A escola do MST busca a justiça e a
CUT é “detonada”!
Waldemar Rossi
Tive a grata satisfação de participar, no dia 23 de
janeiro último, da inauguração da Escola Nacional Florestan Fernandes
- iniciativa e obra dos coordenadores nacionais e militantes do MST -
na cidade de Guararema, interior de São Paulo. Quanta coisa positiva
pôde constatar a multidão que ali se encontrava, assim como os
representantes de centenas de movimentos populares e de apoiadores
internacionais do MST – cujos nomes foram declarados publicamente,
numa demonstração clara de que não há nada escondido, como insiste em
pichar a imprensa à serviço da elite. Tudo muito claro, inclusive para
os “olheiros” do sistema. Trata-se de uma obra destinada a preparar
intelectualmente a militância desse e de outros movimentos,
capacitando-a técnica e politicamente para levar avante a luta pela
reforma agrária e pela justiça social. Feliz iniciativa, quando
governantes eleitos para tais mudanças insistem em sucatear, ainda
mais, o conjunto da educação pública, desde a escola fundamental até a
universitária, no afã de “reproduzir” meros manipuladores de produtos
das empresas capitalistas. É dentro desse quadro que a Escola Nacional
Florestan Fernandes surge como uma “luz no fundo do poço” para os
trabalhadores rurais e para o povo deste país, tão carente de
lideranças políticas sérias, éticas, politicamente bem preparadas e
comprometidas com a nação.
Entretanto, surpreendeu-me matéria publicada no dia 31/01 (página B2
da Folha), sobre o assunto. Seu autor: Luiz Carlos Bresser Pereira,
que já foi Ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e da Ciência e
Tecnologia. Para alguém que já assumiu tantos postos chaves em
governos conservadores, defender a iniciativa do MST ao inaugurar sua
universidade, revela coragem, lucidez, soa agradável aos ouvidos e
estimula os que vêm lutando por justiça.
Afirma Bresser Pereira, em determinado trecho de seu artigo: “Existe,
porém, mesmo entre os conservadores, a idéia de que o Brasil é
injusto, e talvez seja isso que os paralise. Porque não podem deixar
de admitir que a luta do MST é essencialmente uma luta pela justiça
social. Pela diminuição das desigualdades sociais existentes no país.
Pela possibilidade de oferecer a uma parte dos brasileiros que estão
mais radicalmente excluídos do modesto processo de desenvolvimento do
Brasil uma melhoria de suas condições de vida e de oportunidade de
realização pessoal”.
Mais adiante, ele afirma: “Podemos discordar dos seus métodos, mas não
podemos negar que lute por justiça. Que essa organização e em
particular os demais movimentos organizados de sem-terra são, na
prática, as únicas grandes instituições que lutam por mais justiça
neste Brasil”.
Ao finalizar seu comentário, Bresser faz análise importante que deve
estimular profunda reflexão a todos nós: “Dentro desse quadro, o MST é
uma força positiva importante. É um grande movimento político dos
pobres no Brasil. É um movimento que deixa a direita indignada, ou”
estarrecida”, como seus porta-vozes gostam de dizer, esquecendo que o
que é realmente merecedor de estarrecimento é a injustiça que aqui
impera”.
Enquanto isso, o presidente da CUT, Luiz Marinho, foi ruidosamente
vaiado pela multidão que lotava o Gigantinho, no Fórum Social Mundial.
Vaiado por gente de todas as correntes políticas, inclusive pela
militância do PT, em uníssono, durante todo o tempo em que insistiu em
usar da palavra. E isso, durante o evento de maior importância
política, o mais esperado do FSM, o mesmo ato em que falou, por
último, Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Luiz Marinho foi
rejeitado pela multidão dos que lutam por justiça e que esperavam da
CUT postura de solidariedade com a classe trabalhadora e de isenção
diante do governo. Se levarmos em conta que o próprio Lula foi
recebido com muitas vaias - apesar da claque montada pelo PT, que
chegou a barrar a entrada dos “indesejados” - temos que foi uma
demonstração inequívoca de rejeição, não somente às medidas do
governo, mas também à CUT pelo apoio incondicional que vem dando à
reformas neoliberais. Triste espetáculo para uma central sindical que
surgiu das lutas dos trabalhadores, que foi construída como
importantíssimo instrumento de lutas em defesa dos direitos
trabalhistas, da justiça social - daquela justiça de que falava
Bresser Pereira - e da solidariedade da classe. Triste espetáculo para
um presidente da central sindical - que foi indicado e praticamente
imposto no cargo pelo próprio presidente da República. Vaiado e
rejeitado pelo seu povo, diante de personalidades e da imprensa
internacional. Mais triste, porém, para os trabalhadores que vêem sua
central sendo cooptada pelo capital e em pleno processo de degeneração
política e ideológica.
De um lado, o MST, um movimento que luta com todas as suas forças para
que a justiça seja aqui implantada; do outro lado, a CUT, uma central
sindical que renuncia ao seu papel histórico, que abandona sua classe
e se alia aos exploradores!
Waldemar Rossi é metalúrgico
aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São
Paulo.
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