O Correio publica abaixo, a nota assinada pela Comissão Pastoral da
Terra, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Comissão de Justiça e Paz, Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil e Cáritas sobre o desfecho do julgamento dos policiais
envolvidos no massacre de Eldorado do Carajás.
Dois dias após o encerramento da última sessão do julgamento de
Eldorado do Carajás, os meios de comunicação local, nacional e internacional
apresentaram as idéias centrais de algumas entidades de Direitos Humanos ao nível
Nacional e Internacional indicando que o resultado do julgamento foi "a crônica de
uma frustração anunciada", como declarou o Paulo Sérgio Pinheiro, da Secretaria
Nacional de Direitos Humanos. A Anistia Internacional incisivamente também mostrou
indignação e preocupação com o Judiciário Paraense "O maior julgamento da
história do Brasil, totalizando 120 horas, em cinco sessões, mais uma vez expõe as
profundas falhas no sistema de justiça do estado do Pará", informou o comunicado da
Anistia Internacional.
Na verdade, o pronunciamento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos
e a nota da Anistia Internacional confirmaram o que o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Rede Nacional de Advogados
Populares (Renap) e Pastorais Sociais da CNBB Norte 2 já haviam anunciado antes mesmo do
início da primeira sessão do julgamento de Eldorado. "A justiça brasileira nunca
pune as autoridades que mandam e os executam crimes que violam os direitos humanos. A
condenação quando ocorre é apenas um arranjo feito para disfarçar a impunidade que é
assegurada pelo próprio estado, através do Judiciário".
Dos 142 policiais, entre soldados e oficiais, apenas duas condenações
que evidenciam uma ação simbólica e incoerente como afirmou a Anistia Internacional:
"As condenações agora parecem ser pouco mais que um gesto simbólico, dada a
inabilidade da investigação policial e do processo judicial em identificar
individualmente os responsáveis criminais pelas mortes a tiros e golpes de facão de 19
ativistas rurais". Mesmo a Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos do Pará,
que manteve a esperança de um julgamento isento e imparcial, teve que se retirar as
vésperas da última sessão, por somente neste momento se convencer da farsa anunciada.
Durante todas as sessões do julgamento ficou evidente a total
ausência da sociedade civil organizada. Mesmo quando foi aberto ao público em geral, por
ocasião da 4a. Sessão, a sociedade se manteve distante da sala do júri.
Membros de entidades de Direitos Humanos passaram pelo salão do júri apenas para
confirmar, em lócus, de um lado a nítida insegurança do juiz Roberto Moura na
condução do julgamento e de outro o vazio do plenário, ocupado apenas pela imprensa
local, que registrou o quanto a intolerância e a opulência do Tribunal de Justiça do
Estado (TJE) demonstrou a fragilidade do judiciário paraense para julgar crimes que
violam os direitos humanos.
Pedimos a todas as entidades de Direitos Humanos e de apoio à
organização e a luta dos trabalhadores rurais, enviarem carta de protesto ao Ministro da
Justiça e a presidente do Tribunal de Justiça do Pará pedindo a anulação do
julgamento e a imediata transferência dos crimes de direitos humanos para a esfera
federal. Este julgamento desnudou definitivamente a necessidade e a urgência da
aprovação da Lei que julgará os crimes de Direitos Humanos.
É preciso continuar firme na luta pela justiça no campo e contra a
impunidade reinante no estado do Pará e no Brasil e, a federalização dos crimes de
direitos humanos.
Belém, 14 de junho de 2002.
CPT Pará, MST Pará, CJP da CNBB e Cáritas.
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