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Nesta edição, finalizamos a análise sobre o comportamento da imprensa brasileira no ano passado. Dois assuntos foram exaustivamente tratados pela mídia no segundo semestre de 2000 e merecem ser relembrados: as eleições municipais e os 50 anos da televisão no Brasil. Dois casos emblemáticos, como veremos a seguir. O PT cor-de-rosa e as eleições Sobre bastidores, articulações e intrigas entre as variadas forças políticas, muito pouco foi publicado. Sobre os programas dos partidos e candidatos, quase nada. O resultado do primeiro turno, com a inequívoca vitória das oposições, serviu para "chacoalhar" um pouco a pasmaceira. O problema foi que a chacoalhada teve efeitos deletérios. Em vez de cobrir melhor o segundo turno, levando ao público notícias de interesse, a grande imprensa assustada com o crescimento dos "vermelhos" resolveu agir de outra forma: uma parte entrou em campanha ostensiva contra os candidatos do PT e da esquerda em geral; outra parte preferiu minimizar o estrondoso fracasso da base governista nas urnas e criar o tal "PT cor-de-rosa", aquele que late mas não morde. E uns poucos ainda conseguiram a proeza de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A nova vitória da esquerda, agora no segundo turno, rendeu mais alguns quilos de notícias e comentários dos colunistas de plantão. Desta vez, ficou mais complicado driblar os fatos. Em qualquer análise fosse quantitativa (número de votos conquistados, número de cargos obtidos, crescimento eleitoral etc.) ou qualitativa (peso sócio-econômico das prefeituras que a esquerda conquistou, peso político das cidades etc.) , era preciso dizer que o desempenho da esquerda, e do PT em particular, havia sido espetacular. Não dava mais para minimizar. Assim, a grande imprensa foi forçada, muito a contragosto, a reconhecer que o PT ganhou. Mas como nada neste país é de graça, reforçou-se a idéia de que o PT não é mais aquele. Marta Suplicy foi transformada em musa da vez, com direito a capa da Veja. A "operação cor-de-rosa" só não foi mais bem sucedida porque, especialmente durante a campanha para o segundo turno, os candidatos da direita entraram em surto diante da derrota que se avizinhava e lançaram mão de expedientes típicos da guerra fria, apostando em um rançoso anticomunismo. Não colou. Pior: ficou difícil tachar o PT de "cor-de-rosa", uma vez que o povo votou nos candidatos acusados de serem vermelhíssimos. Tudo somado, a cobertura das eleições 2000 mostra que a esquerda não pode ter ilusões: a mídia brasileira vai jogar contra. Sempre. Surpreendente é um partido do porte do PT não dispor, até hoje, de um veículo de comunicação de massas para expor sua visão da realidade. 50 anos de TV: Globo enfim enfrentada A manipulação da Globo em torno da suposta censura à novela foi objeto desta coluna. Vale lembrar, apenas, que nada foi censurado. A novela continuou, em horário que a Justiça considerou adequado há lei para essas coisas e, se há lei, deve valer para todos, não só para os Ratinhos; e a emissora passou a ter de obedecer a um tal de ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente. Não, não é "entulho autoritário": é filho da jovem democracia brasileira, dos legítimos. Mas Vênus Platinada ainda é forte: conseguiu convencer meia dúzia de desavisados de esquerda. Essa gente ironia suprema chegou a lembrar os tempos da ditadura militar para... defender a Rede Globo de Televisão. Síndrome de Estocolmo às avessas, quem sabe. As voltas que o mundo dá: agora mesmo a Globo voltou a ser enfrentada. Desta vez, pelo deplorável deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), presidente eleito do Vasco da Gama, que mandou seu time a campo, em plena final de campeonato de transmissão exclusiva da emissora, com o logotipo do SBT estampado no uniforme. Mas isto já é assunto de 2001. Este balanço se encerra com um desejo, mais do que uma constatação: que 2000 tenha sido o ano em que a sociedade brasileira começou a enfrentar o poder Rede Globo de Televisão. Dê a sua opinião sobre este texto |
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