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No conjunto dos que estão
perplexos com a conduta do governo Lula nestes cinco primeiros meses de
mandato, formaram-se dois subconjuntos: os que afirmam tratar-se de uma
“linha política sem volta”; e os que acreditam estar o governo “em disputa”:
pode pender para lá ou para cá, dependendo da evolução do quadro político e
do desempenho dos partidos e dos movimentos populares diante das reformas em
discussão no Congresso.
Os que
ainda têm esperança na “virada” receberam um alento importante nesta semana:
Lula propôs, na reunião de presidentes latino-americanos, realizada em Lima,
a integração de Cuba no sistema interamericano. (Imagine-se: Fidel Castro na
OEA!)
Antes de
mais nada, essa proposta, de resto justíssima, revela muita coragem,
sobretudo neste momento. Como todos sabem, os Estados Unidos, inebriados
pela rápida campanha militar do Iraque, estão patrocinando um plano de
“emigração descontrolada”, a fim de desestabilizar Cuba e criar um bom
pretexto para invadir a ilha. Reforçar Fidel Castro, na hora em que os
Estados Unidos se empenham ainda mais em debilitá-lo, obviamente, é um
desafio.
Não
bastasse isto, salta aos olhos a divergência profunda entre a diplomacia
brasileira e os negociadores norte-americanos da ALCA. O Brasil quer
ressuscitar o Mercosul, para que os países integrantes negociem em conjunto,
e não cada um separadamente, um eventual acordo comercial com os Estados
Unidos.
Isto é
tudo o que o governo Bush não quer ouvir. Por isso, já despachou Robert
Zoellick, o famoso “sub do sub”, para avisar que: “negociações diretas dos
Estados Unidos com o Mercosul ... nem pensar”.
Na mesma
semana, em Buenos Aires, na posse de Néstor Kirchner, como presidente da
Argentina, Lula propôs a formação de uma frente comum de países
subdesenvolvidos para combater as barreiras protecionistas dos países ricos.
Kirchner, no estilo do nosso Tancredo Neves, emendou na hora, com uma frase
emblemática: “Não se pode voltar a pagar a dívida externa às custas da fome
e da exclusão dos argentinos, gerando mais pobreza e exclusão social”.
A coerência manda agora que, ao gesto de independência da
política externa, se somem medidas de uma política econômica independente.
Isto significa, antes de mais nada, levantar a questão do pagamento da
dívida externa. Senão, as propostas que tanto animaram o subconjunto que
advoga a tese “governo em disputa” não
passarão de um “saludo a la bandera”.
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