D.
Demétrio Valentini
25 de julho é dia do motorista, e dia
do lavrador. A mesma festa, destacando duas profissões, mas envolvendo toda
a sociedade.
Pela incidência cotidiana,
as estradas acabam preocupando a todos, com os freqüentes acidentes, com os
buracos que aumentam, com a precariedade de sua manutenção. Invocar São
Cristóvão é apelar para a proteção de Deus e arregimentar forças para
enfrentar nossas rodovias com coragem e responsabilidade. Ser motorista se
tornou símbolo dos riscos que hoje espreitam a todos. Viver se tornou
perigoso.
Identificação ainda mais
profunda é simbolizada pela festa do lavrador, do agricultor, do colono. Não
importa o nome, a causa está ficando dramática e urgente. Trata-se da
importância vital que a agricultura representa para a sobrevivência da
humanidade, para a causa da própria civilização.
Dois movimentos,
coincidentes e convergentes, cumprem hoje a missão profética de apresentar
esta causa com a contundência que ela carrega: o MST e a Via Campesina.
O MST se cobre de méritos ao
valorizar a consciência dos lavradores, articular sua organização, motivar
sua ação pacífica e sua estratégia política, para urgir as providências
indispensáveis em vista de garantir que a terra seja colocada ao alcance de
quem nela quer trabalhar, para produzir os alimentos indispensáveis para o
consumo da população.
A Via Campesina abraça com
lucidez as grandes questões que afetam hoje a agricultura em nível mundial.
Há sérios problemas ligados a toda a trajetória das atividades agrícolas,
desde os agrotóxicos que ameaçam a salubridade dos alimentos, passando pelo
risco da manipulação e monopólio das sementes, pelos problemas da
comercialização que distorce os preços e desvirtua as finalidades das
colheitas, até os subsídios agrícolas, que desequilibram as condições
econômicas e chegam a inviabilizar a agricultura de alguns países.
Consciente da gravidade da
situação, a Via Campesina percebeu a validade, e a urgência, de estimular
parcerias e de ampliar o debate, para que estas questões sejam assumidas
pelo conjunto da sociedade com a atenção que merecem. Daí a importância de
identificar algumas causas que merecem nossa adesão imediata, e servem de
parâmetro para situar outros problemas.
Para dar-nos conta da
pertinência deste debate, vale a pena ressaltar o testemunho da história. As
grandes civilizações tiveram início quando os povos perceberam que era
possível cultivar a terra, para dela extrair o alimento indispensável, que
antes era procurado aleatoriamente pela caça e depredação da natureza. A
agricultura foi berço das civilizações. Ela continua sendo o seu
sustentáculo.
A sobrevivência de um povo
depende da solução que ele encontra para a sua agricultura. Daí o acerto da
tese da “soberania alimentar”, que a Via Campesina propugna com lucidez e
convicção. Cada país tem o direito de promover, soberanamente, a produção
dos alimentos que sua terra pode proporcionar, e garantir o atendimento das
necessidades alimentares de sua população.
Se um país perde sua
soberania alimentar, abdica da primeira condição de sua soberania política e
de sua identidade nacional, abrindo a porta para a dominação estrangeira,
disfarçada de “integração comercial”. Quando os “maias”, na Guatemala, já
não conseguem produzir o seu tradicional “maís”, começam a se sentir mais
ameaçados do que quando viram suas fronteiras invadidas e seus tesouros
roubados.
Outra causa fundamental da
Via Campesina é o reconhecimento das sementes como patrimônio da humanidade.
A lei precisa estar a serviço da vida. Não existe causa mais vital do que as
sementes, portadoras das raízes da vida.
Estas duas causas servem de
parâmetro para situar adequadamente outras questões. Se a aprovação dos
transgênicos significa a entrega do monopólio das sementes à Monsanto, fora
com eles! Se a ALCA significa a desestabilização de nossa agricultura, fora
com ela! Com a convicção dos exorcistas que ordenavam aos demônios “vade
retro, Satanás!”, erguendo o escudo do MST e da Via Campesina, também
dizemos: sai da frente, Monsanto; vá pra lá, ALCA dos diabos!
D. Demétrio Valentini,
Diocese de Jales,
www.diocesedejales.org.br
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