Correio da Cidadania

Chavismo vs. oposição: estratégias e expectativas para as eleições de 28 de julho

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Edmundo González e Maria Corina Machado em ato de campanha | Reprodução X

O cronograma às vésperas das eleições de 28 de julho na Venezuela para eleger o novo presidente da nação vem sendo cumprido conforme o estabelecido. No último dia 4 começaram formalmente as campanhas eleitorais com atividades de rua dos diferentes candidatos que disputam a presidência. Aqui fazemos uma primeira avaliação de como vai a campanha.

Análise dos principais blocos opositores

Além da euforia propagandística e das propostas demagógicas, vemos algumas características que estão definindo os dois principais blocos opositores: o chavismo, nucleado na candidatura de Nicolás Maduro, e uma parte da oposição que aposta em Edmundo González Urrutia. Nesta análise, avaliaremos as estratégias mais visíveis de cada grupo, deixando de lado as características inéditas destas eleições, já abordadas pelo analista William Serafino.

O chavismo

O chavismo se concentrou durante este último trimestre de 2024, especificamente nos primeiros dias de campanha, em fortalecer a estrutura organizativa do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) apresentada no esquema 1x10x7, que integra todas as estruturas que mantêm um diálogo direto com as comunidades, tais como UBCH (Unidades de Batalha Hugo Chávez), Claps (Comitês Locais de Alimentação e Produção), Chefes de rua etc.).

Esta estratégia pode estar respondendo às características inéditas que cercam estas eleições - o país atravessa nove anos ininterruptos de sanções e sobre o candidato à reeleição, pesa uma ordem de captura internacional -, o que exige o fortalecimento dos vínculos com o eleitorado no âmbito local.

O contato em escala comunitária, estratégia proposta por Nicolás Maduro ao apresentar o comando de campanha, exige mobilizar a comunicação em cinco níveis: na rua, nas redes sociais, nos meios tradicionais, nas paredes e por meio do “radiobemba” (boca a boca), com o objetivo de enfrentar a manipulação e a mentira.

O chavismo entendeu que garantir a vitória nas eleições de 28 de julho na Venezuela não se limita à mobilização, mas requer uma máquina eficiente, que funcione de forma sincronizada, auditável e comprovada, alinhada com as estratégias e linhas de ação de Maduro, e cuja base seja o diálogo com as pessoas.

Além disso, destaca-se as conquistas na gestão econômica do governo de Maduro, como o controle da inflação, que foi de 1% em junho e 8,86% no acumulado desde janeiro; o controle do câmbio, cuja variação dólar-bolívar foi de 1,56% entre janeiro e julho de 2024; e o crescimento contínuo da economia por doze trimestres seguidos.

Diferentemente da oferta opositora, o chavismo pode falar abertamente do programa de governo de seu candidato, centrado nas capacidades do país, sem recorrer às políticas neoliberais de privatização e redução do Estado propostas pela oposição.

A oposição que apoia Edmundo González Urrutia

Este setor da oposição concentrou seus esforços em impulsionar uma narrativa que considera inevitável seu triunfo dado o “avassalador” apoio popular de que desfruta. Neste sentido, procuraram blindar tal relato com uma operação midiática de pesquisas que o confirmam, acompanhada da convocação para concentrações em distintos lugares do país onde a iniciativa está sempre a cargo de María Corina Machado, o que acaba relegando o candidato e os partidos que o apoiam a um plano secundário.

Sobre as pesquisas, diversas vozes dentro do próprio ecossistema opositor fizeram vários apelos para que não se desse como garantida a vitória de Edmundo González só pelo fato de que os números o mostram como favorito. Indicam, ao contrário, como tarefa principal a de organizar a estrutura de defesa do voto opositor, área em que, certamente, mostram uma debilidade evidente.

Assim, Francisco Rodríguez considera que as pesquisas estariam superdimensionando o voto opositor, o que projetaria uma imagem distorcida das verdadeiras preferências eleitorais da população. Para Luis Vicente León, “a dinâmica eleitoral é muito mais complexa que os jingles de campanha que usam os comandos e candidatos”, e afirma que: "claro que um candidato preferido tem uma vantagem eleitoral e é evidente que pode ganhar. Este é o risco mais importante daqueles que buscam reter o poder. Mas pensar que isso é suficiente para garantir uma vitória é bastante superficial. Em qualquer eleição pode-se ganhar ou perder, independentemente dos níveis de popularidade dos atores em disputa. Se têm alguma dúvida, podem perguntar à senhora Le Pen, que foi de favorita na França ao terceiro lugar no resultado. Mas podem checar experiências como a de Ortega contra Chamorro na Nicarágua, Atanas Mockus na Colômbia ou a dos anti-Brexit na Inglaterra”.

Tais pontos de vista críticos ao triunfalismo opositor suscitaram uma série de ataques contra este par de analistas, que evidencia a intolerância exacerbada que percorre o sentimento de um setor opositor que, negando as possibilidades do candidato chavista, deixa entrever as pretensões de desconhecer os resultados se os desfavorecerem, e assim abrir de novo as comportas para uma espiral de violência já denunciada pelo governo nacional.

Para além das eleições de 28 de julho na Venezuela

O chavismo alavanca sua estratégia de potencializar a organização e a mobilização de sua base eleitoral às vésperas das eleições, o que não só lhe garantiria a vitória como também sua defesa ante as pretensões de desconhecimento que se perfilam já de forma explícita por parte de setores extremistas da oposição.

Na oposição, pelo contrário, parecem apostar no relato da inevitabilidade da vitória de Edmundo González em 28 de julho, o que gera um espelhismo que poderia justificar uma mobilização violenta de desconhecimento dos resultados a partir da frustração de alguns seguidores que, vendo tudo através das pesquisas apresentadas nas redes sociais, invisibilizam o chavismo como força política realmente existente e ignoram um país que está apostando na paz, na estabilidade e na recuperação econômica.

Não obstante, como previu o órgão eleitoral, o cronograma continua sendo cumprido segundo o estabelecido e na Venezuela teremos em 28 de julho de 2024 umas eleições presidenciais amplamente acompanhadas por diversos atores internacionais, robustas tecnologicamente e totalmente transparentes, para tranquilidade do eleitorado do país que vai para o evento eleitoral número 31 em um quarto de século.

Publicado originalmente em Misión Verdad, site criado e alimentado por diversos pesquisadores venezuelanos que se opõem aos bloqueios econômicos impostos ao país.

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