A mídia em 2000: um balanço
em quatro atos (3)

Por Luiz Antonio Magalhães
 

Na edição de número 227, tratamos nesta coluna de algumas coberturas da imprensa brasileira que marcaram o ano 2000. O lançamento do jornal Valor Econômico, o tratamento da mídia ao MST e a festa dos 500 anos foram os temas dominantes. Neste terceiro artigo da série, vamos lembrar o caso Pimenta Neves, que abalou as redações no ano passado, e algumas grandes perdas para o jornalismo brasileiro. Na próxima semana, assuntos mais quentes finalizam este balanço: a vitória do PT nas eleições e os 50 anos de manipulação da TV brasileira.

Perdas
No meio do ano, três mortes abalaram as redações. De Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, morto no dia 16 de julho, não há muito o que dizer: foram 103 anos de vida, o último artigo foi publicado dias antes de seu falecimento. Permanece entre nós o exemplo de caráter e a obra.

Com o desaparecimento do jornalista Aloysio Biondi, uma semana depois da morte do dr. Barbosa, o Brasil perdeu aquele que melhor sabia verter o jargão dos ministros econômicos para o português corrente, compreensível por qualquer cidadão. Ainda vai demorar muito para aparecer alguém com talento semelhante.

Pimenta Neves
No dia 20 de agosto, foi a vez do assassinato da jornalista Sandra Gomide por seu ex-namorado Antonio Marcos Pimenta Neves chocar a categoria. Os dois tiros que o então diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo desferiu deixaram as redações atônitas. No começo, a cobertura do caso foi confusa – percebia-se facilmente que os textos e imagens estavam sendo escolhidos a dedo por altos escalões dos vários órgãos de comunicação.

A Rede Globo, porém, resolveu que o caso merecia um tratamento, digamos assim, mais "hardcore" e foi logo iniciando o linchamento midiático do réu, utilizando, inclusive, expedientes eticamente condenáveis, como filmar às escondidas o depoimento do jornalista ao Ministério Público.

No fim das contas, Pimenta Neves continua preso, aguardando o seu julgamento. Seus advogados tentam postergar ao máximo a data do Tribunal do Júri, a fim de minimizar os efeitos do que consideram uma cobertura sensacionalista do evento.

Resta saber como a imprensa vai tratar o caso quando a data do julgamento se aproximar. Afinal, em países onde o Estado de Direito persiste, todos os seres humanos – Escadinhas, Lalaus, Batorés ou Pimentas – têm direito a um julgamento isento.

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