Mogno (Swietenia macrophylla) ou mahogany, de uma
língua indígena da América do Norte, é uma árvore da família das Meliáceas que se
distribui desde a América Central até Mato Grosso e Goiás. É um dos gigantes da
floresta. Ocorre espalhado, em baixas densidades na mata alta ou formando canteiros em
baixís e barreiros, alagados à época das chuvas. Na Região Amazônica, são
encontrados nas matas abertas, das zonas de transição da floresta com ecossistemas
externos e mais secos. Sua madeira, de cor avermelhada, leve e facilmente trabalhável, é
das mais estimadas para mobiliário.
Segundo o professor Paulo Kageyama, da Escola Superior de Agricultura
"Luiz de Queiroz" (ESALQ), "o Mogno, nossa mais importante espécie
arbórea amazônica nobre para exportação, vem sendo explorada fora dos padrões de
sustentabilidade há muito tempo. A espécie é tida como em grande risco de extinção,
pois as leis que regem a sua exploração aqui no Brasil não têm funcionado. As
estatísticas de ocorrência da espécie e de total exportado indicam que a mesma estará
no fim se não fizermos algo. Um controle internacional efetivo seria a última chance de
continuarmos com o Mogno. Os Mahogany, seus parentes do mesmo gênero da América
Central e Caribe, já se foram".
O controle da exploração do mogno foi um dos temas de destaque da
12.ª conferência bianual entre os 160 países da Convenção sobre o Comércio de
Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (Cites), que aconteceu até o dia 15
deste mês em Santiago do Chile. A Cites se preocupa em estabelecer os limites que devem
nortear o comércio de espécies, a fim de protegê-las da extinção, classificando-as em
três níveis ou Apêndices, de acordo com as prioridades para a sua preservação. As
espécies do Apêndice I estão excluídas de qualquer tipo de comércio; aquelas do
Apêndice II podem ser comercializadas sob restrições impostas pela Cites e cujo
controle é de responsabilidade de todos os países membros do acordo. O comércio das
espécies do Apêndice III é monitorado apenas pelos países da Cites de ocorrência das
espécies em questão. Discutiu-se a passagem do mogno do Apêndice III para o Apêndice
II.
Apesar dos esforços da Nicarágua e Guatemala, tudo indicava que a
proposta seria rejeitada. Paulo Adário, do Greenpeace, que participou da
conferência em Santiago, observou que quem decidiria sobre o destino da proposta seria o
Brasil, porque vários países tendem a seguir o voto brasileiro. O governo brasileiro se
manifestou contra a inclusão do mogno no Apêndice II através de um documento
distribuído pela delegação brasileira na reunião.
Fernando Henrique Cardoso disse, em abril, que faria "de
tudo" para proteger o mogno, mas a posição do governo sempre foi ambígua em
relação a sua recomendação para a inclusão da espécie no Apêndice II. Foi dito que
a decisão seria tomada em conjunto com a equipe de transição. Uma semana depois das
eleições, a equipe de Lula foi pega de surpresa pela proposta de decisão conjunta
quanto ao mogno. O governo Fernando Henrique planejava se manter na defesa dos interesses
dos madeireiros e traficantes de madeira e, ainda, pegando o novo governo desprevenido,
dividir a culpa do absurdo. De última hora, antes que a equipe de transição pudesse se
manifestar, decidiu-se contra a maior proteção ao mogno. Voltaram atrás porque viram
que a manobra não daria certo.
A senadora Marina Silva (PT-AC) foi rápida em manifestar seu apoio à
maior proteção ao mogno, através da inclusão da espécie no Apêndice II. Visitou os
manifestantes do Greenpeace que faziam vigília sob um pé de mogno na Esplanada
dos Ministérios e confirmou que, da forma abusiva como é feita hoje a extração e o
contrabando, corremos o risco de perder nosso mogno.
Na reunião de quarta-feira, dia 13, a Cites aprovou a inclusão do
mogno no Apêndice II. Foram 68 votos a favor da inclusão e 30 contra.
...
Segundo a carta assinada por 140 instituições, entregue a Lula, em
apoio à nomeação da senadora Marina Silva para o ministério do Meio Ambiente, "entre
as pessoas que podem contribuir de forma ímpar para mobilizar as organizações da
sociedade civil, governos, empresários, pesquisadores e trabalhadores em prol de um pacto
pela sustentabilidade, destaca-se o nome da senadora Marina Silva.
Reconhecida liderança nacional e internacional na luta em defesa da
diversidade social e ambiental brasileira, Marina Silva vem desempenhando há muitos anos
um papel fundamental nos processos de construção de uma agenda de desenvolvimento
voltada para a melhoria da qualidade de vida, valorização da biodiversidade e
conservação dos recursos naturais. Sua atuação firme e dedicada fez da senadora uma
das poucas personalidades do campo sócio-ambiental de nosso país a contar com o apoio de
um amplo espectro de organizações da sociedade civil e da academia. A Senadora tem tido,
nos últimos 8 anos, o papel de catalisadora das capacidades e competências na área,
além de ter o respeito profundo de parlamentares de todos os partidos, tendo portanto
grande capacidade de articulação".
Marina, da linhagem de Chico Mendes, com quem aprendeu política,
cresceu nos seringais do Acre. Conhece a mata de fazer varação, que é entrar na
floresta, tomar um rumo e, mesmo sem a ajuda de trilhas, sair longe, bem onde se deseja.
Uma inteligência rara que só os índios e caboclos possuem.
Rodolfo Salm, doutorando em biologia pela Universidade East
Anglia (Inglaterra), é pesquisador do projeto Pinkaiti Aldeia AUkre.