Correio da Cidadania

Como a Google quer dominar o setor da saúde

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Foto: Reprodução Outras Palavras

Os cinco gigantes ocidentais da tecnologia – todos com sede nos EUA – já estão gastando bilhões de dólares em iniciativas sobre o setor da saúde. A Amazon mantém uma imensa farmácia on-line e seus serviços de telemedicina alcançam praticamente todos os pontos dos EUA; o smartwatch da Apple acumula dados de milhões de usuários; a Meta (dona do Facebook, do Instagram e do Whatsapp) oferece diversão fitness através de óculos de realidade virtual. Apesar das múltiplas iniciativas, uma em especial chama a atenção pela sua ambição.

A Alphabet, holding dona da Google, adquiriu cerca de 100 empresas entre 2019 e 2021 na área de ciências vitais e saúde –, mostra reportagem da a The Economist. Está em quinto lugar no Nature Index, que mede o impacto de empresas em artigos científicos – atrás apenas de quatro gigantes farmacêuticas.

Os investimentos dividem-se em quatro focos principais: aparelhos que, usados junto ao corpo, transmitem informações (wearables), captura de dados sobre Saúde, inteligência artificial relacionada à atividade e, por fim, a ambição de estender a longevidade humana – para quem puder pagar os preços cobrados pela corporação, é claro. A Alphabet entrou no setor em 2019, com a aquisição da Fitbit – que produz aparelhos de monitoramento da saúde. Entre os produtos, está um sensor que aponta as mudanças na frequência cardíaca, em busca de irregularidades que podem levar a derrames e insuficiência cardíaca e que acaba de ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. Mas a empresa dá sinais de que quer produtos que influenciam a prática da medicina, e não apenas que sirvam para as horas de lazer.

Nesse sentido, os projetos de Inteligência Artificial– e de captura de dados – estão começando a produzir resultados para a Alphabet. A partir de 2016, a DeepMind, uma empresa britânica comprada pelo Google em 2014, usou dados do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido para criar ferramentas de diagnóstico – no caso, treinando um algoritmo para detectar doenças da retina.

Por fim, retardar (ou bloquear completamente) o processo de envelhecimento aparece como um dos projetos mais ambiciosos – e distópicos – da Alphabet. A ideia da corporação é que o envelhecimento não seja visto como um aspecto imutável da vida, mas como uma condição que pode ser manejada a partir de produtos desenvolvidos e vendidos por ela. A partir dessa premissa surgiu a Calico, outra subsidiária da Google, destinada a investigar doenças relacionadas à idade – e que já tem um acordo de 2,5 bilhões de dólares com a farmacêutica AbbVie. Outra subsidiária da Alphabet, a Verily, está trabalhando com a L’Oréal, uma gigante francesa da beleza, para entender melhor como o envelhecimento afeta a biologia da pele e criar novos produtos; além de trabalhar com cosméticos, a empresa oferece diagnósticos.

Especialistas já mostraram preocupação diante da expansão da Alphabet sobre a saúde. Na Europa, alguns governos proibiram a Fitbit de favorecer o sistema operacional da Google ou de usar dados do usuário para vender propagandas, além de advertir sobre as violações de privacidade – especialmente sensíveis por se tratar de informações médicas. Em maio foi aberta uma ação coletiva contra a DeepMind por uso indevido de dados de pacientes do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido; a empresa não se manifestou publicamente sobre o caso. Mas o caso da Alphabet comprova que o acesso indiscriminado a dados íntimos e vitais para o lucro de gigantes da tecnologia – em nome do desenvolvimento de tecnologias para a saúde – já é uma realidade.

Alessandra Monterastelli é jornalista e o artigo foi publicado originalmente no Outra Saúde em 27 de junho de 2022.

 

 

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