas jornalísticas no Brasil.

Os empresários do setor, portanto, estariam se armando para enfrentar a pesada concorrência que certamente vai aportar no país assim que as portas forem abertas aos gringos. Nunca é demais lembrar que os grupos Folha e Abril já são sócios no provedor de internet Universo Online.

 

Na próxima semana, no terceiro artigo desta série, vamos lembrar as mortes de dois grandes jornalistas – Barbosa Lima Sobrinho e Aloysio Biondi–, comentar a cobertura do caso Pimenta Neves e analisar os 50 anos da TV brasileira. O último artigo da série é reservado à cobertura da imprensa sobre as eleições municipais e os casos de corrupção envolvendo o juiz Nicolau e seus comparsas.

Luiz Antonio C. C. Magalhães é editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br). Foi diretor-adjunto e editor deste Correio (1996-2000). Endereço eletrônico: laccm@ig.com.br

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